Rui Machado, Nuno Sena
   
Mensagem da Direção

 

Desde 16 de agosto de 2024 que existe uma nova direção da Cinemateca nomeada pelo Ministério da Cultura. 
A escolha recaiu em duas pessoas com uma longa história na instituição (com uma duração acumulada de quase 50 anos de ligação profissional à Cinemateca, com importantes cargos de direção pelo meio), sinalizando esta preferência uma linha de continuidade relevante para a manutenção e valorização do importante legado deixado por todos os seus antecessores.
Passados 10 anos desde que foi divulgado publicamente pela anterior direção o documento estratégico “A Cinemateca em Contexto de Mudança”, a nova direção afirma a intenção de manter este documento como uma referência de atuação da sua política, considerando que algumas das opções estratégicas e linhas de atividade ali preconizadas encontram-se em curso e tendo também em conta que o contexto aí descrito se mantém bastante atual. 
Porém, esta nova direção fará também uma análise conjuntural, procurando averiguar quais os aspetos que, nos 10 anos que passaram, merecem novo enquadramento, com os consequentes reajustes de rumo. 
Continuaremos a assumir como posição de princípio da Cinemateca a defesa de uma consentaneidade tecnológica - segundo a qual as obras cinematográficas nascidas no período histórico do cinema analógico devem, tanto quanto possível, ser conservadas e exibidas através da tecnologia analógica original. Do mesmo modo, relativamente ao cinema digital, continuaremos a trabalhar para a criação de condições adequadas e sustentáveis para a edificação de uma infraestrutura e de uma cadeia museográfica digital. 
Este princípio, sendo uma orientação estratégica, não se pode transformar em dogma, sob pena de limitar e muito a atividade do organismo, principalmente ao nível da exibição, quando a divulgação de muitos clássicos do cinema do século passado só nos é acessível através de cópias digitais. 
De entre as várias frentes da atividade da Cinemateca, aqui enumeramos as seguintes linhas de orientação que serão centrais no mandato desta direção: 
•  Continuar o plano de digitalização do cinema português, indo para além da conclusão em 2025 da medida financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, apostando, ao mesmo tempo, na difusão cultural de forma ainda mais ativa (reforçando o papel da Cinemateca Portuguesa enquanto parceiro natural de programação para muitas entidades nacionais e estrangeiras que desejam apresentar cinema português); 
•  Paralelamente, reforçar a vertente analógica da sua atuação, mantendo o foco em toda a infraestrutura necessária para a conservação, preservação e exibição do cinema originalmente produzido e/ou exibido em película, com particular atenção ao laboratório do departamento ANIM, procurando criar uma estabilidade na sua equipa, até agora não conseguida, e às condições de projeção nas nossas salas de cinema, reforçando nesta área os contactos através da rede internacional de cinematecas e arquivos fílmicos, permitido pelo posicionamento internacional da Cinemateca, tanto ao nível da Federação Internacional de Arquivos Fílmicos (FIAF), como da Associação das Cinematecas Europeias (ACE); 
•  Continuar a assumir a atividade de programação como uma das vertentes centrais e identitárias do organismo, uma programação abrangente no que diz respeito à História do Cinema, português e internacional, atenta ao cânone dessa história e, ao mesmo tempo, capaz de contribuir para o seu permanente questionamento e alargamento; 
•  Apostar na vertente de iniciação ao cinema e na oferta de exibição às camadas mais jovens, através da atividade da Cinemateca Júnior, na parceria com outros operadores nacionais e internacionais, com vista a garantir uma maior oferta; e também através da participação ativa no Plano Nacional de Cinema e noutros projetos educativos nacionais e internacionais. 
•  Incentivar o crescimento e enriquecimento das coleções biblio-iconográficas relativas ao cinema que englobam fundos diversificados, abrangendo documentação de todas as épocas e tipologias, procurando, por um lado, aumentar o conhecimento sobre esta coleção e, por outro, garantir a sua consulta e acesso públicos;
•  Na sequência do reforço da sua atividade editorial nos anos mais recentes, continuar uma intensa política editorial centrada no cinema português (mas não reduzida a ele), com a edição de monografias de autor, temáticas e edições em formato “home video”. 
•  Criar condições para finalmente lançar o terceiro polo da Cinemateca, pensado e ansiado pelas suas anteriores direções. O “Museu de Cinema” que se juntaria, assim, aos dois polos já existentes: o da exibição (mesmo sabendo que exibir cinema de património é já cumprir de alguma forma uma das missões de um museu de cinema) e o da conservação, com o centro de conservação ANIM.
•  Por fim, por forma a conseguir dotar da melhor maneira os meios e recursos necessários para garantir estas e outras linhas de ação, procurar adequar sempre o organismo à realidade concreta existente nos dias hoje, do ponto de vista, estrutural, orgânico e financeiro.
 
Rui Machado
Nuno Sena

novembro de 2024