CICLO
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)


Prosseguindo uma série iniciada em 2019 com o melodrama, a revisitação pela Cinemateca dos grandes géneros será em 2020 o momento da comédia. Porventura o género intrinsecamente mais popular de todos, e também aquele que mais cedo se definiu – como se o único “código” fosse algo muito simples de descrever, pôr uma plateia a rir-se. Foi através disso que o cinema – com Chaplin à cabeça – criou os seus primeiros gigantes, e mais perto esteve de atingir a universalidade. Também por isso, enquanto muitos outros géneros nasceram e morreram, a comédia sempre existiu, numa infinita variação de subgéneros, correntes, estilos e adaptações locais ou regionais. A nossa ideia é seguir-lhe o rasto através das décadas e da geografia. Para tal, dividimos o Ciclo em três andamentos, a apresentar ao longo do ano.
O primeiro, que nos ocupará ao longo de janeiro, faz uma aproximação histórica ao género, canonicamente entendido. Veremos e seguiremos as principais figuras criadoras do género (e criadas pelo género), desde os primórdios aos nossos dias, entre cineastas e atores, entre figuras únicas e avulsas (como, por exemplo, Tati) e variações que se transformaram em subgéneros ou “correntes” e consubstanciaram um entendimento preciso e historicamente definido da comédia cinematográfica (como por exemplo a screwball ou a “comédia à italiana”).
No segundo andamento, procuraremos os caminhos mais excêntricos da comédia. Seja geograficamente, olhando para as cinematografias fora do eixo euro-americano que ainda forma a base do “cânone”, seja estilisticamente, olhando para autores que, sem serem cineastas de “género”, importaram para os seus estilos e universos pessoais elementos e procedimentos derivados da comédia (Iosseliani, Luc Moullet, João César Monteiro, entre muitos outros exemplos). Será, portanto, o momento de procurar a comédia fora da comédia no seu sentido estrito.
O terceiro andamento isola um elemento crucial do código cómico: o riso. Como os filmes de Buster Keaton bem mostram, o riso, na comédia, é atirado para fora do ecrã, é na plateia que ele tem lugar, é algo que fica para o espectador. Procuraremos, nessa terceira parte do Ciclo, ver o que acontece (e porque é que acontece) quando a lógica é invertida, e é no ecrã que o riso tem lugar, talvez para descobrir que, na maior parte dos casos, o riso feito espetáculo não dá vontade de rir e das duas uma, ou se ri o espectador ou se ri o ecrã. O que são a comédia sem o riso, e o riso sem a comédia?
Inquietações que virão mais tarde no ano. Para já, uma perspetiva histórica do género, através de um punhado de filmes que estão entre os mais divertidos alguma vez feitos, e entre os que formaram a própria noção do que é a comédia cinematográfica. E que continuam a olhar para nós, humanos desta e doutras épocas, no exato sentido em que Aristóteles, o primeiro “teórico” da comédia, a definiu enquanto arte poética que trata das baixezas do Homem sem provocar nem terror nem piedade.
 
 
27/01/2020, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

The Life Aquatic With Steve Zissou
Um Peixe fora de Água
de Wes Anderson
Estados Unidos, 2004 - 118 min
 
27/01/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

What’s Up Doc?
Que se Passa, Doutor?
de Peter Bogdanovich
Estados Unidos, 1972 - 96 min
27/01/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Bananas
Bananas
de Woody Allen
Estados Unidos, 1971 - 82 min
28/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Trading Places
Os Ricos e os Pobres
de John Landis
Estados Unidos, 1983 - 116 min
28/01/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Don Quijote Cabalga de Nuevo
Dom Quixote Cavalga de Novo
de Roberto Gavaldón
Espanha, México, 1972 - 132 min
27/01/2020, 18h30 | Sala Luís de Pina
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Os Reis da Comédia
The Life Aquatic With Steve Zissou
Um Peixe fora de Água
de Wes Anderson
com Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Anjelica Huston
Estados Unidos, 2004 - 118 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Talvez o ponto alto da imaginação fervilhante de Wes Anderson, THE LIFE AQUATIC WITH STEVE ZISSOU traz-nos as aventuras mediterrânicas de uma personagem decalcada de Jacques-Yves Cousteau, o oceanólogo Steve Zissou, a contas com histórias de vingança, paternidades, e uma família (real ou adoptiva) particularmente complicada. No centro, Bill Murray, protagonista inexcedível de um humor “existencialista”, cansado e em “slow burn”.
 
27/01/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Os Reis da Comédia
What’s Up Doc?
Que se Passa, Doutor?
de Peter Bogdanovich
com Ryan O’Neal, Barbra Streisand, Madeline Kahn, Kenneth Mars, Austin Pendleton
Estados Unidos, 1972 - 96 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A screwball comedy de Howard Hawks está na origem de WHAT’S UP DOC?, cujas referências diretas Bogdanovich identificou como BRINGING UP BABY e BALL OF FIRE. O ambiente é São Francisco. A intriga centra-se em quatro malas de viagem e nos seus respetivos proprietários, dando azo a toda a espécie de equívocos. O par romântico é formado por Barbra Streisand e Ryan O’Neal, este último vindo de LOVE STORY, tear-jerker de grande sucesso do ano inicial da década de 1970. WHAT’S UP DOC? brinca com isso e põe o seu protagonista a repetir uma frase famosa do filme anterior: “Love means never having to say you’re sorry.”
 
27/01/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Os Reis da Comédia
Bananas
Bananas
de Woody Allen
com Woody Allen, Louise Lasser, Carlos Montalban
Estados Unidos, 1971 - 82 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Terceira longa-metragem de Woody Allen (contando com o especialíssimo caso de WHAT’S UP TIGER LILY?), BANANAS lembra que o cineasta nova-iorquino estava, na raiz, bem próximo do burlesco e da comédia física. Ainda hoje é um dos seus filmes mais divertidos e desopilantes, com o seu retrato de um país latino-americano genérico em constantes convulsões políticas, tomado como pano de fundo para uma comédia conjugal – que já tinha alguns reflexos autobiográficos: Allen e a protagonista feminina, Louise Lasser, foram casados durante a segunda metade da década de 1960 e tinham acabado de se divorciar.
 
28/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Os Reis da Comédia
Trading Places
Os Ricos e os Pobres
de John Landis
com Eddie Murphy, Dan Aykroyd, Jamie Lee Curtis, Ralph Bellamy
Estados Unidos, 1983 - 116 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Vários dos maiores intérpretes da comédia americana dos anos 80 vieram de um programa de televisão, o Saturday Night Live. TRADING PLACES reúne dois desses atores, Dan Aykroyd e, sobretudo, Eddie Murphy, que aqui começava a tornar-se no primeiro cómico negro americano a adquirir uma projeção mundial. Visto hoje, o filme de Landis é um reflexo dos anos Reagan: um milionário (Aykroyd) e um sem abrigo (Murphy) trocam de vida durante algum tempo, assim permitindo mostrar a diferença das vidas de ricos e de pobres. A dívida do filme para com a “screwball” à la Hawks e para com a “fábula social” à la Capra ou La Cava é reconhecida através da presença de Ralph Bellamy. A apresentar em cópia digital.
 
28/01/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Comédia (Parte I)

Os Reis da Comédia
Don Quijote Cabalga de Nuevo
Dom Quixote Cavalga de Novo
de Roberto Gavaldón
com Cantinflas, Fernando Fernán Gómez, Maria Fernanda d’Ocón
Espanha, México, 1972 - 132 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Cantinflas, de seu nome Mario Moreno (1911-1993), foi uma das principais exportações do cinema mexicano e um fenómeno de popularidade, também em Portugal. Nesta co-produção hispano-mexicana dirigida por Roberto Gavaldón (nome importante na “idade de ouro” do cinema mexicano e autor de vários notáveis melodramas), os heróis de Cervantes são encarnados por Cantinflas (Sancho Pança) e pelo enorme Fernando Fernan Gómez (Quixote), numa divertida variação que vale a pena (re)descobrir.