03/11/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Partindo da memória familiar e de material vindo da sua obra cinematográfica, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e do seu cinema, numa construção complexa que é conscientemente testamental, embora só diretamente autobiográfica. O motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efetivamente em 1909. Mas este tema familiar cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de
raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro ou da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a identidade de um país). Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de partir, e da interrogação de Portugal através da distância, assim como fala da morte, mas também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país. Como ‘Só este filme’, de Paulo Rocha, fabricou e nos devolveu o ritmo da expressão da nossa complexa existência.
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