CICLO
Alain Resnais


Alain Resnais (1922-2014) foi uma das personalidades mais marcantes da sua geração no cinema mundial, mas a sua obra apresenta grandes oscilações estéticas, a tal ponto que os filmes do seu abundante período final, quase todos derivados do teatro de boulevard, pouco se parecem aos que fez nos seus começos, que eram extremamente ambiciosos do ponto de vista artístico e intelectual. Resnais dependia muito dos argumentistas com quem colaborava e se no início da sua obra trabalhou com Marguerite Duras (HIROSHIMA MON AMOUR) e Alain Robbe-Grillet (L’ANNÉE DERNIÈRE À MARIENBAD), foram depois seus colaboradores Jean Cayrol (MURIEL OU LE TEMPS D’UN RETOUR), Jorge Semprun, Jacques Sternberg, Jean Gruault, Sylvette Baudrot ou Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri. Foi também particularmente fiel a uma trupe de atores de que podem citar-se Delphyne Seyrig, Claude Rich, Gérard Depardieu, Sabine Azéma, André Dussollier e Pierre Arditi. Resnais foi uma personalidade independente, que nunca pertenceu à Nouvelle Vague, embora também se posicionasse contra o cinema francês académico dos anos cinquenta. As curtas-metragens que realizou nos anos cinquenta, como LE CHANT DU STYRÈNE, em que uma matéria sintética é descrita em versos de Raymond Queneau ou NUIT ET BROUILLARD, o mais célebre filme sobre os campos de extermínio nazis, teriam bastado para garantir a permanência do seu nome na História do cinema. Se nos anos cinquenta e sessenta, o seu cinema foi equiparado ao mais ambicioso cinema de autor europeu da época, o de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, mais tarde adquiriu colorações políticas (LA GUERRE EST FINIE; um episódio de LOIN DU VIETNAM), antes de se fixar na presença do teatro no cinema, na representação. A sua obra é marcada por recorrências, a preocupação com a memória, o gosto pela literatura popular e a banda desenhada, o teatro, a pintura e a canção, um modo musical de encarar a estrutura dos seus filmes, um registo que integra cruzamentos e um certo pendor surrealista.
Embora incompleta, a retrospetiva que propomos aborda filmes de diversos períodos da obra de Resnais, e inclui os seus últimos filmes, a apresentar em ante-estreia, passando pelos mais emblemáticos títulos de início dos anos sessenta. A Cinemateca dedicou uma primeira retrospetiva à obra de Alain Resnais em 1981, voltou a ela em 1992 (“Alain Resnais: Toda a Memória”), altura em que foi publicado um catálogo sobre o cineasta, e tem mostrado regularmente os seus filmes. Os espectadores da Cinemateca poderão assim ver, rever, avaliar ou reavaliar o trabalho de uma das personalidades mais marcantes do cinema.
 

 
14/10/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Alain Resnais

NO SMOKING
Não Fumar
de Alain Resnais
França, 1993 - 146 min
 
15/10/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Alain Resnais

PROVIDENCE
Providence
de Alain Resnais
França, Suíça, 1977 - 110 min
16/10/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Alain Resnais

MON ONCLE D’AMÉRIQUE
O Meu Tio da América
de Alain Resnais
França, 1980 - 120 min
16/10/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Alain Resnais

COEURS
Corações
de Alain Resnais
França, 2006 - 125 min
16/10/2014, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Alain Resnais

GHARE BAIRE
A Casa e o Mundo
de Satyajit Ray
Índia, 1983 - 140 min
14/10/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Alain Resnais

No âmbito da 15ª Festa do Cinema Francês, organizada pela Embaixada de França, o Institut Français du Portugal e a Alliance Française
NO SMOKING
Não Fumar
de Alain Resnais
com Sabine Azéma, Pierre Arditi
França, 1993 - 146 min
legendado em português | M/12

Mais do que um par, NO SMOKING é uma incursão numa espécie de universo paralelo de SMOKING, onde os acidentes mais ou menos cómicos entre os vários pares adquirem uma faceta melancólica e algo trágica. O percurso é contado na mesma grelha de “alternativas” vista em SMOKING, mas destaca-se por subtis alterações narrativas.

15/10/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Alain Resnais

No âmbito da 15ª Festa do Cinema Francês, organizada pela Embaixada de França, o Institut Français du Portugal e a Alliance Française
PROVIDENCE
Providence
de Alain Resnais
com John Gielgud, Dirk Bogarde, Ellen Burstyn
França, Suíça, 1977 - 110 min
versão francesa, legendada eletronicamente em português | M/12

Três anos depois de STAVISKY, Alain Resnais conta-nos a história de um velho romancista inglês que decide escrever um livro baseado em personagens da sua família. Cada qual parece pior do que o outro, mas serão mesmo assim ou será isto fruto da má vontade do escritor? O filme é composto como um puzzle, um pouco à maneira de CITIZEN KANE. Como de costume, Resnais arma “um grande jogo do imaginário”, numa das suas obras mais complexas e, paradoxalmente, mais transparentes, como observou Manuel Cintra Ferreira.

16/10/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Alain Resnais

No âmbito da 15ª Festa do Cinema Francês, organizada pela Embaixada de França, o Institut Français du Portugal e a Alliance Française
MON ONCLE D’AMÉRIQUE
O Meu Tio da América
de Alain Resnais
com Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Nelly Borgeaud, Pierre Arditi, Marie Dubois
França, 1980 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/12

Neste seu filme, primeiro de cinco realizados nos anos oitenta, Resnais procede ao que se pode chamar uma análise do comportamento humano, a partir das teses do professor Henri Laborit (que no filme interpreta o seu próprio papel) desenvolvidas com o estudo do comportamento animal em laboratório, e que determina que ele se rege por pulsões inconscientes. As diversas personagens do filme são, de certo modo, ilustrações dessa ideia. Polémico e atacado pelo didatismo e como veículo de teses reacionárias, MON ONCLE D’AMÉRIQUE constrói-se na confluência de vários níveis e linhas de ação dramática, estruturado em atos a partir de materiais e inspirações diversas. Foi um considerável êxito comercial na carreira de Resnais.

16/10/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Alain Resnais

No âmbito da 15ª Festa do Cinema Francês, organizada pela Embaixada de França, o Institut Français du Portugal e a Alliance Française
COEURS
Corações
de Alain Resnais
com Sabine Azéma, Pierre Arditi, André Dussollier, Lambert Wilson, Laura Morante
França, 2006 - 125 min
legendado em português | M/12

Adaptação de uma peça teatral do dramaturgo inglês Alan Ayckbourn, o mesmo do díptico SMOKING / NO SMOKING. Numa Paris debaixo de um intenso nevão, várias personagens, todas elas um pouco “perdidas”, vão-se cruzando e descruzando, aproximando e afastando, numa estrutura narrativa onde o acaso e as coincidências têm um papel decisivo. Os atores são a habitual trupe de Resnais, em estado de graça, e os décors (praticamente só interiores) são a “outra” personagem de COEURS. Um bairro que é um não-lugar.

16/10/2014, 22h00 | Sala Luís de Pina
Alain Resnais

No âmbito da 15ª Festa do Cinema Francês, organizada pela Embaixada de França, o Institut Français du Portugal e a Alliance Française
GHARE BAIRE
A Casa e o Mundo
de Satyajit Ray
com Soumitra Chatterjee, Victor Bannerjee, Swatilekha Chatterjee, Gopa Aich
Índia, 1983 - 140 min
legendado em português | M/12

Sem ser exatamente um remake de CHARULATA (1964), este filme segue uma trama narrativa muito próxima daquela obra-prima. A CASA E O MUNDO é uma obra de uma complexidade magnífica sobre a História. Na vacilação entre o antigo e o novo, entre o fluxo vital da revolta e a imobilidade da casta, Ray desnuda totalmente os debates modernos: a necessidade individual contra o destino coletivo, o terrorismo. Cruelmente, tudo se inverterá: “Aquele que não acredita na História vai imolar-se aos seus pés, enquanto o profissional da política escapa como uma enguia. E, como sempre, o pincel de Ray concentra-se num magnífico retrato de mulher” (Jacques Fieschi).