Os que viveram na mítica swinging London dos anos sessenta dizem que este é o filme que melhor captou o espírito da cidade naqueles tempos, ao lado de PERFORMANCE. Baseado num conto de Júlio Cortázar, esta obra-prima de Michelangelo Antonioni é um espantoso exercício de investigação e reflexão sobre as relações entre a realidade e a ilusão, através das peripécias de um fotógrafo que, de ampliação em ampliação, descobre um crime. Ou julga descobrir. A célebre sequência de uma orgia foi, à época, cortada em Portugal. Com este filme, Antonioni conseguiu renovar o seu cinema, que começava a entrar num impasse depois da série de filmes sobre a alienação e a incomunicabilidade que realizara desde 1960 (A AVENTURA, A NOITE, O ECLIPSE e O DESERTO VERMELHO).

Bela e rara produção checa, realizada pelo alemão Carl Junghans. A obra tem alguma semelhança com os filmes “de câmara” (Kammerspiel) alemães do período, embora a maioria dos críticos da época tenha louvado o realismo da obra. No papel principal, o de uma velha lavadeira, Vera Baranovskaia, imortalizada em A MÃE, de Pudovkine. Um filme que se situa entre o que de melhor se fez no período na Europa, no qual o realizador “é capaz de transfigurar uma imagem banal num momento de poesia” (Manuel Cintra Ferreira), o que é uma das características do bom cinema mudo.

Quarto western de Sergio Leone, que de certa forma criara o western europeu quatro anos antes com PER UN PUGNO DI DOLLARI. O título original, “Era Uma Vez no Oeste”, sublinha a dimensão mítica do género e Leone não fez uma paródia e sim um filme sério e ambicioso, que ilustra alguns temas clássicos do género (a perseguição a um assassino), com dois atores emblemáticos de John Ford, Henry Fonda e, num papel menor, Woody Strode. O filme também dá ao personagem feminino uma importância que este não tinha no western clássico. E há ainda a música de Ennio Morricone, que é inseparável destes filmes. Inegavelmente, um monumento cinematográfico.

LA BATAILLE DES DIX MILLIONS
de Chris Marker
França, 1970 – 59 min / legendado eletronicamente em português
LE CHARME DISCRET DE LA DEMOCRATIE BOURGEOISE
do grupo Cinéma Rouge
França, 1974 – 28 minutos / legendado eletronicamente em português

LA BATAILLE DES DIX MILLIONS capta “a quente” um episódio da história do regime de Fidel Castro, que à época foi alardeado em todo o mundo. O “Líder Máximo” lançou um apelo à população cubana para que esta fizesse esforços sobre-humanos, de modo a dobrar a colheita de cana-de-açúcar. O próprio Castro foi fotografado de machete em punho a cortar cana. Mas apesar da mobilização da população, o objetivo não foi atingido. O filme, que se tornou extremamente raro, capta o discurso de “autocrítica” de Castro sobre este episódio, precedido por uma análise do ano que acabara de decorrer. A abrir a sessão, um filme militante produzido pelo grupo Slon, ligado a Chris Marker, que indica que no âmbito da luta política, “a burguesia prepara-se para soluções desesperadas”: são dados como exemplos o golpe de Estado no Chile, o treino das tropas de choque francesas, o homicídio do operário Pierre Overney, que causou à época enorme celeuma em França.