CICLO
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras


Chegamos ao fim deste Ciclo iniciado em novembro, com algumas dessas sessões em segundas passagens, quatro filmes particularmente marginais e um de Glauber Rocha, em que ele é inegavelmente influenciado por este cinema de que foi inimigo. Como observou o crítico Inácio Araújo, num texto que sintetizamos: “Os filmes deste ciclo não caracterizam um estilo, nem uma corrente. Eles são, no entanto, um documento amplo sobre uma época e um estado de espírito. Estávamos no coração da ditadura. Entrávamos numa noite tenebrosa, da qual não se vislumbrava a saída Era uma situação bastante contraditória para quem aprendera a acreditar no Cinema Novo e havia feito na cabeça uma mistura de Freud com Marx, Nietszche e Artaud, irmãos Campos e Oswald de Andrade. Havia toda uma moral se transformando e a gente ia se transformando com ela, com paus e pedras, mas lá ia. Será que é desse choque que nasce esse cinema ‘underground’, ‘marginal’ ou ‘de invenção’ ou o nome que se queira dar? Pode ser. Algum tempo antes, Rogério Sganzerla, premonitoriamente, lembrava com o seu BANDIDO DA LUZ VERMELHA que não podia fazer nada, avacalhava. Mas avacalhava com jeito. Este cinema não veio para explicar, talvez tenha vindo para confundir. Deleitava-se em construir um país secreto – às vezes abjeto, não raro cheio de humor – que parecia nascer daquelas imagens e estabelecer elos que permitiam às pessoas manter-se à tona no meio da borrasca”. Salvo os títulos já exibidos em novembro e à exceção do filme de Glauber Rocha, tratam-se de primeiras exibições na Cinemateca.

 
03/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

O Homem do Corpo Fechado
de Schubert Magalhães
Brasil, 1972 - 91 min
 
03/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Lilian M: Relatório Confidencial
de Carlos Reichenbach
Brasil, 1974/75 - 120 min
04/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Câncer
de Glauber Rocha
Brasil, Cuba, 1968/72 - 86 min
04/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Hitler 3º Mundo
de José Agrippino de Paula
Brasil, 1968 - 90 min
05/12/2012, 19h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Sagrada Família
de Sylvio Lanna
Brasil, 1970 - 85 min
03/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
O Homem do Corpo Fechado
de Schubert Magalhães
com Roberto Bonfim, Esther Mellinger, Milton Ribeiro
Brasil, 1972 - 91 min

Embora não pertença estritamente ao cinema marginal brasileiro, movimento urbano e cosmopolita do Rio de Janeiro e São Paulo, O HOMEM DO CORPO FECHADO foi feito com um esquema de produção semelhante. Realizado na região de Minas Gerais, o filme vira-se para Guimarães Rosa e o universo mítico dos seus livros. O crítico V. Hugo explica que “o conflito fundamental foi buscado no quotidiano da região, mas solucionado à maneira dinâmica do western, com muitas cavalgadas, lutas corporais e duelos, tendo por fundo a geografia inóspita e o horizonte imenso”.

03/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Lilian M: Relatório Confidencial
de Carlos Reichenbach
com Célia Olga Benvenutti, Benjamin Cattan, Sérgio Hingst
Brasil, 1974/75 - 120 min

Ultracinéfilo, autor de uma obra abundante, Carlos Reichenbach só foi reconhecido pela crítica em meados dos anos oitenta. Muito diferente do cinema underground e das suas mitologias, com alguma semelhança com os filmes do primeiro período de Fassbinder, LILIAN M: RELATÓRIO CONFIDENCIAL é um filme surpreendente, realizado com grande subtileza. Uma mulher rememora a sua vida: nascida no campo, abandona o marido e os filhos por um caixeiro-viajante, instala-se em São Paulo, onde tem diversos amantes e clientes, e volta depois à família.

04/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Câncer
de Glauber Rocha
com Odete Lara, Hugo Carvana, Antonio Pitanga, Hélio Oiticica
Brasil, Cuba, 1968/72 - 86 min

Rodado em 1968 no Rio de Janeiro, este filme só foi montado quatro anos mais tarde, em Havana. Foi em grande parte improvisado e uma das suas razões de ser foi a vontade do realizador de praticar o som direto, que nunca utilizara, tendo em vista a rodagem já prevista de ANTONIO DAS MORTES. Sem narrativa linear, composto por cenas esparsas e monólogos brilhantes e sarcásticos, CÂNCER assinala uma inegável aproximação de Glauber Rocha ao cinema underground brasileiro, do qual em breve se tornaria inimigo mortal.

04/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Hitler 3º Mundo
de José Agrippino de Paula
com Jô Soares, José Ramalho, Ruth Escobar
Brasil, 1968 - 90 min

Um dos filmes mais desvairados e “marginais” deste Ciclo, filmado na clandestinidade em 16mm e nunca distribuído comercialmente. “Obra para o futuro, visionária, cujas imagens, vistas hoje, são de uma atualidade aterrorizante”, na opinião de Vítor Ângelo, que acrescenta: “A cada projeção, estas imagens (um samurai que comete hara-kiri, um barco que não sai do lugar, com uma espécie de Cristo no comando) parecem revelar novas informações sobre a humanidade filmada por Zé Agrippino”. A título de curiosidade: num dos papéis principais, Jô Soares, hoje célebre apresentador de um programa de entrevistas na televisão

05/12/2012, 19h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Sagrada Família
de Sylvio Lanna
com Paulo César Pereio, Nelson Vaz, Wanda Maria Franqueira
Brasil, 1970 - 85 min

O montador Geraldo Veloso observou que “SAGRADA FAMÍLIA já pode se prestar a exames arqueológicos de investigadores que se interessem pela pré-história da contracultura brasileira”. A banda sonora, totalmente desconectada da imagem, foi gravada pelo realizador durante experiências que teve com LSD. As imagens começaram a ser registadas em 1969, pela mesma equipa que faria de seguida BANG BANG, de Andrea Tonacci. As semelhanças entre os dois filmes são visíveis a nível da mise en scène, mas SAGRADA FAMÍLIA é menos lúdico e mostra uma família burguesa que troca a cidade pelo campo e perde a noção de classe.