CICLO
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella


Pere Portabella, nascido em 1929  em Figueres (Catalunha), é um dos maiores cineastas espanhóis em atividade, embora o grosso da sua obra ainda seja, para o público português, um “segredo”, visto que nenhum dos seus filmes foi comercialmente distribuído no nosso país, e a sua divulgação se limitou a projeções na Cinemateca ou em festivais. Ativo como realizador desde os anos 60, com um passado de militância anti-franquista (“chave” pela qual devem ser lidos alguns dos seus filmes, como o díptico “de vampiros” CUADECUC e UMBRACLE, subtis “projeções” da figura de Franco) e profundamente envolvido na política na era democrática (foi deputado no parlamento catalão), a sua obra, sempre seguindo caminhos inesperados e voando sobre as fronteiras tradicionais do documentário e da ficção, toca diversos temas – da política (INFORME GENERAL, reflexão sobre a situação de Espanha na época da transição depois da morte de Franco) à cultura catalã (as suas curtas sobre Miró, entre outras), passando por questões mais “universais” (como DIE STILLE VOR BACH, fascinante reflexão sobre a música de Bach e o seu simbolismo “civilizacional”). Como produtor, foi responsável por essa “bomba” que marcou o regresso episódico de Buñuel a Espanha e causou um grande embaraço ao estado franquista (falamos de VIRIDIANA e subsequente “escândalo”), mas também pelo impulso dado ao arranque das obras de Carlos Saura e Marco Ferreri.
Pere Portabella estará em Lisboa para acompanhar os últimos dia do ciclo e participar num debate com os espectadores da Cinemateca, momento em que estará igualmente presente Esteve Riambau, diretor da Cinemateca da Catalunha. Para além da obra de Portabella, o ciclo contempla uma “carta branca”, integrando um conjunto de filmes escolhidos por ele. Entre eles conta-se, naturalmente, VIRIDIANA. À exceção de UMBRACLE, CUADECUC, VAMPIR, DIE STILLE VOR BACH, os filmes de Portabella são primeiras exibições na Cinemateca.
 
 
20/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella

Hellzapoppin
Parada de Malucos
de H.C. Potter
Estados Unidos, 1941 - 84 min
 
20/03/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella

La Tempesta | Pont de Varsóvia
duração total da sessão: 90 min
21/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella

Aidez l’Espagne | Miró l’Altre | No Compteu Amb Als Dits | Nocturno 29
duração total da sessão: 128 min
22/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella

Playback | Accío Santos | Cuadecuc, Vampir
duração total da sessão: 95 min
22/03/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella

Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
Dinamarca, 1955 - 125 min
20/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella
Hellzapoppin
Parada de Malucos
de H.C. Potter
com Chic Johnson, Ole Olsen, Martha Raye, Mischa Auer, Hugh Herbert, Elisha Cook Jr.
Estados Unidos, 1941 - 84 min
legendado electronicamente em português | M/12

Uma das obras-primas do burlesco “non-sense” de Hollywood. O seu ponto de partida é um popular espetáculo da Broadway que Chic Johnson e Ole Olsen, um par de comediantes da Broadway da época, transpõem para o cinema. O filme gira à volta dessa mesma transposição, pois é o próprio cinema o alvo da maioria dos gags, onde se encontram já referências a CITIZEN KANE e a personagens do filme “negro”.

20/03/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella
La Tempesta | Pont de Varsóvia
duração total da sessão: 90 min

LA TEMPESTA

de Pere Portabella

Espanha, 2003 - 6 min

PONT DE VARSÓVIA

de Pere Portabella

com Paco Guijar, Jordi Dauder, Carme Elías

Espanha, 1989 - 84 min

legendados electronicamente em português | M/12


1989 foi um ano crucial para as grandes transformações europeias do final do século XX, e marcado pelo inexcedível simbolismo do derrube do Muro de Berlim. Pere Portabella, que não filmava uma longa-metragem desde INFORME GENERAL, em meados dos anos 70, concebeu PONT DE VARSÓVIA (o filme leva o título, “Ponte de Varsóvia”, do romance premiado de uma das suas personagens, um escritor) como uma radiografia da Europa naquele momento, com uma estrutura dividida entre o apontamento ficcional e o registo documental, e o retrato dos “novos intelectuais” e das classes políticas “cada vez mais amnésicas”, segundo o próprio Portabella. Motivado pelos mesmos acontecimentos, Godard estrearia pouco tempo depois o seu ALLEMAGNE NEUF ZÉRO, filme que Portabella considera “irmão” deste. A abrir a sessão, uma curta-metragem “experimental” com música de Gioachino Rossini.

21/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella
Aidez l’Espagne | Miró l’Altre | No Compteu Amb Als Dits | Nocturno 29
duração total da sessão: 128 min

AIDEZ L’ESPAGNE

de Pere Portabella

Espanha, 1969 - 5 min

MIRÓ L’ALTRE

de Pere Portabella

Espanha, 1969 - 15 min

NO COMPTEU AMB ALS DITS

“Não Contem com os Dedos”

de Pere Portabella

com Mario Cabré, Natacha Gounkewitch, Willy Van Rooy

Espanha, 1967 - 28 min

NOCTURNO 29

de Pere Portabella

com Lucía Bosé, Mario Cabré, Antoni Tàpies

Espanha, 1968 - 78 min

legendados electronicamente em português | M/12


Os dois primeiros filmes de Pere Portabella, realizados no regresso do exílio a que se vira forçado depois do “escândalo VIRIDIANA”, e feitos numa altura em que a Catalunha, especialmente Barcelona, vivia um momento especialmente intenso em termos de produção cinematográfica independente ou mesmo “underground”. Sob a epígrafe “vencido mas não derrotado” com que principia o primeiro filme, e umbilicalmente ligados (há uma rima entre o último plano de NO COMPTEU AMB ALS DITS e o primeiro de NOCTURNO 29), os dois títulos compõem um panorama, mais “poético” o primeiro mais “narrativo” o segundo, da paralisia e opressão da burguesia catalã nesses anos finais do franquismo – Bergman e Antonioni são cineastas habitualmente evocados a propósito destes filmes, sobretudo do segundo, que é o único filme de Pere Portabella a contar com uma grande vedeta do cinema espanhol, Lucía Bosé. A abrir a sessão, os primeiros dos vários filmes do realizador sobre Joan Miró, realizados para uma exposição da obra do pintor organizada em Barcelona em 1969.

22/03/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella
Playback | Accío Santos | Cuadecuc, Vampir
duração total da sessão: 95 min

PLAYBACK

de Pere Portabella

Espanha, 1970 - 8 min

ACCÍO SANTOS

de Pere Portabella

Espanha, 1973 - 12 min

CUADECUC, VAMPIR

de Pere Portabella

com Christopher Lee, Herbert Lom, Soledad Miranda, Jesús Franco, Klaus Kinski

Espanha, 1970 - 75 min /

legendados electronicamente em português | M/12


Sem diálogos, CUADECUC, VAMPIR (cuadecuc significa “rabo de minhoca” em catalão) foi feito durante a rodagem de EL CONDE DRÁCULA, de Jesús Franco, que acompanha do começo ao fim. Mas longe de ser um documentário tradicional ou o que hoje se chamaria um “making of”, trata-se de uma reflexão do cinema sobre o cinema, com a particularidade de ter como ponto de partida uma obra de cinema popular e não uma peça erudita. Caso singularíssimo de filme “roubado” à rodagem de outro, CUADECUC evoca as tradições “vampíricas” do cinema (Murnau ou Dreyer) e é uma espécie de “film à clef”: Portabella pretendia que na figura do Conde Drácula se visse o Generalíssimo Franco. E devia ver-se mesmo, porque a censura proibiu imediatamente a circulação do filme, que não se voltou a ver em sessões públicas até depois da morte do ditador. A abrir a sessão, duas curtas-metragens realizadas na mesma época do par de “filmes de vampiros” de Portabella (CUADECUC e UMBRACLE), abertamente experimentais em especial no que toca a questões de reprodução e representação sonora, e onde a música tem papel de destaque (Wagner em PLAYBACK, Chopin em ACCÍO SANTOS).

22/03/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Questões de Interesse Geral para Projecções Públicas: O Cinema de Pere Portabella
Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
com Henrik Malberg, Emil Hass, Preben Lendorff Rye
Dinamarca, 1955 - 125 min
legendado electronicamente em português | M/12

ORDET é, talvez, a obra cinematográfica que melhor põe em cena a questão da fé, construída inteiramente à volta da interrogação: A palavra (Ordet) pode chegar até Deus e Este responder-lhe? O crente, como Dreyer, diz que sim e ORDET (o filme) é a sua expressão. Sobre este filme, José Régio escreveu que era “uma apologia da fé levada ao extremo limite.”