Exposição

Exposição “As Comédias de Deus”

Fotografia: Jorge Alexandre Pereira, 2005

Exposição temporária
SEMPRE
A palavra, o sonho e a poesia na rua | uma instalação de Luciana Fina para os 50 anos do 25 de Abril

 

25 de Abril a 30 de Junho
segunda a sábado das 14h00 até ao final da última sessão do dia | Entrada livre

“No fundo era interessante que daqui a um ano a gente estivesse aqui a dizer que o que foi importante em 74 foi o cinema português”. Numa entrevista para o programa televisivo Cinema 74, em janeiro, expressando os desejos para o novo ano e idealizando as esperanças e o futuro do cinema português, Fernando Lopes prefigurava também a realidade que poucos meses depois viria a concretizar-se.
Com o 25 de Abril, muitos realizadores e documentaristas entram em campo para observar e participar na mudança do país. É graças a eles que nos ecrãs do cinema e da televisão começa a revelar-se tudo aquilo que vivia na constrição da invisibilidade e da censura. A interlocução com a população, as suas vidas, a cultura rural e operária assumem um papel central e formas diversas, oscilando entre um cinema de poesia, o cinema-direto ou de inspiração neorealista. No processo de construção da nova sociedade, com o espírito colaborativo das cooperativas de produção, ou ainda individualmente, torna-se imperativo intrometer-se na História, documentar, mas sobretudo pensar e formular ideias para a emancipação no campo da educação, da arte e da cultura, o trabalho, a emancipação da mulher, a descolonização, a reforma agrária, a habitação, o próprio cinema e os média.
Em 2024, decorridos 50 anos da Revolução dos Cravos e da entrevista de Fernando Lopes, é graças ao cinema, ao olhar e à poética destes cineastas, bem como dos radialistas e realizadores de televisão, que podemos entrar na trama dos sonhos e das perspetivas da revolução que libertou o país do fascismo. As imagens do passado olham para nós e pedem para comparecermos diante delas. Resgatar as imagens destes arquivos é também interrogar o cinema, os seus gestos e uma ideia de futuro. Voltar a ver não diz respeito ao passado, é uma exploração das possíveis deslocações entre o passado e o presente.
É no plano da arte combinatória da montagem, entendida aqui como uma maneira de produzir sentido através da combinação de elementos e tempos heterogéneos, que procuro a tensão de um cinema reflexivo e simultaneamente generativo, para que se abra o encontro entre o Outrora e o Agora.
O procedimento, próximo ao da memória, não é um retorno do idêntico, mas algo que restitui a possibilidade daquilo que foi. O que parece estar em causa é a possibilidade de tornar o acabado novamente inacabado, respigar a imagem suspensa, permitir ao que se passou de se reinventar, recolocando assim em campo a hipótese, ou o direito, em cheque hoje, de imaginar o futuro.
Escrevia Walter Benjamin em As Passagens de Paris: “Cada facto histórico apresentado dialeticamente se polariza e se torna um campo de forças onde se esvazia a querela entre a sua história anterior e a sua história ulterior. Ele torna-se este campo de forças quando a atualidade penetra nele.” Outrora e Agora, entre o passado e o presente poderá também acontecer uma ideia de futuro."
Luciana Fina
 
O percurso da instalação é articulado em três partes, em espaços distintos do edifício da Cinemateca, com respetivos subtítulos: A palavra dita, A palavra escrita e os sonhos na rua, O cravo na cidade.

 

abril de 2024