“O filme [
Brandos Costumes] centra-se no tema da morte do pai em rima com a morte de Salazar, ilustrado por muitas imagens de “Jornais de Actualidades”, do seu enterro. As duas ordens e as duas mortes são indissociáveis, o que torna aquela família um microcosmos do país.
Só que, à medida que o filme se foi fazendo, se tornou claro que a censura jamais o autorizaria. Seixas Santos ficou assim com a reputação do “herói” que ousara fazer o primeiro filme de denúncia visceral do regime de então. Um filme que introduzia a História na nossa história, dando à luta de classes lugar central.
Mas dá-se o 25 de Abril e, ao contrário do temido, o filme estreou livremente num país sem censura, em 1975. Curiosamente (premonição…) o filme terminava com uma revolução militar e com a criada a gritar: “Ai meninas, os bolchevistas, os bolchevistas”. Em 75, os acontecimentos deram foros de “real” a essa ficção, mas Seixas Santos defendeu sempre que o filme só se percebia, se fosse situado no contexto em que fora feito, ou seja, antes da revolução.
A obra, filmada com admirável saber de ofício, e colhendo lições quer nos grandes clássicos do mudo, quer nos cinemas de autor dos anos 70, é um marco na história do cinema português e inaugurou o ciclo de filmes “revolucionários” que caracterizaram os anos 75-78.
[É, com Gestos & Fragmentos,] o mais denso
retrato fílmico que nos ficou dos anos 70 portugueses.” (João Bénard da Costa num texto bio-filmográfico de 2005 publicado em português in
Alberto Seixas Santos, Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 2016)
Agradecimentos: Solveig Nordlund, Rui Simões (Real Ficção).
Este filme foi editado em DVD pela Real Ficção com o apoio da Cinemateca.
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