Personagens de Dostoievski no cenário de Une Ténebreuse Affaire de Balzac, disse Jean-Luc Godard a propósito deste filme. LA NUIT DU CARREFOUR assinala a primeira aparição no cinema da personagem criada por Simenon, o inspetor Maigret, interpretada pelo irmão do realizador, Pierre Renoir. Um filme estranho e elíptico (diz-se que uma bobine foi perdida, o que explicaria este facto) que em nada se aparenta a um filme policial “normal”, feito no início do período mais fértil e variado da obra de Renoir.

ALSACE é uma raridade da coleção da Cinemateca, que retomamos igualmente depois de uma muito recente passagem em janeiro último. É um exemplo muito característico dos filmes de propaganda feitos durante a Primeira Guerra Mundial, neste caso em França, de que a Alsácia, ocupada pelos Alemães a seguir à guerra de 1870/71, era uma ferida que o tempo não apagara. Tratava-se de mostrar que a Alsácia permanecia francesa, como sucedeu depois da vitória. De notar que o protagonista, Albert Dieudonné, teve doze anos mais tarde o papel principal no celebérrimo NAPOLÉON de Abel Gance.

Em 1990, no Irão devastado pelo tremor de terra, um realizador de cinema e o filho fazem uma viagem de carro no interior da região à procura das crianças do filme ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO?, que exibimos em fevereiro. Uma viagem através das ruínas e da destruição, onde apesar de tudo a vida continua, por um dos mestres incontestados do cinema contemporâneo, que mistura humanismo e total domínio formal.

“Foram necessários trinta anos para que se fizesse sobre o período da Ocupação alemã um filme essencial como LE CHAGRIN ET LA PITIÉ. Mas bastaram seis para que os acontecimentos de maio de 68 suscitassem uma obra de importância equivalente”. Foi com estas palavras que a revista Écran saudou o filme de Gudie Lewaetz em janeiro de 1975. Trata-se de um filme de montagem, que reúne material das fontes mais diversas (grupos militantes, televisão, Partido Comunista) e expõe um dilema central daquele mítico mês de maio: a inexorável distância, nunca verbalizada, entre os pontos de vista dos estudantes e os dos operários. Primeira exibição na Cinemateca.