CICLO
Derek Jarman – Queer Lisboa


Este ano, a colaboração da Cinemateca com o Queer Lisboa, que chega à sua vigésima edição, toma a forma de um Ciclo dedicado a Derek Jarman (1942-1994), com uma retrospetiva parcial da sua obra, num total de catorze programas. Embora Jarman seja conhecido sobretudo como cineasta (trinta e sete curtas-metragens, onze longas e vinte vídeos musicais), exerceu muitas outras atividades artísticas. Foi um pintor de talento e estudou belas-artes na Slade School of Arts, em Londres. Foi também cenógrafo (estreou-se nesta função em THE DEVILS, de Ken Russell, com quem também trabalhou em THE SAVAGE MESSIAH e numa montagem de The Rake’s Progress, de Strawinsky), jardineiro (o seu jardim foi mesmo objeto de um livro e foi preservado depois da sua morte), militante gay e escritor, autor de uma autobiografia, um livro de poemas, dois volumes de diários, dois livros sobre o seu trabalho e um estudo sobre o seu jardim. As inúmeras facetas da sua personalidade e da sua obra tornam difícil uma classificação. Como observou Brian Hoyle, o trabalho de Derek Jarman é “demasiado experimental para ser considerado ‘mainstream’, mas outros consideram a sua obra demasiado conservadora e convencional do ponto de vista artístico para ser completamente aceite como de vanguarda. Mas, para os seus admiradores, Jarman estava no centro daquilo a que Peter Wollen chamou ‘a última Nova Vaga’, a tardia resposta britânica aos grandes movimentos modernistas do cinema europeu posterior à Segunda Guerra Mundial. Pelo facto de ser um dos pais do New Queer Cinema, a sexualidade de Jarman sempre ocupou uma parte significativa no seu trabalho, mas depois de ter sido diagnosticado com o vírus da sida [em dezembro de 1986] a sua sexualidade tornou-se o seu ‘principal fator determinante’”. O itinerário de Jarman levou-o das margens para o centro e daí para uma zona intermédia e, mesmo no seu período final, em que era um nome controverso, porém instalado, alternou filmes de feitura “convencional”, como CARAVAGGIO, com outros de feitura “experimental”, como BLUE. Derek Jarman chegou tardiamente ao cinema, quando se aproximava dos 30 anos e fez os seus primeiros trabalhos em Super-8. Estreou-se na longa-metragem em 1976, com SEBASTIANE, o único peplum em que ninguém usa um peplo, pois todos os atores estão nus (além de falarem em latim). Um filme destes não podia passar despercebido, mesmo pelos que o não levaram a sério e, a seguir, Jarman realizou JUBILEE, um filme imaginativo e pessimista sobre a Grã-Bretanha da era Thatcher, a revolução conservadora que estava a começar. Em 1986, ao realizar CARAVAGGIO, sem dúvida o seu filme mais “convencional” e aquele que teve maior êxito, Jarman consegue apoio financeiro da BBC e doravante todos os seus filmes são realizados em condições financeiras aceitáveis. Mas, fiel aos seus começos e consciente das sérias limitações impostas pela indústria do cinema, evoluiu para um cinema seminarrativo a partir de THE LAST OF ENGLAND, simultaneamente realizando diversos vídeos musicais, sobretudo por razões financeiras. Nos últimos meses da sua vida, como outros doentes de sida, Jarman perdeu a vista. Realizou então o seu filme mais experimental e mais comovente, BLUE, em que, sobre uma tela inteiramente azul (a única cor que ainda conseguia vislumbrar), ouvimos a sua voz e a de alguns amigos seus falar de coisas diversas. Vinte e dois anos depois da sua morte, Derek Jarman não é visto apenas como um cineasta, mas como um artista multifacetado e um homem profundamente imerso no tempo em que viveu. Esta retrospetiva conta com a apresentação de dois documentos sobre o seu trabalho e diversas curtas-metragens de cineastas e artistas que pertencem à mesma constelação que ele. O programa inclui um debate, sob o mote “Derek Jarman and the Last of England”, a realizar no dia 22, na sala M. Félix Ribeiro.
 
22/09/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Derek Jarman – Queer Lisboa

The Smiths: The Queen is Dead | The Garden
duração total da projeção: 104 min | M/12
 
23/09/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Derek Jarman – Queer Lisboa

The Court of Miracles | The Technology of Souls | The Union is Jacking Up
duração total da projeção: 73 min | M/12
23/09/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Derek Jarman – Queer Lisboa

Edward II
de Derek Jarman
Reino Unido, 1991 - 87 min
24/09/2016, 15h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Derek Jarman – Queer Lisboa

The Attitude Assumed: Still Life with Still Born | The Miracle of the Rose | Psychic TV: Unclean
duração total da projeção: 53 min | M/12
24/09/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Derek Jarman – Queer Lisboa

Electric Fairy | Blue
duração total da projeção: 85 min | M/12
22/09/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Derek Jarman – Queer Lisboa

Em colaboração com o Queer Lisboa 2016
The Smiths: The Queen is Dead | The Garden
duração total da projeção: 104 min | M/12
THE SMITHS: THE QUEEN IS DEAD
de Derek Jarman, Richard Heslop, John Maybury
Reino Unido, 1986 – 13 min
THE GARDEN
de Derek Jarman
com as vozes de Michael Gough, Tilda Swinton, Stephen McBride
Reino Unido, Alemanha, Japão, 1990 – 91 min / legendado eletronicamente em português

THE GARDEN é considerado um dos filmes mais radicais de Jarman, do ponto de vista formal. Quase totalmente desprovido de diálogos, marcado por uma forte imagética gay, o filme narra duas histórias paralelas, às quais se sobrepõe e figura de Jesus Cristo: numa história, uma mulher apresenta o seu bebé aos fotógrafos da comunicação social e tenta fugir deles; na outra, dois homens que são amantes são presos e martirizados. ”THE GARDEN é um filme intensamente pessoal que apresenta com extraordinária complexidade a forma como Jarman vê o mundo contemporâneo. O espectador perde naturalmente, de vez em quando, a visão panorâmica do universo peculiar em que o visionamento do filme o mergulha. Mas o filme opera um magnetismo tão forte que acaba por constituir uma experiência compensadora e inesquecível” (Frederico Lourenço). A abrir a sessão, um filme musical sobre os The Smiths, já apresentada no dia 19. THE SMITHS é uma primeira exibição na Cinemateca.
23/09/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Derek Jarman – Queer Lisboa

Em colaboração com o Queer Lisboa 2016
The Court of Miracles | The Technology of Souls | The Union is Jacking Up
duração total da projeção: 73 min | M/12
THE COURT OF MIRACLES
THE TECHNOLOGY OF SOULS
THE UNION IS JACKING UP
de John Maybury
Reino Unido, 1982, 1981, 1985 – 44, 11, 18 min / legendados eletronicamente em português

Pintor, escritor e realizador, autor de filmes “mainstream”, como LOVE IS THE DEVIL (1998) e THE JACKET (2005), John Maybury foi, no início da sua carreira, um colaborador próximo de Derek Jarman. Com apenas 20 anos, concebeu os cenários de JUBILEE e também colaborou em THE LAST OF ENGLAND e em WAR REQUIEM. Os três filmes da sessão datam do período em que Maybury era um dos nomes mais conhecidos do cinema underground britânico. THE COURT OF MIRACLES analisa diversas formas de alienação que nos são impostas; em THE TECHNOLOGY OF SOULS um modelo feminino posa para a câmara; em THE UNION IS JACKING UP Maybury presta homenagem a alguns amigos, enquanto faz uma colagem de noticiários sobre a Grã-Bretanha. Primeiras exibições na Cinemateca.
23/09/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Derek Jarman – Queer Lisboa

Em colaboração com o Queer Lisboa 2016
Edward II
de Derek Jarman
com Steven Waddington, John Lynch, Andrew Tiernan
Reino Unido, 1991 - 87 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Adaptação, em cenários e guarda-roupa modernos, do drama de Marlowe sobre Eduardo II de Inglaterra, que reinou em inícios do século XIV e, ao ser deposto, foi assassinado de maneira atroz, pelo facto de ser homossexual. A encenação é extremamente despojada, com cenários quase desprovidos de mobiliário, e o uso de música eletrónica. Giovanni Grazzini observou que “o texto de Marlowe, reelaborado em certos trechos, exprime a violência celerada na qual se lê o ódio obsceno dos poderosos contra aqueles que buscam, ainda que por ínvios caminhos, o absoluto do amor”.
24/09/2016, 15h30 | Sala Luís de Pina
Derek Jarman – Queer Lisboa

Em colaboração com o Queer Lisboa 2016
The Attitude Assumed: Still Life with Still Born | The Miracle of the Rose | Psychic TV: Unclean
duração total da projeção: 53 min | M/12
THE ATTITUDE ASSUMED: STILL LIFE WITH STILL BORN
THE MIRACLE OF THE ROSE
de Ceryth Wyn Evans
PSYCHIC TV: UNCLEAN
de Ceryth Wyn Evans, John Maybury
Reino Unido, 1980, 1984, 1984 / 19, 25, 9 min / legendados eletronicamente em português

Ceryth Wyn Evans é um dos mais conhecidos artistas conceptuais britânicos da sua geração e também se dedica à realização de filmes. Colaborou com Derek Jarman em THE ANGELIC CONVERSATION, como montador, e em THE LAST OF ENGLAND, como diretor de fotografia. Em THE ATTITUDE ASSUMED, Evans manipula imagens de um anúncio de produtos de luxo com as de uma exposição sobre fetos, numa interrogação sobre o desejo e a identidade sexual. THE MIRACLE OF THE ROSE tem como ponto de partida o romance epónimo de Jean Genet, que é reformulado numa série de intensos segmentos. O Psychic TV foi um grupo experimental de músicos e de “video art”, muito ativo na Grã-Bretanha nos anos oitenta. UNCLEAN foi o vídeo realizado por Ceryth Wyn Evans para o grupo. Primeiras exibições na Cinemateca.
24/09/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Derek Jarman – Queer Lisboa

Em colaboração com o Queer Lisboa 2016
Electric Fairy | Blue
duração total da projeção: 85 min | M/12
ELECTRIC FAIRY
BLUE
de Derek Jarman
com as vozes de Derek Jarman, Twilda Swinton, John Quentin, Nigel Terry
Reino Unido, 1971, 1993 – 6 e 79 min / legendados eletronicamente em português

A sessão reúne o primeiro e o último filme realizados por Jarman. THE ELECTRIC FAIRY, considerado perdido durante muito tempo, foi recuperado há cerca de dois anos e apresentado em vários festivais. A palavra “fairy” designa uma fada mas também um homossexual e o filme de Jarman, mostra-nos um jovem melancólico, vestido com roupas de mulher. BLUE foi realizado quando Jarman cegara devido às sequelas da sida. A única imagem que vemos é a tela totalmente coberta pela cor azul, enquanto em voz off ouvimos lembranças, comentários, narrativas e reflexões de Derek Jarman, num dos raros filmes realmente testamentários alguma vez feitos. ELECTRIC FAIRY é uma primeira exibição na Cinemateca.