CICLO
Pedro Costa | Realizador Convidado


Pedro Costa é o primeiro “realizador convidado”, uma das novidades na programação da Cinemateca em 2015. Ao longo de três semanas, entre 12 e 31 de janeiro, Pedro Costa concebeu e apresenta um programa que inclui filmes seus em articulação com outras obras, várias delas de oportunidade de exibição rara. O programa conta com as presenças de José Neves, João Queiroz, Paulo Nozolino, Rui Chafes, Leonardo Simões e Olivier Blanc, que acompanharão algumas das sessões em diálogo com Pedro Costa.

 

SALA LUÍS DE PINA | 12 – 31 DE JANEIRO

 

VENDA ANTECIPADA DE BILHETES PARA TODAS AS SESSÕES DO CICLO
8, 9 e 10 de janeiro: 18:00 – 22:00


Durante o Ciclo: horário excecional da bilheteira – uma hora antes de cada sessão

As sessões anunciadas como “ENCONTROS COM…”, que em alguns casos incluem a projeção de filmes curtos, são de entrada livre mediante o levantamento de ingressos na bilheteira.
 

 
19/01/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Pedro Costa | Realizador Convidado

DAÏNAH LA MÉTISSE | VINYL
 
20/01/2015, 14h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Pedro Costa | Realizador Convidado

JEAN RENOIR PARLE DE SON ART
de Jacques Rivette
França, 1975 - 63 min
20/01/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Pedro Costa | Realizador Convidado

A ILHA DE MORAES
de Paulo Rocha
Portugal, 1984 - 98 min
20/01/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Pedro Costa | Realizador Convidado

A ILHA DOS AMORES
de Paulo Rocha
Portugal, 1982 - 169 min
21/01/2015, 14h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Pedro Costa | Realizador Convidado

TRI PESNI O LENINE | LISTEN TO BRITAIN | THE SILENT VILLAGE
19/01/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
DAÏNAH LA MÉTISSE | VINYL
duração total da projeção: 114 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 15 minutos

DAÏNAH LA MÉTISSE
de Jean Grémillon
com Laurence Clavius, Charles Vanel, Habib Benglia
França, 1931 – 50 min / legendado eletronicamente em português
VINYL
de Andy Warhol
com Gerard Malanga, Tosh Carillo, John MacDermott, Robert Filippo, Edie Sedgwick
Estados Unidos, 1965 – 64 min / legendado eletronicamente em português

O grande Jean Grémillon foi um “realizador maldito” e um dos mais malditos dos seus filmes foi precisamente DAÏNAH LA MÉTISSE, que à época foi remontado contra a vontade do realizador e encurtado em quase meia hora, ficando truncado para sempre. Ainda assim, o que sobrou forma um filme extraordinário, todo ele passado a bordo de um transatlântico, tendo como elegantes protagonistas um par de negros e culminando num baile de máscaras que parece inverter todos os clichés raciais. Mítico filme de Andy Warhol em que se destacam as presenças de Edie Sedgwick e Gerard Malanga, VINYL apresenta-se como uma “adaptação” totalmente livre de A Clockwork Orange, de Anthony Burgess, livro que Kubrick iria trabalhar uns anos depois. Filmado a preto e branco em longos planos fixos, VINYL é atravessado pelas “estrelas” da Factory que dançam, fumam ou deambulam num espaço fechado, terminando numa sequência com algum sadismo. Uma experiência arrojada em cuja banda sonora encontramos The Kinks, Rolling Stones ou os The Isley Brothers.

20/01/2015, 14h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
JEAN RENOIR PARLE DE SON ART
de Jacques Rivette
França, 1975 - 63 min
legendado em inglês
O filme da sessão é uma alteração ao inicialmente previsto JEAN RENOIR, LE PATRON (1, 3), de Jacques Rivette, que por razões imprevistas de última hora não é possível apresentar

Entrevista em três partes de Jacques Rivette a Jean Renoir, filmada para a televisão francesa, numa produção INA. Os três episódios intitulam-se  “O Cinema e a Palavra Falada”; “O Progresso Técnico” e “O Regresso do Naturalismo”.

20/01/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
A ILHA DE MORAES
de Paulo Rocha
com Eiki Matsumura, Jakucho Setuchi, Armando Martins Janeira, Adelaide Moraes Costa
Portugal, 1984 - 98 min
legendado em português | M/12
Ao contrário do previsto e anunciado, por motivos técnicos, não é possível apresentar, nesta sessão, PAULO ROCHA SOBRE A ILHA DOS AMORES (Portugal, 2005, 60 min), conversa entre Pedro Costa e Paulo Rocha sobre o filme A ILHA DOS AMORES numa gravação áudio registada por Pedro Costa.

A sessão abre com uma Paulo Rocha voltou ao escritor Wenceslau de Moraes depois de A ILHA DOS AMORES, filme com que A ILHA DE MORAES estabelece um diálogo íntimo. Para filmar a vida e obra do escritor português que viveu no Extremo Oriente, Paulo Rocha filmou documentos e lugares vividos pelo escritor, confrontando-os com os textos de Moraes e com o seu A ILHA DOS AMORES. Este é talvez um dos filmes mais pessoais de Paulo Rocha e aquele onde ele leva mais longe a sua intensa admiração pelo Japão.

20/01/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
A ILHA DOS AMORES
de Paulo Rocha
com Luís Miguel Cintra, Clara Joana, Zita Duarte, Jorge Silva Melo, Paulo Rocha, Yoshiko Mita
Portugal, 1982 - 169 min
falado em português e japonês com legendas em português | M/12

Primeira produção Suma Filmes (fundada por Rocha, produtora ou coprodutora de quase todos os seus filmes), A ILHA DOS AMORES, cujo primeiro projeto foi apresentado à Gulbenkian em 1972, foi filmado em Portugal e no Japão quase dez anos depois de A POUSADA DAS CHAGAS, longamente preparado durante os anos em que Paulo Rocha foi adido cultural da embaixada de Portugal em Tóquio (1975-1984). Film fleuve, compõe-se em nove cantos e é um filme inspirado na vida e obra do escritor Wenceslau de Moraes, que saiu de Portugal nos finais do século XIX para buscar no Japão uma “arte de viver” que conciliasse o material e o espiritual. Uma das obras mais arriscadas do cinema português, em que o trabalho de mise en scène é sobretudo realizado no interior dos próprios planos. “Cantos de Os Lusíadas, de Pound, de Chu Yuan (...) Era um pouco megalómano: juntar todas as culturas, todas as artes, todos os estilos, todas as línguas. Mas lá estavam o Moraes e a Ko-Háru, o gato e o pássaro de O-Yoné, o pintor impotente, para darem humanidade ao décor excessivo” (Paulo Rocha). Estreou mundialmente no festival de cinema de Cannes, estreando no circuito comercial português apenas em 1991 no contexto de uma “Operação Paulo Rocha”, numa iniciativa de Paulo Branco. Teve um assinalável êxito no Japão, onde foi descrito como “a unificação da memória coletiva da humanidade”.

21/01/2015, 14h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
TRI PESNI O LENINE | LISTEN TO BRITAIN | THE SILENT VILLAGE
duração total da projeção: 117 min | M/12

TRI PESNI O LENINE
"Três Canções sobre Lenine"
de Dziga Vertov
URSS, 1934 – 61 min / mudo, intertítulos em russo, legendados eletronicamente em português – versão sonora
LISTEN TO BRITAIN
de Humphrey Jennings, Stewart McAllister
Reino Unido, 1942 – 20 min / legendado em português
THE SILENT VILLAGE
de Humphrey Jennings
Reino Unido, 1943 – 36 min / legendado eletronicamente em português

Em 1922, Vertov, no auge do fervor revolucionário, inaugurou a famosa série dos Kino-Pravda (vinte e três "jornais de atualidades", estreados entre 1922 e 1925). "Captar a vida tal como ela é", "agarrá-la de improviso", "ignorar os atores", "recusar os estúdios". Mas este programa, a que Maiakovski também aderiu, começou a ser combatido pelo Partido precisamente no ano fatídico de 1926, o ano em que Estaline confirmou o seu poder e em que Trotsky e Kamenev foram expulsos do Comité Central. Vertov procurou alguma liberdade na Ucrânia mas não mais o largaram as acusações de formalismo. “TRÊS CANÇÕES SOBRE LENINE” foi o apogeu e o fim da sua carreira. Deram-lhe a Ordem da Bandeira Vermelha, mas impuseram-lhe o ostracismo. Se uniu o cinema à rádio e o olhar ao ouvido, como alguns disseram, não o deixaram mais nem ver nem ouvir. Ficou um grande clássico do cinema, mas também um filme maldito. Vertov fez igualmente uma versão muda, em 1935, para poder projetar o filme nas vilas e aldeias onde o sonoro ainda não tinha chegado. Nela, havia novos episódios e alterações de montagem. Essa versão foi proibida e durante muito tempo considerou-se perdida. Reapareceu depois do fim da URSS (a Cinemateca exibiu-a pela primeira vez em 1993). A sessão prossegue com dois filmes de Humphrey Jennings (1907-1950), um dos mais relevantes cineastas europeus do seu tempo. Esteve ligado ao movimento surrealista e notabilizou-se na realização de documentários, tendo integrado a unidade de produção cinematográfica dos correios ingleses (GPO-General Post Office) em 1934. LISTEN TO BRITAIN é um dos melhores exemplos do tipo de montagem associativa praticado por Jennings (que nesta obra credita mesmo como correalizador o seu montador habitual, Stewart McAllister). Sem comentário em off, é a própria sucessão estruturada de imagens e sobretudo de sons que produz uma evocação extraordinariamente poética da vida quotidiana no Reino Unido durante a II Guerra, procurando mostrar, subtilmente, como a luta na retaguarda inglesa se fazia praticando um quotidiano o mais “normal” possível. Filme de propaganda composto como de reconstituição dramática (o aniquilamento da população da aldeia checa de Lidice, depois da recusa em denunciar o autor do atentado que que matou Reinhard Heydrich, é recriado numa pequena aldeia mineira do País de Gales, com os seus habitantes como protagonistas), THE SILENT VILLAGE foi produzido feito pela Crown Film Unit e assinado por Jennings. “Entre tudo o que o filme tem de notável, chamaríamos a atenção para a verdadeiramente extraordinária encenação ‘incorpórea’ do nazismo: apenas uma voz que tanto vem da telefonia (uma telefonia que quase jurávamos que Jennings foi buscar a Lang) como dos altifalantes montados nos carros de combate alemães, enquadrados em planos de ângulos surpreendentes, em absoluto e desumano contraste com a história de humanidade acossada que essa mesma voz desencadeia” (Luís Miguel Oliveira). THE SILENT VILLAGE é apresentado em cópia digital.