CICLO
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras


Chegamos ao fim deste Ciclo iniciado em novembro, com algumas dessas sessões em segundas passagens, quatro filmes particularmente marginais e um de Glauber Rocha, em que ele é inegavelmente influenciado por este cinema de que foi inimigo. Como observou o crítico Inácio Araújo, num texto que sintetizamos: “Os filmes deste ciclo não caracterizam um estilo, nem uma corrente. Eles são, no entanto, um documento amplo sobre uma época e um estado de espírito. Estávamos no coração da ditadura. Entrávamos numa noite tenebrosa, da qual não se vislumbrava a saída Era uma situação bastante contraditória para quem aprendera a acreditar no Cinema Novo e havia feito na cabeça uma mistura de Freud com Marx, Nietszche e Artaud, irmãos Campos e Oswald de Andrade. Havia toda uma moral se transformando e a gente ia se transformando com ela, com paus e pedras, mas lá ia. Será que é desse choque que nasce esse cinema ‘underground’, ‘marginal’ ou ‘de invenção’ ou o nome que se queira dar? Pode ser. Algum tempo antes, Rogério Sganzerla, premonitoriamente, lembrava com o seu BANDIDO DA LUZ VERMELHA que não podia fazer nada, avacalhava. Mas avacalhava com jeito. Este cinema não veio para explicar, talvez tenha vindo para confundir. Deleitava-se em construir um país secreto – às vezes abjeto, não raro cheio de humor – que parecia nascer daquelas imagens e estabelecer elos que permitiam às pessoas manter-se à tona no meio da borrasca”. Salvo os títulos já exibidos em novembro e à exceção do filme de Glauber Rocha, tratam-se de primeiras exibições na Cinemateca.

 
21/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Os Monstros de Babaloo
de Elyseu Visconti
Brasil, 1970 - 120 min
 
26/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Olho Por Olho | Bang Bang
duração total da sessão: 113 min
27/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Perdidos e Malditos
de Geraldo Veloso
Brasil, 1970 - 90 min
28/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Venha Doce Morte | Desesperato
duração total da sessão: 94 min
28/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Filmes de Carlos Reichenbach e de Jairo Ferreira
duração total da sessão: 100 min
21/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Os Monstros de Babaloo
de Elyseu Visconti
com Wilza Carla, Zezé Macedo, Helena Ignez
Brasil, 1970 - 120 min

O realizador, que passou do cinema underground ao documentário, não é parente de Luchino mas Visconti é realmente o seu apelido. Rodado quase inteiramente num casarão no Rio de Janeiro e no seu jardim, o filme reúne uma série de personagens grotescas, com atores vindos do cinema popular e do teatro experimental. Para alguns críticos, é “uma metáfora da ávida e inculta classe média que imperou no tempo do chamado ‘milagre brasileiro’”.

26/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Olho Por Olho | Bang Bang
duração total da sessão: 113 min

OLHO POR OLHO
com Daniele Gaudin, Fábio Sigolo, Francisco Arruda
BANG BANG
com Paulo César Pereio, Abraaão Farc, Ezequiel Marques
de Andrea Tonacci
Brasil, 1966 e 1971 – 20 e 93 min

Nascido em Itália e criado em São Paulo, Andrea Tonacci realizou alguns filmes extremamente originais e inteligentes, que absorvem de forma pessoal as formas da Nouvelle Vague e do underground americano. OLHO POR OLHO sintetiza esta dupla filiação, numa ficção que acompanha personagens de grande violência e irracionalidade. Mais lúdico, BANG BANG mostra-nos um homem que percorre São Paulo às voltas com acontecimentos que escapam ao seu controle. Quando um jornalista perguntou, à época, ao realizador qual era o sentido deste último filme, ele respondeu: “É sentar na cadeira e curtir”.
 

27/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Perdidos e Malditos
de Geraldo Veloso
com Paulo Villaça, Maria Esmeralda, Dina Sfat
Brasil, 1970 - 90 min

PERDIDOS E MALDITOS é a primeira longa-metragem de Geraldo Veloso, que foi o montador assíduo do trio de mais conhecidos realizadores do “cinema marginal brasileiro”: Júlio Bressane, Rogério Sganzerla e Neville Duarte d’Almeida. Seguindo um ténue fio narrativo, os personagens experimentam o amor livre, drogas, feitiçaria… “No plano formal, a lógica do filme é a dilatação do tempo. Dominado quase exclusivamente por planos longos, PERDIDOS E MALDITOS faz do tempo a matéria-prima para denotar tanto o ócio quotidiano como a indefinição dos personagens: perdidos e malditos” (Ruy Gardnier).

28/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Venha Doce Morte | Desesperato
duração total da sessão: 94 min

VENHA DOCE MORTE
Brasil, 1967 – 9 min
DESESPERATO
com Marisa Urban, Ítalo Rossi, Norma Bengell
de Sérgio Bernardes Filho
Brasil, 1968 – 85 min

Filho de um grande arquiteto e ele próprio arquiteto de formação, Sérgio Bernardes Filho assinou apenas cinco filmes. Realizado no agitado ano de 1968 e incorporando imagens de manifestações políticas no Rio de Janeiro naquele período, DESESPERATO tem uma narrativa linear: trata-se da história de um escritor abastado, que vive com uma mulher mais nova e não consegue perceber muito bem o mundo que o cerca. A abrir a sessão, a curta-metragem de estreia do realizador, um documentário realizado num lar de idosos no Rio de Janeiro.
 

28/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Filmes de Carlos Reichenbach e de Jairo Ferreira
duração total da sessão: 100 min

ESSA RUA TÃO AUGUSTA
O M DA MINHA MÃO
SANGUE CORSÁRIO
SONHOS DE VIDA
de Carlos Reichenbach
O INSIGNE FICANTE
de Jairo Ferreira
com Jairo Ferreira, Inácio Araújo, Júlio Bressane
Brasil, 1966-69, 1979, 1979, 1979, 1978-80 – 11, 9, 10, 10 e 60 min

Um programa que reúne duas personalidades que foram muito próximas, um “fazedor” e um pensador. A começar, quatro curtas-metragens de Carlos Reichenbach, para quem “a curta é o grande espaço de experimentação no cinema, não é apenas um cartão de visitas, ou um exame de passagem para a longa-metragem”. A fechar a sessão, O INSIGNE FICANTE, originalmente feito em Super-8mm, em que Jairo Ferreira discute com amigos, em conversas e cartas, o conceito de invenção segundo Ezra Pond, de quem era grande admirador.