CICLO
O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin


Robert de Wavrin (1888-1971) é um claro exemplo de como o nosso conhecimento da história do cinema permanece vivo, em constante mutação e evolução. A recente redescoberta e digitalização do seu trabalho pela Cinémathèque Royale de Belgique foi uma dádiva para a antropologia e, também, para o cinema documental, firmando-o como um importante precursor do cinema etnográfico. Da sua obra reunindo mais de seis mil metros de película filmados na América do Sul entre 1920 e 1938 (assim como milhares de fotografias, 14 livros e muitos outros documentos que manifestam, simultaneamente, a minúcia da observação investigativa e a sensibilidade estética de um verdadeiro cineasta) restam hoje quatro filmes, o primeiro dos quais, AU CENTRE DE L’AMÉRIQUE DU SUD INCONNUE (1924) foi reconstituído a partir de fotografias e excertos encontrados nos arquivos da cinemateca belga e do Centre National du Cinéma em França.
Tendo partido pela primeira vez para a América do Sul em 1913 para escapar à prisão na Bélgica, Robert de Wavrin acabou por embarcar numa sucessão de viagens por quase todo o continente nas três décadas seguintes, nas quais desenvolveu uma progressiva paixão por regiões remotas e por povos indígenas até então desconhecidos. Uma das suas mais particulares singularidades reside na coexistência ambígua entre dois registos aparentemente paradoxais: a excentricidade aristocrática do “explorador branco” atraído pelo exótico e pelo desconhecido e o confronto com o racismo do espírito colonizador e da “superioridade ocidental” que incorporavam o vocabulário científico do seu tempo. Wavrin terá sido, no entanto, um dos primeiros europeus a denunciar a crueldade da exploração empresarial e militar daquelas regiões e, como será visto, mostrava um interesse genuíno pelos povos que documentou. O seu trabalho não se foca primordialmente na diferença para com esse “Outro”, mas numa antropologia centrada no quotidiano indígena e no desenvolvimento de uma verdadeira intimidade relacional entre o cineasta e as comunidades nativas, resultado demonstrado na proximidade e à vontade com que as pessoas encaravam a sua câmara.
Para além de mostrar os seus quatro filmes que sobreviveram aos tempos, este Ciclo inclui o documentário biográfico MARQUIS DE WAVRIN, DU MANOIR À LA JUNGLE, realizado por Luc Plantier e Grace Winter em 2018 e que foi fundamental para a redescoberta desta extraordinária figura e de uma obra surpreendente a vários níveis. Grace Winter - investigadora, arquivista e realizadora que teve e tem um papel essencial no resgate do trabalho de Wavrin do esquecimento - estará em Lisboa para apresentar todas as sessões do Ciclo.
 
 
29/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin

Marquis de Wavrin, du Manoir à la Jungle
de Grace Winter, Luc Plantier
Bélgica, 2018 - 85 min
 
30/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin

Au Centre de l’Amérique du Sud Inconnue | Chez Les Indiens Sorciers
duração total da projeção: 83 min
30/03/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin

Venezuela, Petite Venise
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1937 - 55 min
31/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin

Au Pays du Scalp
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1931 - 75 min
29/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin
Marquis de Wavrin, du Manoir à la Jungle
de Grace Winter, Luc Plantier
Bélgica, 2018 - 85 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Servindo-se de um extenso património visual preservado na Bélgica e em França, Grace Winter e Luc Plantier realizaram um fascinante ensaio cinematográfico que convida à redescoberta do Marquês de Wavrin, das suas idiossincrasias e das suas insólitas viagens pela América do Sul, através de excertos dos seus filmes e das suas excecionais fotografias, e complementado com leituras de notas e excertos dos seus livros. Este documentário é um retrato vivo, que apresenta o Marquês como cineasta apaixonado e um entusiasmado defensor dos povos indígenas com quem se cruzou ao longo de quase três décadas de viagens pelo continente sul americano. Primeira apresentação na Cinemateca.

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30/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin
Au Centre de l’Amérique du Sud Inconnue | Chez Les Indiens Sorciers
duração total da projeção: 83 min
legendados eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Grace Winter
AU CENTRE DE L’AMÉRIQUE DU SUD INCONNUE
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1924 – 39 min

CHEZ LES INDIENS SORCIERS
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1934 – 44 min

Encorajado pela Société de Geographie de Paris, o Marquês de Wavrin realizou o seu primeiro filme na sua segunda estadia na América do Sul, ao longo de uma viagem que cobriu o norte da Argentina, o Paraguai, a Bolívia e o Brasil. Apesar do relativo sucesso que AU CENTRE DE L’AMÉRIQUE DU SUD INCONNUE alcançou, apenas 12 minutos foram encontrados na Cinemateca Belga, pelo que a sua existência se deve a uma minuciosa reconstrução, a partir de rushes de película encontrada, de fotografias, e da detalhada descrição do filme num artigo publicado na revista Ciné-Miroir em 1925. CHEZ LES INDIENS SORCIERS acompanha a sua expedição à Colômbia, no intuito de encontrar recolher objetos etnográficos para os museus belgas. Robert de Wavrin filma principalmente sequências com grupos indígenas de todo o país, salientando que o seu valor histórico está no retrato de pessoas que, já nessa época, viam o seu futuro ameaçado.  Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópias digitais.

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30/03/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin
Venezuela, Petite Venise
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1937 - 55 min
legendado electronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Grace Winter
Em VENEZUELA, PETITE VENISE, Robert de Wavrin embarca numa jornada ao longo do Rio Orinoco com a intenção de encontrar as suas nascentes. A violência inesperada das correntes impede-o de atingir os seus objetivos. Ao longo da expedição descobre, no entanto, lugares distantes e povos desconhecidos da Venezuela. As suas imagens, que acompanham o quotidiano indígena, refletem um desejo de aproximação e de preservação de civilizações ameaçadas e demonstram uma compaixão que vai muito para além dos estereótipos do cinema colonial dos inícios do século XX. O filme foi inicialmente apresentado com um outro título (Venezuela, ses Hommes et ses Paysages), que causou insatisfação da embaixada venezuelana em Paris, visto que poderia representar erradamente a sua diversificada população como um grupo unificado. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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31/03/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema Etnográfico do Marquês de Wavrin
Au Pays du Scalp
de Marquis de Wavrin
Bélgica, 1931 - 75 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Grace Winter
Filmado entre 1928 e 1930, AU PAYS DU SCALP é o filme de Robert de Wavrin que obteve mais sucesso e reconhecimento, pelo seu valor etnográfico e por ser (quase) destituído de propaganda colonial. Apesar do título, que se foca nos rituais de encolhimento de cabeças dos índios Shuar, o filme aborda uma grande abrangência de grupos indígenas, destacando-se pela sensibilidade do seu estudo e pela proximidade que demonstra criar com as pessoas que filma. Montado por Alberto Cavalcanti, e com  música original de Maurice Joubert, AU PAYS DU SCALP colocou Wavrin numa posição de destaque dentro de um crescente movimento do cinema etnográfico que, nos anos 20 e 30, demonstravam interesse nas missões científicas, rejeitando expedições apenas motivadas por interesses económicos e imperialistas. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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