CICLO
Werner Schroeter


Há muito tempo que a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema tinha o projeto de organizar uma retrospetiva de Werner Schroeter, uma das figuras mais singulares e um dos nomes mais importantes do cinema contemporâneo que esta cinemateca sempre defendeu. Esta retrospetiva integral, que se inicia em novembro e se prolonga por dezembro, abarca todos os períodos da sua obra, apresentando filmes emblemáticos e obras raras ou raríssimas, longas e curtas-metragens. Schroeter pertencia à importante geração nascida à volta do ano altamente simbólico de 1945, que faria o “novo cinema alemão” dos anos 70 (Fassbinder, Wenders, Schlöndorff, Trotta), mas sempre trabalhou num território extremamente pessoal, irredutível ao cinema narrativo, mesmo nos seus filmes mais “acessíveis”. Começou por trabalhar em 8 mm, um suporte típico do cinema experimental e/ou amador, antes de passar ao formato em 16 mm. Foi só com o belíssimo IL REGNO DI NAPOLI, o seu vigésimo-sétimo filme, que filmou pela primeira vez no formato “profissional” de 35 mm. Fascinado pela ópera e pela ideia de performance, praticando de início um cinema inteiramente não narrativo e, mais tarde, uma narrativa fragmentária, profundamente ligado aos temas do amor e da morte e à sua eventual colusão, Schroeter introduziu uma vertente documental no seu cinema, a partir dos anos 80, que por vezes fundia com as suas mitologias pessoais. Associado a um certo fascínio pela decadência e pela mortalidade, Schroeter abole no seu cinema a fronteira entre “cultura alta” e cultura popular, que ele simultaneamente celebra e parodia. O seu contemporâneo Rainer Werner Fassbinder, sem dúvida o cineasta alemão da sua geração que melhor podia perceber o seu cinema, observou a seu respeito: “Werner Schroeter terá um dia um lugar na história do cinema análogo ao que seria um lugar na literatura algures entre Novalis, Lautréamont e Céline; ele foi durante dez anos um realizador 'underground' e não o deixaram sair deste papel. Esta conveniente etiqueta 'underground' transformou num átimo os seus filmes em plantas bonitas porém exóticas, que floresciam de modo tão pouco habitual e a tão grande distância que não era possível se interessar por elas e, por conseguinte, não se devia interessar por elas. Além de errado, isto é estúpido. Os filmes de Werner Schroeter não são longínquos; são belos mas não exóticos. Pelo contrário”. A vasta obra de Werner Schroeter começa agora a ser restaurada, o que permitirá que seja avaliada e reavaliada. O Ciclo será inaugurado com uma conferência de Stefan Drössler, diretor da Cinemateca de Munique.

 
20/11/2014, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Werner Schroeter

WILLOW SPRINGS
de Werner Schroeter
República Federal da Alemanha, 1972-73 - 77 min
 
20/11/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Werner Schroeter

DER BOMBERPILOT
de Werner Schroeter
República Federal da Alemanha, 1970 - 65 min
21/11/2014, 19h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Werner Schroeter

DER SCHWARZE ENGEL
“O Anjo Negro”
de Werner Schroeter
República Federal da Alemanha, 1973-74 - 71 min
21/11/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Werner Schroeter

GOLDFLOCKEN / LES FLOCONS D’OR
de Werner Schroeter
República Federal da Alemanha, 1976 - 166 min
22/11/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Werner Schroeter

SALOME
de Werner Schroeter
República Federal da Alemanha, 1971 - 81 min
20/11/2014, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Werner Schroeter

Em colaboração com o Goethe Institut e a Cinemateca de Munique
WILLOW SPRINGS
de Werner Schroeter
com Magdalena Montezuma, Christine Kaufmann, Ila von Hasperg
República Federal da Alemanha, 1972-73 - 77 min
legendado em português | M/16

WILLOW SPRINGS é uma das obras mais complexas e radicais do cinema moderno, marcando uma espécie de transição entre aquilo a que se chamou um método de “colagem” de que EIKKA KATAPPA é o exemplo maior e o realismo agónico de DER ROSENKÖNIG, que conta a “história” da relação entre três mulheres que vivem isoladas no deserto. O ponto de partida para o filme, segundo Schroeter, foi a morte de Marilyn Monroe. A apresentar em cópia digital.

20/11/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Werner Schroeter

Em colaboração com o Goethe Institut e a Cinemateca de Munique
DER BOMBERPILOT
de Werner Schroeter
com Magdalena Montezuma, Carla Aulaulu, Mascha Elm Rabben
República Federal da Alemanha, 1970 - 65 min
legendado em português | M/16

Neste filme, pela primeira vez, Schroeter aborda o passado nazi da Alemanha, sem se afastar, no entanto, da sua maneira habitual de trabalhar. Este passado é evocado através das figuras de três personagens femininas fictícias, que tinham atuado em espetáculos de palco durante o período nazi. Segundo Michel Legrand, através destas três figuras Schroeter transmite a desordem e a repressão mental que levaram a lembrança das atrocidades nazis a ser atenuada na memória coletiva alemã. Mais uma vez, a música, está no cerne do cinema de Schroeter. A apresentar em cópia digital.

21/11/2014, 19h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Werner Schroeter

Em colaboração com o Goethe Institut e a Cinemateca de Munique
DER SCHWARZE ENGEL
“O Anjo Negro”
de Werner Schroeter
com Ellen Umlauf, Magdalena Montezuma
República Federal da Alemanha, 1973-74 - 71 min
legendado em português | M/16

Neste filme, Schroeter funde dois aspectos do seu cinema, a fantasia puramente pessoal, com as suas mitologias, e o ensaio cinematográfico feito em terras longínquas (de que também são exemplos DER LACHENDE STERN e DE L’ARGENTINE). Duas mulheres, uma de Boston e a outra de Berlim, fogem o vazio das suas vidas e vão buscar aventuras no México. Schroeter contrapõe esta situação, que tem alguma semelhança com a de WILLOW SPRINGS e na qual o fascínio das duas mulheres com o México é forçosamente superficial, a elementos documentais e à perceção que os mexicanos têm da sua própria cultura. A apresentar em cópia digital.

21/11/2014, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Werner Schroeter

Em colaboração com o Goethe Institut e a Cinemateca de Munique
GOLDFLOCKEN / LES FLOCONS D’OR
de Werner Schroeter
com Magdalena Montezuma, Bulle Ogier, Udo Kier, Ellen Umlauf
República Federal da Alemanha, 1976 - 166 min
legendado em português | M/16

O filme que encerra a primeira fase da obra de Schroeter – segundo diversos testemunhos, era o seu preferido – sendo a conclusão lógica do imaginário baseado sobre a relação da imagem com a música. Aqui, Schroeter reúne no mesmo filme diversos elementos que surgem separadamente em outros filmes. No decorrer de GOLDFLOCKEN, seguimos quatro histórias de obsessão erótica, cada qual num tom diferente. Esta foi a primeira colaboração de Schroeter com Bulle Ogier, a quem o filme é dedicado. O sucesso de GOLDFLOCKEN proporcionou a Schroeter apoios financeiros mais sólidos, concretizados a seguir em IL REGNO DI NAPOLI. A apresentar em cópia digital.

22/11/2014, 19h30 | Sala Luís de Pina
Werner Schroeter

Em colaboração com o Goethe Institut e a Cinemateca de Munique
SALOME
de Werner Schroeter
com Mascha Elm Rabben, Magdalena Montezuma, Ellen Umlauf, Thomas von Keyserling
República Federal da Alemanha, 1971 - 81 min
legendado em inglês e eletronicamente em português M/16

Adaptação da peça epónima de Oscar Wilde, para a qual Schroeter utilizou a mesma tradução alemã que Richard Strauss utilizou na sua ópera (note-se que, alguns anos mais tarde, a família do compositor proibiria uma montagem da ópera por Schroeter). O filme foi feito num anfiteatro no Líbano, sem nenhum cenário ou adereço e a câmara está essencialmente na posição de um espectador de teatro, dando a ilusão de que se trata da captação de um espetáculo de palco. A apresentar em cópia digital.