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Assunto: Gestos & Fragmentos
Data: 24/04/2020
Filmes para ver esta semana: BRANDOS COSTUMES
Filmes para ver esta semana: BRANDOS COSTUMES
Filmado em 1972/73, antes do 25 de abril, no contexto do segundo plano de produção do Centro Português de Cinema, BRANDOS COSTUMES só estrearia nas salas em setembro de 1975. A partir de um argumento de Alberto Seixas Santos, Luíza Neto Jorge e Nuno Júdice, filma-se a morte de um pai de família e dá-se a ver a ascensão e queda do Estado Novo através de imagens de arquivo, parte das quais só seriam acrescentadas ao filme já depois da revolução. Prodigiosamente moderno e radical nos seus propósitos fragmentários, o primeiro filme de Seixas Santos é simultaneamente o primeiro dos filmes do 25 de abril. Produção CPC e Tobis Portuguesa, com direção de produção de Henrique Espírito Santo e Jorge Silva Melo.
“O filme [Brandos Costumes] centra-se no tema da morte do pai em rima com a morte de Salazar, ilustrado por muitas imagens de “Jornais de Actualidades”, do seu enterro. As duas ordens e as duas mortes são indissociáveis, o que torna aquela família um microcosmos do país.
Só que, à medida que o filme se foi fazendo, se tornou claro que a censura jamais o autorizaria. Seixas Santos ficou assim com a reputação do “herói” que ousara fazer o primeiro filme de denúncia visceral do regime de então. Um filme que introduzia a História na nossa história, dando à luta de classes lugar central.
Mas dá-se o 25 de Abril e, ao contrário do temido, o filme estreou livremente num país sem censura, em 1975. Curiosamente (premonição…) o filme terminava com uma revolução militar e com a criada a gritar: “Ai meninas, os bolchevistas, os bolchevistas”. Em 75, os acontecimentos deram foros de “real” a essa ficção, mas Seixas Santos defendeu sempre que o filme só se percebia, se fosse situado no contexto em que fora feito, ou seja, antes da revolução.
A obra, filmada com admirável saber de ofício, e colhendo lições quer nos grandes clássicos do mudo, quer nos cinemas de autor dos anos 70, é um marco na história do cinema português e inaugurou o ciclo de filmes “revolucionários” que caracterizaram os anos 75-78.
[É, com Gestos & Fragmentos,] o mais denso retrato fílmico que nos ficou dos anos 70 portugueses.” (João Bénard da Costa num texto bio-filmográfico de 2005 publicado em português in Alberto Seixas Santos, Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 2016)
 
Agradecimentos: Solveig Nordlund, Rui Simões (Real Ficção).
 
Este filme foi editado em DVD pela Real Ficção com o apoio da Cinemateca.

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