CICLO
Dez Vistas de Jacques Rivette


No final de janeiro deste ano perdemos Jacques Rivette, nome maior da “nouvelle vague”, nome maior do cinema moderno, nome maior do cinema europeu do último meio século. Rivette esteve no centro da revolução crítica operada a partir das páginas dos Cahiers du Cinéma durante a década de cinquenta, juntamente com outros futuros cineastas como Godard, Truffaut ou Rohmer. Como eles passado à realização na viragem dessa década para a seguinte, Rivette praticou o cinema mais “excêntrico” de entre todos os representantes da “nouvelle vague”, numa “excentricidade”, tremendamente pessoal e idiossincrática, que o tempo mais não fez se não adensar, e que resultou nalguns dos filmes mais “radicais”, em todos os sentidos que a palavra pode conter, de toda a modernidade cinematográfica, como é o caso dessas obras imensas, inesgotáveis, que são OUT 1 e L’AMOUR FOU. Rivette, como crítico e depois já como cineasta, muito discorreu sobre a ideia de “mise en scène”, apresentada por ele como um “segredo”, o “segredo por trás do segredo”, que foi a expressão que puxámos para título do Ciclo integral que lhe dedicámos em 2008. Agora, nesta evocação “in memoriam” seis meses depois da sua morte, faremos um percurso mais curto por alguns momentos especialíssimos da sua obra, dos primeiros filmes aos derradeiros – uma pequena viagem, com dez paragens, pelo labirinto Rivettiano, feito de narrativas fugidias e carregadas de mistério (o “complot”, derivado da sua admiração por Lang, era uma das figuras ficcionais preferidas de Rivette), feito do confronto entre o artifício (teatral, por exemplo) e a realidade rugosa e material (do Tempo e da duração, elementos especialmente trabalhados pelo cineasta), feito de uma singular mistura de austeridade e sentido de diversão (o humor, que não se destaca habitualmente muito, é um condimento sibilino de muitos filmes seus), feito de uma maneira de realçar a presença e o trabalho dos atores que era, ela própria, um “segredo” que Rivette levou com ele.
Do núcleo central da “nouvelle vague”, e depois das mortes de Truffaut, Demy, Chabrol, Rohmer, Marker, Resnais, era um dos últimos. Quando Jean-Luc Godard morrer, daremos o último “hurrah”.
 
 
11/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dez Vistas de Jacques Rivette

Le Pont du Nord
de Jacques Rivette
França, 1981 - 129 min
 
11/07/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dez Vistas de Jacques Rivette

Ne Touchez pas la Hache
de Jacques Rivette
França, Itália, 2007 - 137 min
13/07/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dez Vistas de Jacques Rivette

Le Coup du Berger | 36 Vues du Pic Saint-Loup
duração total da projeção: 112 min | M/12
14/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dez Vistas de Jacques Rivette

Merry-Go-Round
de Jacques Rivette
França, 1977-78 - 160 min
18/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dez Vistas de Jacques Rivette

La Belle Noiseuse – Divertimento
A Bela Impertinente
de Jacques Rivette
França, 1991 - 130 min
11/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dez Vistas de Jacques Rivette
Le Pont du Nord
de Jacques Rivette
com Bulle Ogier, Pascale Ogier, Pierre Clémenti
França, 1981 - 129 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Talvez o filme em que a figura do “complot”, tão cara às construções narrativas de Rivette, mais se aproximou de um ensaio sobre a paranoia. É a história de uma mulher, ex-terrorista, tornada claustrofóbica pelos anos passados na prisão, e do encontro dela com uma jovem que percorre Paris à procura dos “Max”, obscuros inimigos que têm a aparência de leões. Este par central de personagens é interpretado por Bulle Ogier e pela sua filha, a infeliz Pascale, que viria a morrer na véspera de fazer 26 anos. Regresso de Rivette, depois do seu “eclipse” nos finais dos anos setenta. A apresentar em cópia digital.
11/07/2016, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Dez Vistas de Jacques Rivette
Ne Touchez pas la Hache
de Jacques Rivette
com Jeanne Balibar, Guillaume Depardieu, Bulle Ogier, Michel Piccoli
França, Itália, 2007 - 137 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma tragédia balzaquiana? O penúltimo Rivette tem generais oitocentistas, freiras apaixonadas, cartas, bailes, escândalos, raptos. Revisitando de modo contidamente irónico o “drama romântico de guarda-roupa”, Rivette não se afasta do seu perpétuo gosto pelos artifícios e convenções teatrais, sobretudo quando põem em sofisticado diálogo os homens e as mulheres. Um dos mais belos filmes da década de 2000, “tout court”, com Jeanne Balibar e Guillaume Depardieu (filho de Gérard) em interpretações estarrecedoras.
13/07/2016, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dez Vistas de Jacques Rivette
Le Coup du Berger | 36 Vues du Pic Saint-Loup
duração total da projeção: 112 min | M/12
LE COUP DU BERGER
de Jacques Rivette
com Virginie Vitry, Jacques Doniol-Valcroze, Jean-Claude Brialy
França, 1956 – 28 min / legendado eletronicamente em português
36 VUES DU PIC SAINT-LOUP
36 Vistas do Monte Saint-Loup
de Jacques Rivette
com Jane Birkin, Sergio Castellitto, André Marcon
França, 2009 – 84 min / legendado em português

O último filme de Jacques Rivette, que já estava muito doente quando o realizou, retoma alguns dos seus temas fundamentais e, na sua enorme serenidade “paisagística”, reenvia para algumas das suas experiências dos anos setenta. O palco (neste caso o de um circo) como o cenário “perigoso” onde tudo se arrisca e tudo se expõe; e, na história de Birkin e Castellito, os “movimentos” amorosos feitos de aproximações e esquivas. Um muito belo fecho de obra. A abrir a sessão LE COUP DU BERGER, primeira realização profissional de Rivette, conta um jogo amoroso, “em que só uma principiante poderia perder”, assim como só um principiante no jogo de xadrez pode ser vencido pelo “xeque do pastor” do título. A fechar o Ciclo, uma “vista” do início e do fim da obra de Jacques Rivette, na mesma sessão.
 
14/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dez Vistas de Jacques Rivette
Merry-Go-Round
de Jacques Rivette
com Maria Schneider, Joe Dallessandro, Danielle Gegauff
França, 1977-78 - 160 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Descontando a não concretizada primeira versão de MARIE ET JULIEN (que tinha Albert Finney e Leslie Caron), MERRY-GO-ROUND tem o mais estranho elenco de qualquer filme de Jacques Rivette: Maria Schneider, acabada de sair do ÚLTIMO TANGO de Bertolucci, e Joe Dallessandro, nunca verdadeiramente saído da “fábrica” de Andy Warhol. Formam um par, criado pelas circunstâncias, que se lança por Paris fora à procura de uma mulher desaparecida. Terminado em 1978, o filme estreou apenas em 1983. A apresentar em cópia digital.
18/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dez Vistas de Jacques Rivette
La Belle Noiseuse – Divertimento
A Bela Impertinente
de Jacques Rivette
com Emmanuelle Béart, Michel Piccoli, Jane Birkin
França, 1991 - 130 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos filmes mais célebres do cineasta francês, e certamente o mais popular em muitos anos. Vagamente adaptado de uma história de Balzac, LA BELLE NOISEUSE estrutura-se num “duelo” entre um pintor (Michel Piccoli) e o seu modelo (Emmanuelle Béart). E o filme é tanto sobre o que passa, epidermicamente, através dessa relação, tensa e desgastante, como uma espantosa reflexão sobre a criação artística e o “segredo” das grandes obras de arte. A apresentar na versão DIVERTIMENTO, que mais do que como simples remontagem foi encarada por Rivette como uma versão “alternativa”, com implicações no ponto de vista narrativo, muito mais próximo aqui do da personagem de Béart do que da de Piccoli. DIVERTIMENTO é exibido pela primeira vez na Cinemateca.