CICLO
História Permanente do Cinema Português


No segundo mês desta rubrica insistimos no propósito de resgatar filmes do esquecimento ou, pelo menos, de longos períodos de invisibilidade, exibindo dois títulos entre os quais se nota uma óbvia rima e muitas, muitas diferenças. Primeira longa-metragem do ex-oficial da Força Aérea Quirino Simões (realizador de curtas para o exército e posterior autor da longa propagandística ANGOLA NA GUERRA E NO PROGRESSO, que, à época, o colou indelevelmente ao regime), A CAÇADA DO MALHADEIRO foi objeto esquecido até que, no ano transato, a Cinemateca se associou ao MOTELx para o exibir no contexto da busca que ali está a ser feita de um hipotético cinema “exploitation” português. Mostrado nesse festival em setembro último, em cópia tirada na mesma ocasião, trazemo-lo agora às nossas salas, onde nunca foi projetado.
Invisível tem sido também GUERRA DO MIRANDUM de Fernando Matos Silva, obra de outra génese e natureza, que tem em comum com o anterior o facto de se tratar de filmes de época dedicados às consequências locais, no interior de Portugal, de invasões estrangeiras não muito distantes no tempo – a Guerra Peninsular de inícios de oitocentos, no filme de Quirino Simões, e a “guerra dos sete anos”, ocorrida cerca de meio século antes, no de Matos Silva. Fora isso, quase tudo o separa do anterior, estando agora em causa a revisitação de um elo quase esquecido na obra de alguém que, enquanto assistente e depois realizador, diretor de produção e colaborador a vários níveis, veio a integrar a geração do Cinema Novo Português e a deixar marcas nos destinos coletivos dela até ao presente.
 

 
05/02/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

Guerra do Mirandum
de Fernando Matos Silva
Portugal, 1981 - 120 min | M/12
 
12/02/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

A Caçada do Malhadeiro
de Quirino Simões
Portugal, 1967 - 82 min | M/12
05/02/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
Guerra do Mirandum
de Fernando Matos Silva
com José Gomes, Fernando Filipe, Manuel Cavaco, Amilcar Botica, Teresa Madruga
Portugal, 1981 - 120 min | M/12

No dia 8 de maio de 1762 centenas de habitantes de Miranda do Douro foram massacrados na invasão espanhola ocorrida no contexto da “guerra dos sete anos”, em que Portugal se viu envolvido mercê da aliança com Inglaterra. Evocando a invasão e a reação popular a ela, o filme aborda a guerra inconsequente (“pobres a invadir outros pobres”, como terá dito o próprio comandante invasor), e, como quase sempre no nosso cinema, usa o estatuto de “filme de época” como território para falar de um Portugal mais recente. Marcaram-no ainda especialmente a referência ao dialeto mirandês, o uso do cancioneiro transmontano e a música de Fausto. Primeira exibição na Cinemateca.

12/02/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
A Caçada do Malhadeiro
de Quirino Simões
com Fernando Gusmão, Carmen Mendes, Rui Mendes, Baptista Fernandes
Portugal, 1967 - 82 min | M/12

Única ficção portuguesa dedicada ao tema das “invasões francesas” anterior às LINHAS DE WELLINGTON de Valeria Sarmiento, A CAÇADA DO MALHADEIRO é um inusitado objeto no contexto do nosso cinema, cujos paralelos com os filmes “exploitation” dos anos sessenta e setenta, levaram João Monteiro (MOTELx), a considerá-lo um “rape-and-revenge lusitano”, hipotético membro não premeditado e “cem por cento português” daquela família europeia. A caçada em questão refere-se a um episódio da retirada do exército francês em que, depois da violação da filha por um grupo de soldados invasores, um camponês persegue e mata sucessivamente os vários culpados. Filme de produção muito precária, combina essa precaridade com uma não menos inusitada violência, cujo resultado final é dificilmente enquadrável, a não ser porventura, justamente, à luz desse desafio de comparação externa. Primeira exibição na Cinemateca.