Enquanto decorria a Revolução de abril de 1974, Ventura, o protagonista cabo-verdiano de JUVENTUDE EM MARCHA, deambulava pelas ruas de Lisboa. Este é um episódio central de um filme que volta a organizar-se em torno de Ventura e da sua história, mas é na coalescência de tempos diferentes, e através de um passado interrompido pelo próprio curso do presente, que se constrói CAVALO DINHEIRO, trabalho fragmentado, que tira partido dos mecanismos pouco lineares da memória e que revisita os fantasmas de Ventura e dos seus companheiros, que são também os espectros de um país. A sua apurada mise en scène e o forte investimento no trabalho de composição fotográfica confluem na construção de uma atmosfera densa, que evoca muitas das referências cinematográficas de Pedro Costa. A abri-lo, uma magnífica série de fotografias de Jacob Riis, o autor de How the Other Half Lives, que no final do século XIX denunciou as péssimas condições de vida nos bairros mais pobres de Nova Iorque.