CICLO
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau


Retrospetiva integral dedicada ao cinema de Jean-Claude Rousseau que conta com a sua presença e inclui uma "carta branca". A segunda quinzena de novembro é assim ocasião para ver e discutir o singularíssimo cinema de Rousseau, de quem já mostrámos anteriormente os belíssimos KEEP IN TOUCH, LES ANTIQUITÉS DE ROME e LA VALLÉE CLOSE, mas cujos restantes filmes são inéditos na Cinemateca.
Maioritariamente constituídos por longos planos fixos, que evidenciam a passagem do tempo e da duração, os filmes de Jean-Claude Rousseau resultam de um longo e rigoroso trabalho solitário. Se os mais recentes têm sido realizados em vídeo, nas suas primeiras obras o suporte original é o Super 8mm, o que lhes confere características únicas ao condicionar a forma final de filmes em que cada bobine corresponde a um bloco espácio-temporal. Ao "montá-las" Rousseau respeita a sua integridade, preservando as pontas que as separam, sustentando que não pratica montagem, mas apenas ordenação. O cineasta recusa assim o “raccord” em favor do "accord": "Há montagem quando se procura, há acordo quando se encontra". Este é assim o princípio de base do seu cinema, que estenderá a todo o trabalho posterior em vídeo, pois, independentemente do suporte, o cinema de Rousseau permanece, na sua essência, o mesmo. Sem argumento predefinido, os filmes estruturam-se em plena rodagem, num processo de permanente descoberta. A estas características soma-se um cuidadoso trabalho em torno das relações entre o som e a imagem, uma forte relação afetiva com os locais filmados (dado que é uma obra ancorada na autorrepresentação), e a extrema importância atribuída ao enquadramento e às linhas que enformam uma imagem, composições rigorosas que norteiam longos planos fixos que permitem que o mundo se manifeste no seu interior. Como Rousseau já escrevia no texto de apresentação do seu primeiro filme, "Conservar os planos como são, não procurar modificá-los através do jogo da montagem. Deixar que os elementos encontrem o seu lugar. Esperar que se ajustem ganhando luz. A beleza não aparece onde a procuramos". Investindo numa observação atenta da realidade, Rousseau faz assim parte de uma rara família de cineastas, entre os quais encontramos também Jean-Marie Straub, que filmam a presença das coisas e trabalham o plano como zona de intensidades – intensidade de movimento, de tempo, de cor e de luz –, num cinema profundamente materialista que toca de perto a matéria e a experiência sensível do mundo, conservando parte do seu mistério.
 

Jean-Claude Rosseau acompanha o programa na Cinemateca, apresentando as sessões dos seus filmes e alguns dos filmes das suas escolhas. O Encontro com o realizador é de entrada livre mediante o levantamento de ingressos na bilheteira.

 

 

 
18/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau

Presents
de Michael Snow
Canadá, 1980-81 - 90 min
 
19/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau

Les Antiquités de Rome
de Jean-Claude Rousseau
França, 1989 - 105 min
20/11/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau

Curtas-Metragens de Jean-Claude Rousseau 1
duração total da projeção: 67 minutos | M/12
20/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau

Kohayagawa-Ke no Aki
“Fim de Verão” / “O Outono da Família Kohayagawa”
de Yasujiro Ozu
Japão, 1961 - 98 min
21/11/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau

Trois Fois Rien
de Jean-Claude Rousseau
França, 2006 - 78 min
18/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau
Presents
de Michael Snow
Canadá, 1980-81 - 90 min
sem legendas | M/12

Um dos mais celebrados filmes de Michael Snow, apresentado como uma "investigação material sobre o movimento da câmara". PRESENTS divide-se em três partes: na primeira, é o cenário que se move; na segunda, é a câmara que se move, literalmente destruindo, nesse processo, o cenário; na terceira, montagem de mais de 2000 planos de coisas tão distintas como o Coliseu de Roma ou igloos de esquimós, "a câmara ziguezagueia sobre linhas de força e campos de visão em movimento, numa aproximação ao olhar da natureza" (Philip Monk).

19/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau
Les Antiquités de Rome
de Jean-Claude Rousseau
França, 1989 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12

LES ANTIQUITEÉS DE ROME revela como cada lugar, cada quarto, cada monumento tem a sua própria geografia. Um trabalho poético sobre a duração, cuja intensidade é ampliada e ameaçada pelo seu suporte de origem, o S8 (entretanto transposto para 16mm). LES ANTIQUITEÉS DE ROME prolonga assim o trabalho iniciado com as primeiras curtas-metragens do cineasta, onde a noção de quadro e de geometria, mas também as suas vivências quotidianas, se revelam como uma componente essencial. “Estruturando-se em sete partes o filme procurará dar conta das várias geografias (ou geometrias) da cidade de Roma, onde as variações luminosas desempenham um papel primordial (…) Rousseau move-se aqui muitas vezes na fronteira do percetível, revelando visões fantasmagóricas, cujo mistério é acentuado pelo próprio suporte. Nenhuma sequência ilustra melhor esta situação que o enigmático quadrado negro do Fórum de Trajano, de cujas trevas emerge o cineasta” (Joana Ascensão).

20/11/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau
Curtas-Metragens de Jean-Claude Rousseau 1
duração total da projeção: 67 minutos | M/12
sessão apresentada por Jean-Claude Rousseau

VEDUTA
França, 2010 – 2 min / sem diálogos
JUSTE AVANT L'ORAGE
França, 2003 – 17 min / sem diálogos
EAUX PROFONDES
França, 2012 – 2 min / sem diálogos
NUIT BLANCHE
França, 2011 – 2 min / legendado eletronicamente em português
SOUS UN CIEL CHANGEANT
França, 2013 – 12 min / legendado eletronicamente em português
PASSION
França, 2015 – 7 min / sem diálogos
L'AIR D'ÊTRE LÀ
França, 2013 – 1 min / legendado eletronicamente em português
UNE VUE SUR L'AUTRE RIVE
França, 2005 – 24 min / sem diálogos
de Jean-Claude Rousseau

Um conjunto de curtas-metragens realizadas entre 2005 e 2015 que, sendo já filmadas em vídeo, conservam grande parte das qualidades do cinema feito em película por Rousseau e que retratam diferentes lugares e situações, trabalhando as relações entre espaço e tempo. VEDUTA, termo italiano para "vista" é uma representação "realista" de uma paisagem e, neste caso, um plano sobre a cidade de Florença. EAUX PROFONDES aponta para a solidão de um peixe no interior de um aquário. Em NUIT BLANCHE ouvimos uma das "bagatelas" de Beethoven que se acorda com o ritmo de um cavalo, provocando aproximações imprevistas. Em UNE VUE SUR L'AUTRE RIVE, o filme mais longo da sessão, também se acusa a passagem do tempo no interior de um quadro fixo. Já em L'AIR D'ÊTRE LÀ, Rousseau cita A Educação Sentimental de Flaubert, “Assim deslizavam os dias, repetindo-se as mesmas experiências fastidiosas…”. Filmes de diferentes durações, que assumem a própria forma de "bagatelas", peças curtas, simultaneamente ligeiras e intensas.
 

20/11/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau
Kohayagawa-Ke no Aki
“Fim de Verão” / “O Outono da Família Kohayagawa”
de Yasujiro Ozu
com Ganjiro Nakamura, Setsuko Hara, Yoko Tsukasa, Chieko Naniwa
Japão, 1961 - 98 min
legendado em francês e eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Jean-Claude Rousseau

O título deste filme, o penúltimo do mestre japonês, significa literalmente “O Outono da Família Kohayagawa”, mas é normalmente conhecido pela tradução literal do título comercial francês: “Fim de Verão”. Como de costume, nesta fase final, Ozu tece variações sobre um tema único: a família japonesa e a sua dissolução, neste caso um pequeno industrial de Osaka, que encontra uma antiga amante em cuja casa vem a morrer. Realizado com o absoluto rigor formal que caracteriza o cinema de Ozu na maturidade (planos fixos, câmara baixa) e em esplêndidas cores, KOHAYAGAWA-KE NO AKI é um filme sobre o adeus à vida. Mas um adeus alegre e despreocupado.

21/11/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Realizador Convidado | Jean-Claude Rousseau
Trois Fois Rien
de Jean-Claude Rousseau
França, 2006 - 78 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Jean-Claude Rousseau

TROIS FOIS RIEN é um tríptico formado por FAIBLES AMUSEMENTS, CONTRETEMPS, e COMME UNE OMBRE LÉGÈRE. Um filme feito de marcações de encontros e desencontros, de pequenos nadas que significam muito e que conferem às imagens, a uma história, e aos seus espaços, conotações trágicas. O terceiro e último capítulo é uma homenagem discreta a Robert Bresson em que Jean-Claude Rousseau e um jovem amigo são fiéis a si próprios. A espera amorosa, a paisagem, o espírito dos lugares e a sua transfiguração pelo cinema, são mais uma vez os motivos do cineasta.