CICLO
A Cinemateca com o IndieLisboa


A Cinemateca volta a associar-se ao IndieLisboa, este ano na sua décima edição, dando a ver o programa de homenagem ao realizador e artista visual irlandês Patrick Jolley (1964-2012), e uma série de dez sessões programadas no contexto da secção do festival Director’s Cut (concebida como de apresentação de títulos redescobertos, restaurados ou que refletem a história do cinema), fazendo rimar os retratos documentais centrados em Lon Chaney, Harry Dean Stanton e Ben Gazzara – atores –, Jean-Louis Comolli – crítico e cineasta – e Peter Kubelka – cineasta, programador, teórico – com filmes que estes protagonizam, em que participam ou realizaram. Assim, A MESSANGER FROM THE SHADOWS, por Norbert Pfaffenbichler, tributo a Lon Chaney, é ocasião para voltar a THE UNKNOWN de Tod Browning; HARRY DEAN STANTON: PARTLY FICTION, de Sophie Huber, é antecedido da projeção de PARIS, TEXAS de Wenders; o filme de Joseph Rezwin com Ben Gazzara – GAZZARA – convida à revisitação de THEY ALL LAUGHED de Bogdanovich; a propósito do retrato de Jean-Louis Comolli por Ginette Lavigne – JEAN LOUIS COMOLLI, FILMER POUR VOIR! – propõe-se um célebre Godard dos anos sessenta em que este participou como ator – LES CARABINIERS; o “épico documental” de Martina Kudlácek com Peter Kubelka, FRAGMENTS OF KUBELKA, propõe por sua vez a projeção da singular obra do próprio Kubelka, de alcance verdadeiramente único na história do cinema e uma das mais raras destas sessões. É ainda mostrado na Cinemateca O ASSASSINO NO TELHADO de Bo Widerberg, motivo do retrato de Martin Widerberg EVERYONE IS OLDER THAN I AM, a exibir pelo IndieLisboa noutra sala. Em três destas sessões, são exibidas três curtas-metragens de Joana Rodrigues, que integram um projeto autodesignado de narrativa experimental, intitulado “Trailers de Não Filmes”.
Patrick Jolley, cuja obra o IndieLisboa foi acompanhando ao longo das suas edições, distinguiu-se como um dos grandes artistas visuais irlandeses do seu tempo, compondo, como realizador, uma obra formada por duas longas-metragens – SUGAR e THE DOOR AJAR – e treze títulos de curta-metragem, de assinalável coerência formal e um universo distinguível pela primazia da imagem, a rarefação do texto, o seu espírito viajante, a noção da suspensão do tempo. Com formação em belas artes e fotografia, prática como artista visual e fotógrafo, Jolley intuiu na fotografia o interesse que o levaria ao cinema: “O que sempre me interessou na fotografia foi o sentido da [temporalidade] ou a representação do tempo suspenso”. Foi durante uma estadia em Nova Iorque, e ao lado de americano Reynold Reynolds que Jolley se iniciou no cinema, em Super 8 (SEVEN DAYS ‘TIL SUNDAY, 1998, distinguido no Festival de Cinema de Cork). Em 2005, a primeira longa-metragem, também coassinada com Reynolds (e Samara Golden), SUGAR foi descrita nas páginas do The New York Times como “uma lancinante noite escura da alma”.
No texto de Miguel Valverde publicado no catálogo do IndieLisboa – “O Que Cai” –, o seu trabalho é caracterizado pela gravidade e a associação aos quatro elementos: “Gravidade enquanto força fundamental em que os objetos com massa exercem atração uns pelo outros, conferindo-lhes força. É isso que acontece quando em FALL cai toda uma série de objetos, desde mobiliário a pianos e casas ou na sua primeira obra SEVEN DAYS ‘TIL SUNDAY, em que pessoas caem de edifícios em Nova Iorque e sob olhar da cidade. Gravidade enquanto qualidade do que é sério, aquilo que não brinca nem ironiza, aquilo que mostra a realidade no que ela tem de mais grave. (…) Gravidade também enquanto circunstância perigosa. Não é à toa que em SOG o sangue explode pelas paredes ou que em BURN tudo é queimado, que em THE DROWNING ROOM tudo se transforma num líquido que abafa e inunda ou que em SNAKES as cobras tomem o lugar do homem. Jolley era ainda uma mente atormentada pelos quatro elementos naturais: Fogo, Água, Ar e Terra. Se o fogo e a água estão em muitos dos seus filmes como personagens ou como ações que desencadeiam reações dos personagens, o ar é quase sempre rarefeito (…) como acontece na longa-metragem SUGAR (…). Já sobre a terra e a influência que recebe dos outros elementos é visível em THIS MONKEY…, onde o humano se funde com o macaco, ou na sua segunda longa-metragem THE DOOR AJAR, onde se explora o universo do poeta Antonin Artaud.”
Os filmes de Patrick Jolley, os documentários das sessões Director’s Cut, O ASSASSINO NO TELHADO de Widerberg e parte dos filmes programados de Peter Kubelka são primeiras exibições na Cinemateca. A fonte das citações das notas das sessões Patrick Jolley é o Patrick Jolley Estate.
 

 
23/04/2013, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Cinemateca com o IndieLisboa

Fall | The Door Ajar
duração total da sessão: 95 min
 
24/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o IndieLisboa

Natureza Morta – Trailer de não Filme | A Messenger From The Shadows (Notes On Film 06 A/Monologue 01)
duração total da sessão: 63 minutos
24/04/2013, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o IndieLisboa

Programa Peter Kubelka
duração total da sessão: 68 min
26/04/2013, 15h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o IndieLisboa

Les Carabiniers
Os Carabineiros
de Jean-Luc Godard
França, Itália, 1963 - 80 min
26/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o IndieLisboa

Pai Nosso – Trailer de não Filme | Jean Louis Comolli, Filmer pour Voir!
duração total da sessão: 113
23/04/2013, 22h00 | Sala Luís de Pina
A Cinemateca com o IndieLisboa

Em Colaboração com o IndieLisboa’13
Fall | The Door Ajar
duração total da sessão: 95 min
Patrick Jolley

FALL
de Patrick Jolley
Irlanda, 2008 – 11 min / sem diálogos
THE DOOR AJAR
de Patrick Jolley
Irlanda, 2011 – 84 min / falado em inglês, legendado eletronicamente em português

FALL é um filme “onde o tédio destila a sua própria rêverie”, “a lógica [das] deslocações faz com que as coisas andem à deriva. Casinhas afundam-se e ardem. A mobília desfaz-se num parque de estacionamento vazio. Acontecimentos de destruição em pequena escala. Patéticos e no entanto momentaneamente catárticos.” A longa-metragem THE DOOR AJAR utiliza textos originais do poeta francês Antonin Artaud, chegado em agosto de 1937 à Irlanda onde foi preso seis semanas mais tarde. O filme “usa um conjunto de escritos de Artaud como estrutura de um possível relato desse tempo perdido”.
 

24/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o IndieLisboa

Em Colaboração com o IndieLisboa’13
Natureza Morta – Trailer de não Filme | A Messenger From The Shadows (Notes On Film 06 A/Monologue 01)
duração total da sessão: 63 minutos
Director’s Cut

com a presença de Joana Rodrigues

NATUREZA MORTA – TRAILER DE NÃO FILME
de Joana Rodrigues
Portugal, 2012 – 3 min
A MESSENGER FROM THE SHADOWS (NOTES ON FILM 06 A/MONOLOGUE 01)
de Norbert Pfaffenbichler
Áustria, 2013 – 60 min / legendado eletronicamente em português

Tributo a Lon Chaney (1883-1930), icónico ator do mudo conhecido como “o homem das mil caras”, a partir de imagens de quarenta e seis dos mais de duzentos títulos da obra firmada entre os anos dez e trinta do século XX, de que foi um dos mais versáteis protagonistas. A sua associação com Tod Browning, que o dirigiu em dez filmes, realizados entre 1919 (THE WICKED DARLING) e 1929 (WHERE EAST IS EAST), é um dos grandes casos da história do cinema, marcado por filmes tão fundamentais como OUTSIDE THE LAW ou THE UNKNOWN. Como intérprete de terror, Lon Chaney é indissociável de THE HUNCHBACK OF NOTRE DAME (Wallace Worsley, 1923) ou THE PHANTOM OF THE OPERA (Rupert Julian, 1925), e é não menos inesquecível em HE WHO GETS SLAPPED de Sjöström (1924). “Quis lembrar as pessoas que os mais baixos tipos da humanidade podem ter no seu íntimo a capacidade para o autosacrifício supremo”, escreveu Chaney num artigo autobiográfico publicado em 1925 na Movie Magazine. A abrir a sessão, NATUREZA MORTA, curta-metragem do projeto de narrativa experimental de Joana Rodrigues intitulado “Trailers de Não Filmes”.
 

24/04/2013, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o IndieLisboa

Em Colaboração com o IndieLisboa’13
Programa Peter Kubelka
duração total da sessão: 68 min
O Director’s Cut em Contexto

METAPHORIC FILMS
MOSAIK IM VERTRAUEN
Áustria, 1955 – 16 min / versão original sem legendas
UNSERE AFRIKAREISE
Áustria, 1966 – 13 min / versão original sem legendas
PAUSE!
Áustria, 1977 – 12 min / sem diálogos
DICHTUNG UND WAHRHEIT
Áustria, 2003 – 13 min / sem diálogos
METRICAL FILMS
ADEBAR
Áustria, 1957 – 1 min / sem diálogos
SCHWECHATER
Áustria, 1958 – 1 min / sem diálogos
ARNULF RAINER
Áustria, 1960 – 6 min / sem diálogos
ANTIPHON
Áustria, 2012 – 6 min / sem diálogos
de Peter Kubelka

A rara e rigorosa obra cinematográfica de Peter Kubelka é, até à data, composta por oito filmes e cerca de uma hora de duração, realizados entre 1955 e 2012, que experimentam e demonstram as possibilidades do cinema e que apresentamos num alinhamento indicado pelo autor: os “Filmes Metafóricos” exploram os modos como o sentido pode ser construído pela justaposição de imagens e sons: MOSAIK IM VERTRAUEN é o primeiro filme de Kubelka, evocando momentos de namoro e separação contra uma série de excertos visuais contrastes; UNSERE AFRIKAREISE pode ser descrito como uma singular evocação do colonialismo alemão em África; PAUSE! é “em si mesmo um capítulo da arte moderna”, nas palavras de Jonas Mekas; DICHTUNG UND WAHRHEIT, uma footage-fantasy. Nos “Filmes Métricos” – ADEBAR, pensado para publicitar um bar vienense e composto pela repetição de uma cena de dança de silhuetas; SCHWECHATER, concebido como um spot publicitário para uma marca de cervejas numa montagem no limite da abstração; ARNULF RAINER, em homenagem ao amigo, patrocinador e pintor homónimo – os elementos individuais são dispostos na relação que mantêm com os outros e com o seu conjunto resultando numa experiência visual rítmica que articula o seu postulado de que “o cinema não é movimento”. ANTIPHON, o seu mais recente filme e parte do seu novo trabalho MONUMENTAL FILM (2012), é intitulado a partir de um termo usado na música coral de igreja e apresentado assim pelo próprio Kubelka: “ANTIPHON é constituído pelos mesmos quatro elementos básicos do cinema, como no meu filme ARNULF RAINER mas tem a forma inversa. O negativo torna-se positivo, o positivo torna-se negativo, o silêncio torna-se som, o som torna-se silêncio”. Peter Kubelka começou a apresentar os seus filmes também como esculturas tridimensionais logo em 1958, estando de momento a trabalhar o projeto MONUMENTAL FILM. Para além de rara, a projeção em sala da sua obra é uma muito peculiar experiência.
 

26/04/2013, 15h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o IndieLisboa

Em Colaboração com o IndieLisboa’13
Les Carabiniers
Os Carabineiros
de Jean-Luc Godard
com Marino Mase, Albert Juross, Geneviève Golée, Catherine Ribeiro, Jean-Louis Comolli
França, Itália, 1963 - 80 min
legendado em português
O Director’s Cut em Contexto

LES CARABINIERS, filme com argumento de Jean Gruault e Rossellini a partir de uma peça homónima de Benjamino Joppolo é, segundo as palavras de Godard, também ele “uma fábula, um apólogo em que o realismo apenas serve para vir em auxílio do imaginário” e um filme “sujo e estúpido”, porque o seu tema é sujo e estúpido: a guerra. Numa região não identificada (qualquer lado ou lado nenhum) dois camponeses brutais são mobilizados, dedicando-se à morte e à pilhagem, e o saque será uma coleção de bilhetes-postais. Uma alegoria genial, a começar pelos nomes das personagens – Ulisses e Miguel Ângelo, Vénus e Cleópatra –, onde as conquistas da guerra coincidem com as do cinema: as imagens. Atente-se à famosa cena em que Miguel Ângelo se dirige para a mulher que observa no ecrã.

26/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o IndieLisboa

Em Colaboração com o IndieLisboa’13
Pai Nosso – Trailer de não Filme | Jean Louis Comolli, Filmer pour Voir!
duração total da sessão: 113
Director’s Cut

com a presença de Joana Rodrigues, e Ginette Lavigne, a confirmar

PAI NOSSO – TRAILER DE NÃO FILME
de Joana Rodrigues
Portugal, 2013 – 3 min
JEAN LOUIS COMOLLI, FILMER POUR VOIR!
de Ginette Lavigne
França, 2013 – 110 min / legendado eletronicamente em português

O filme de Ginette Lavigne retrata Jean-Louis Comolli no espaço interior de um estúdio de cinema, confrontando-o com excertos dos seus próprios filmes. Crítico e cineasta, Comolli foi crítico e chefe de redação dos Cahiers du Cinéma entre meados dos anos sessenta e setenta, afirmando-se como um importante teórico do cinema com a publicação de ensaios como “Técnica e Ideologia”, “Cinema/Ideologia/Crítica” ou “Young Mr. Lincoln”. Entre os seus livros contam-se Free Jazz / Black Power (com Philippe Carles, 1971), Arrêt sur Histoire (com Jacques Rancière, 1997), Les Années Pop: Cinéma et Politique, 1956-1970 (com Gérard Leblanc e Jean Narboni, 2001), Voir et Pouvoir (2004), Cinéma Contre Spectacle (2009), Corps et Cadre (2012). Ator (por exemplo em ALPHAVILLE e LES CARABINIERS de Godard; LA CARRIÈRE DE SUZANNE de Rohmer), realizou uma série de filmes para cinema e televisão ao longo das últimas quatro décadas. O primeiro (correalizado com André S. Labarthe em 1968) foi LES DEUX MARSEILLAISES, e o mais recente (de 2011, coescrito com Ginette Lavigne), À VOIR ABSOLUMENT: 1963-1973 DIX ANNÉES AUX CAHIERS DU CINÉMA. A abrir a sessão, PAI NOSSO, curta-metragem do projeto de narrativa experimental de Joana Rodrigues intitulado “Trailers de Não Filmes”.