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PEDRO HESTNES – “FAÇA DE MIM O QUE QUISER”
“Faça de mim o que quiser”, era esta a primeira frase proferida por Pedro Hestnes em O SANGUE. Poucas vezes como nessa cena, no cinema português ou fora dele, um actor pareceu tão frágil e tão desprotegido e, ao mesmo tempo, no tom e no olhar com que dizia essas palavras, um tom e um olhar onde se misturavam o abandono e o desafio, tão vertical e tão intocável. Ao puxarmos essa frase para título do nosso Ciclo fazemo-lo porque acreditamos que, com ela, nos aproximamos do que foi a personalidade, a presença, o código de Pedro Hestnes enquanto actor de cinema. A máxima disponibilidade, a máxima resistência: o tipo de fricção capaz de gerar electricidade suficiente para, por si mesma, iluminar um ecran. E quantas vezes isso aconteceu. No cinema português dos últimos 25 anos, poucos rostos terão sido tão marcantes, e deixado um traço tão fulgurante, como o dele. Um traço que passava de filme para filme, raramente em ruptura: era como se as personagens de Pedro Hestnes não se excluíssem umas às outras, pudessem coexistir e conhecerem-se entre elas sem se expulsarem ou anularem. Se, no cinema português dos anos 80 e 90 existiu um certo “ar de família”, que se respirava por entre todas as diferenças e idiossincrasias de cineasta para cineasta, a presença de Pedro Hestnes contribuiu muito para isso. De resto, quando se observa a sua filmografia, e embora haja naturalmente excepções, percebe-se a que ponto ele foi sobretudo um actor para os “novos”, para a geração, ou para as gerações, dos “filhos do cinema novo” (à falta de melhor designação que ainda não há): de Jorge Silva Melo, João Botelho ou Margarida Gil a Pedro Costa, Manuel Mozos ou Luís Alvarães. Também por isso, seguir o percurso cinematográfico de Pedro Hestnes se parece tanto com a evocação de um momento, de uma época do cinema português, um momento e uma época que, embora muito recentes, talvez já não sejam bem aqueles em que actualmente vivemos. Contas de uma história ainda por fazer. O que a Cinemateca agora não podia deixar de fazer era evocar Pedro Hestnes, falecido em Junho passado, aos 49 anos. Ver, e dar a ver, entre filmes muito conhecidos e filmes muito desconhecidos (como os do francês FJ Ossang, por exemplo) o que o cinema quis fazer dele. Que foi tanto. E que devia ter sido ainda tanto mais. E depois disto, Pedro, faz de nós o que quiseres.
Não existem filmes para o ciclo selecionado
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