CICLO
Mark Rappaport | Realizador Convidado


Mark Rappaport afirmou-se na passagem dos anos setenta para os oitenta como uma das personalidades mais interessantes da sua geração nos Estados Unidos, com cinco filmes absolutamente pessoais: MOZART IN LOVE, LOCAL COLOR, SCENIC ROUTE, IMPOSTORS e CHAIN LETTERS. Jonathan Rosenbaum foi um dos primeiros críticos a sublinhar a sua importância, em diversos artigos e no livro de ensaios Film: The Frontline 1983. Nascido em Nova Iorque, onde realizou estes filmes em condições financeiras precárias, Rappaport foi um dos nomes da cena cinematográfica nova-iorquina underground do período, ao lado de nomes como o ainda desconhecido Jim Jarmusch, Jackie Raynal, Beth & Scott B, Amos Poe e Lizzie Borden. No entanto, havia uma diferença importante entre os seus filmes e os dos seus companheiros de viagem, todos eles associados às noções de vanguarda: Rappaport não recusava por completo a narratividade e tinha grande interesse pelo cinema clássico de Hollywood e as suas mitologias, como se verificaria na segunda fase da sua carreira, a partir daquele que se tornou o seu filme mais conhecido, ROCK HUDSON’S HOME MOVIES (1992). Numa entrevista de 1979, declarou: “Gosto da narração: gosto de poder criar uma discrepância entre aquilo que as personagens dizem e aquilo que vemos delas. E tenho uma capacidade irónica de assimilar afirmações contraditórias, estou sempre a reformular e a reavaliar”. Ao mesmo tempo, os seus filmes têm o apuro formal de um artista plástico. Os primeiros filmes de Mark Rappaport foram definidos por Ellen Oumano em 1985 como “comédias modernistas de costumes, que abordam o isolamento, as dicas que não foram percebidas, intrigas românticas e a nossa incapacidade de comunicar aquilo que realmente pensamos dizer”, ao passo que Michael Silverman falava, em 1983, em acontecimentos desconexos unidos por figuras de estilo como os intertítulos e a voz off: “O efeito é o de uma narrativa clássica desconstruída, como se o texto tivesse sido cortado e voltado a ser colado por alguém que tivesse problemas com a fragmentação, buscando uma unidade narrativa em relação à qual seria muito suspicaz”. As narrativas labirínticas, elípticas, dos filmes de Rappaport são pontuadas por referências literárias, cinematográficas ou musicais. O realizador declarou em 1979: “Não tenho a intenção de fazer filmes que sejam ensaios: tive sempre a preocupação de me dirigir aos sentidos e de dominar o plano visual dos filmes”. No entanto, depois da sua quinta longa-metragem de ficção, CHAIN LETTERS, de 1985, Rappaport abandonou as suas ficções peculiares, adotou o vídeo e passou a fazer ensaios cujo ponto central é o cinema de Hollywood no seu período clássico. Depois de ROCK HUDSON’S HOME MOVIES, continuou a explorar a mitologia de Hollywood e a sua influência sobre os espectadores. Estes filmes são reflexões sobre o cinema, filmes de um cinéfilo que também é realizador e prolongam de modo indireto o percurso de Rappaport na primeira fase do seu trabalho.
Além de apresentar a sua obra completa, introduzindo os filmes e discutindo-os com os espectadores, Mark Rappaport teve uma carta branca para a qual escolheu filmes clássicos e raros do período clássico e do cinema contemporâneo. Mark Rappaport apresenta os filmes por si realizados e alguns filmes da sua carta branca. O realizador também fará uma palestra, sem projeção de filmes.
 

 
20/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Mark Rappaport | Realizador Convidado

GILGAMESH
de Darrell Wilson Gunne
Estados Unidos, 2009 - 120 min
 
21/05/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Mark Rappaport | Realizador Convidado

EXTERIOR NIGHT | SCENIC ROUTE
duração total da projeção: 112 min | M/12
21/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Mark Rappaport | Realizador Convidado

LES GIRLS
As Girls
de George Cukor
Estados Unidos, 1957 - 114 min
22/05/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Mark Rappaport | Realizador Convidado

IMPOSTORS
de Mark Rappaport
Estados Unidos, 1979 - 110 min
22/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Mark Rappaport | Realizador Convidado

DAISY KENYON
Entre o Amor e o Pecado
de Otto Preminger
Estados Unidos, 1947 - 99 min
20/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Mark Rappaport | Realizador Convidado
GILGAMESH
de Darrell Wilson Gunne
Estados Unidos, 2009 - 120 min
sem diálogos | M/12

Darrel Wilson Gunne é um nome importante, embora relativamente pouco conhecido, das vanguardas americanas. GILGAMESH evoca o “Épico de Gilgamesh”, uma das mais antigas obras de literatura da história da Humanidade, escrita 2500 anos antes da Era Cristã, que evoca a amizade entre um rei e um homem selvagem. O realizador define o filme como “uma fotonovela animada que explora o tema eterno da Jornada Heroica e da Natureza da Amizade, tal como é contada no antigo texto. O filme sobrepõe a primeira história que se conhece na civilização ocidental com a conceção contemporânea do heroísmo e da fraternidade”. Primeira exibição na Cinemateca.

21/05/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Mark Rappaport | Realizador Convidado
EXTERIOR NIGHT | SCENIC ROUTE
duração total da projeção: 112 min | M/12

EXTERIOR NIGHT
com David Patrick Kelly, Mart Arnott, David Brisbin
SCENIC ROUTE
com Randy Denson, Marilyn Jones, Kevin Wade
de Mark Rappaport
Estados Unidos, 1993, 1978 – 36 min, 76 min / legendados eletronicamente em português

Em EXTERIOR NIGHT, Rappaport interroga de modo irónico a relação que as pessoas podem ter com o cinema. Filmado em vídeo de alta definição, o filme mostra-nos um jovem que todas as noites tem sonhos a preto e branco, em ambientes muito semelhantes aos dos filmes negros dos anos quarenta. O homem tenta perceber a sua vida através de trechos de filmes de Michael Curtiz, Howard Hawks e Alfred Hitchcock. Um dos filmes preferidos do realizador, apresentado na Quinzena dos Realizadores em Cannes, SCENIC ROUTE foi inteiramente rodado em cenários interiores e acompanha a relações de duas irmãs que se envolvem com o mesmo homem (uma delas acaba de sair da cadeia depois de cumprir pena por homicídio do amante da irmã). Os cenários transformam-se, uma música de ópera acompanha as aventuras dos protagonistas e, nas palavras de Louis Skorecki, o filme é “um romance matemático que a fantasia salva da aridez (…) e vai misteriosamente rumo a um enganoso ‘suspense’, perpetuamente adiado, para a alegria do espectador que ainda sabe rir”. Primeiras exibições na Cinemateca.
 

21/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Mark Rappaport | Realizador Convidado
LES GIRLS
As Girls
de George Cukor
com Gene Kelly, Kay Kendall, Mitzi Gaynor, Taina Elg
Estados Unidos, 1957 - 114 min
legendado eletronicamente em português | M/12

Um clássico do musical que, contrariamente ao que costuma ser regra no género, tem um argumento relativamente complexo já que o filme se baseia no princípio de “a cada um a sua verdade” e cada uma das três girls do título conta num tribunal a mesma história à “sua” maneira. E esta história é a disputa das três mulheres pela posse de Gene Kelly. Além disso, cada uma das mulheres tem uma cor que a carateriza e domina a sequência em que ela aparece, antecipando neste ponto o que Cukor faria alguns anos depois no deslumbrante MY FAIR LADY.

22/05/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Mark Rappaport | Realizador Convidado
IMPOSTORS
de Mark Rappaport
com Charles Ludlam, Michael Burg, Lina Todd, Peter Evans
Estados Unidos, 1979 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12

Rappaport descreveu este filme como “uma união profana entre THE MALTESE FALCON e Em Busca do Tempo Perdido”. Dois irmãos gémeos e incompetentes, não sem alguma semelhança com os Dupondt de Tintim, procuram um tesouro egípcio enquanto fazem um número de prestidigitação com a ajuda de uma assistente. Tratando-se de um grupo de impostores, nenhum é digno da confiança do espectador, num filme baseado na impostura e na simulação. Realizado com o tom irónico, mas que finge ocultar a ironia, que caracteriza as obras deste período do realizador, IMPOSTORS, nas palavras de Gene Siskel, “mostra como as ficções sobre as relações amorosas (sobretudo as ficções de Hollywood) marcam as nossas vidas”. Primeira exibição na Cinemateca.

22/05/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Mark Rappaport | Realizador Convidado
DAISY KENYON
Entre o Amor e o Pecado
de Otto Preminger
com Joan Crawford, Dana Andrews, Henry Fonda, Ruth Warrick
Estados Unidos, 1947 - 99 min
legendado em espanhol | M/12

Realizado no auge da carreira de Joan Crawford, DAISY KENYON é um exemplo do que à época a indústria cinematográfica americana denominava um woman’s picture: um filme destinado às plateias femininas numa época em que muitas mulheres não trabalhavam (e iam ao cinema à tarde, com as amigas) e que abordam as questões amorosas e familiares do ponto de vista da mulher. Neste singular melodrama romântico, Joan Crawford é uma famosa estilista que se encontra romanticamente dividida entre dois homens, sendo que um deles é casado. O filme também aborda um problema audacioso para a época do filme: o abuso de crianças.