Com a morte de António Loja Neves o cinema português perde mais um dos seus defensores persistentes e solidários. De todas as palavras, não deve haver outra que, como esta (solidário) melhor se lhe aplique. Tirou o curso de realização e assinou ou co-assinou dois documentários (Ínsula e O Silêncio, ambos na década de noventa), mas foi daqueles que passou uma vida a defender e a divulgar as realizações dos outros. O seu percurso é o de uma geração: cineclubes (neste caso o Universitário, e depois a Federação), associações culturais, constante intervenção cívica em que a prioridade estava no coletivo. Mas o que com o tempo se tornou único foi justamente o facto de ter continuado a ser um homem da geração. Como programador, animador cultural e jornalista, falava sobretudo de movimentos e esforços conjuntos. Para ele, cinema português significava também cinema em português, o que, aliás (e porque isso incluiu a atenção dada aos cinemas dos PALOPs) acabou por desembocar num interesse especialíssimo pelo cinema africano. Entre muitas outras coisas, aproximou-nos o interesse pelo Documentário, nisso incluindo os filmes e a defesa de espaços para vê-los e discuti-los, quando era mais difícil vê-los e discuti-los. A Cinemateca prestar-lhe-á homenagem, se possível com uma boa discussão…
José Manuel Costa
Em homenagem a António Loja Neves, divulgamos aqui dois documentos antes incluídos em edições da Cinemateca:
Luciana Fina, Cristina Fina e António Loja Neves,
"A África Reinventada" (introd.,
Cinemas de África, ed. Cinemateca Portuguesa; Culturgest, 1995)
Entrevista a António Campos, por António Loja Neves e Manuel Costa e Silva (catálogo
António Campos, ed. Cinemateca Portuguesa, 2000)