CICLO
Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard


Cyril Neyrat é crítico, programador e professor de cinema. Estudou ciências políticas e cinema e ensinou estética e história do cinema em Paris VII, Paris III e na escola de arte e design de Genève. Foi editor e membro do comité de redação das revistas francesas Vertigo e Cahiers du Cinéma e dirige as edições Independencia. Como programador, trabalha com festivais de cinema como o FID Marseille e a Viennale e tem colaborado com a Cinemateca nos últimos anos através da sua ligação ao programa “O Cinema à Volta de Cinco Artes, Cinco Artes à Volta do Cinema”, no contexto do Festival Temps d’Images, acompanhando em Lisboa várias das diversas edições realizadas na Cinemateca como programador e autor de textos publicados em português nos respetivos catálogos. É autor de uma monografia sobre François Truffaut (ed. Cahiers du cinéma), de livros de entrevistas com Pedro Costa (publicado em português pela Orfeu Negro e a Midas Filmes: Um Melro Dourado, Um Ramo de Flores, Uma Colher de Prata), Miguel Gomes, Jean-Claude Rousseau, Albert Serra (ed. Capricci) ou Pierre Creton (ed. Independencia), para além de inúmeros textos publicados em obras coletivas e catálogos. Dirigiu, com Philippe Lafosse, a edição dos escritos de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (ed. Independencia). Tem estudado particularmente as obras de Carmelo Bene, Jean-Daniel Pollet, Pier Paolo Pasolini e Jean-Luc Godard.
Jean-Luc Godard, é sabido, alimentado na cinefilia pura e dura da cinemateca francesa de Henri Langlois, começou a “dar-nos trabalho” como “jovem turco” nas páginas do início amarelo dos Cahiers du Cinéma em 1950, estreando-se cinco anos depois como realizador (UNE FEMME COQUETTE), outros tantos antes de À BOUT DE SOUFFLE. Incomparável tem sido ao longo de mais de cem filmes (curtas, muito curtas e longas-metragens, mais ou menos “categorizáveis”, frequentemente assombrosamente “inclassificáveis”) no curso de mais de seis décadas que somam e seguem em pujança com FILM SOCIALISME e ADIEU AU LANGAGE (2010/2014, as mais recentes longas). Na autobiografia de 1998, Jean-Luc Godard par Jean-Luc Godard (ed. Cahiers du cinéma, coordenada por Alain Bergala), foi ele quem propôs como capítulos da sua filmografia até esse momento “os anos Karina (1960-67)”, “os anos Mao (1968-74)”, “os anos vídeo (1975-1980)”, “os anos entre o céu e a terra (1980-88)”, “os anos memória (1988-1998)”, onde cabem a Nouvelle Vague, a militância política, o encontro com Jean-Pierre Gorin e a experiência coletiva do Grupo Dziga Vertov, o trabalho com a tecnologia do vídeo, o início da colaboração com Anne-Marie Miéville no estúdio Sonimage de Grenoble, na Suíça, onde nasceu, o monumental empreendimento das HISTOIRE(S) DU CINÉMA composto de associações e sobreposições viscerais de elementos, matérias, referências, atravessadas pela ideia – e o aforismo – “montagem, minha bela inquietação”. Foi nele que explorou no limite preocupações que continuam a ocupá-lo, refletindo sobre o próprio cinema, sobre a História e sobre o século XX, a “única história” e “todas as histórias”. No século XXI (ÉLOGE DE L’AMOUR, NOTRE MUSIQUE, FILM SOCIALISME, ADIEU AU LANGAGE...) JLG continua, ágil, a reinventar-se, simultaneamente (re)inventando as novas possibilidades digitais do cinema como um dos mais singulares e seminais realizadores de cinema que é. Na Cinemateca, as duas grandes retrospetivas da sua obra realizaram-se em 1985 (integral, até JE VOUS SALUE MARIE) e em 1999 (com os filmes realizados entre 1985 e 1999). A última teve lugar em 2011 e chamou-se “Elogio de Jean-Luc Godard”.
Como rubrica regular de programação as “Histórias do Cinema” assentam na ideia de um binómio, para cinco tardes e em torno de cinco filmes (ou em cinco sessões, com número variável de obras projetadas): dum lado, um investigador de cinema – historiador, crítico, ensaísta, podendo também tratar-se de realizador ou técnico, por exemplo; de outro, um autor ou um tema histórico abordado pelo primeiro. O investigador discorre e conversa sobre o tema numa sequência de encontros que são antes de mais pensados como uma experiência cumulativa.

 

sessões-conferência | apresentadas e comentadas por Cyril Neyrat, em inglês

 

excecionalmente esta rubrica decorre entre o final de setembro e o início de outubro

INFORMAÇÃO SOBRE AS SESSÕES E VENDA ANTECIPADA DE BILHETES
Para esta rubrica, a Cinemateca propõe um regime de venda de bilhetes específico, fazendo um preço especial e dando prioridade a quem deseje seguir o conjunto das sessões. Assim, quem deseje seguir todas as sessões (venda exclusiva para a totalidade das sessões, máximo de duas coleções por pessoa) poderá comprar antecipadamente a sua entrada pelo preço global de € 22 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 12 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 10) entre 21 e 26 de setembro. Os lugares que não tenham sido vendidos serão depois disponibilizados através do normal sistema de venda no próprio dia de cada sessão, no horário de bilheteira habitual e de acordo com o preço específico destas sessões, € 5 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 3 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 2,60).

 
28/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard

Vivre Sa Vie
Viver a Sua Vida
de Jean-Luc Godard
França, 1962 - 82 min
 
29/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard

Vladimir Et Rosa
de Grupo Dziga Vertov
França, Alemanha, Estados Unidos, 1970 - 92 min
30/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard

Puissance de la Parole | Ici et Ailleurs
28/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard
Vivre Sa Vie
Viver a Sua Vida
de Jean-Luc Godard
com Anna Karina, Saddy Rebbot, André S. Labarthe
França, 1962 - 82 min
legendado em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Cyril Neyrat, em inglês

Com uma assombrosa fotografia a preto e branco de Raoul Coutard, VIVRE SA VIE é um filme construído para Anna Karina, que aqui demonstra que, além de ser um ícone da Nouvelle Vague, foi também uma fabulosa atriz – e muito poucos rostos passariam incólumes na comparação com a Falconetti da JEANNE D'ARC de Dreyer (filme que a personagem de Karina vai ver, numa sequência de VIVRE SA VIE), também um sinal do génio e ousadia de Godard. Godard em homenagem a Dreyer. Os grandes planos de Karina em frente aos grandes planos de Falconetti.

29/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard
Vladimir Et Rosa
de Grupo Dziga Vertov
com Yves Afonso, Juliet Berto, Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin, Ernest Menzer, Claude Nedjar, Anne Waizemsky
França, Alemanha, Estados Unidos, 1970 - 92 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Cyril Neyrat, em inglês

Dos anos Dziga Vertov (o último assinado pelo coletivo fundado por Godard em 1968, sem os créditos de realização atribuídos a JLG e a Jean-Pierre Gorin como depois sucederia), VLADIMIR ET ROSA é o caso do filme em que o Grupo toma um facto político – o processo conspirativo dos “8 de Chicago”, que também interessou Nick Ray por volta de 1969 para WE CAN’T GO HOME AGAIN – para o representar numa interpretação livre que associa o processo a um microcosmos revolucionário da sociedade francesa em que Godard e Gorin interpretam respetivamente os papeis de Vladimir Lenine e Karl Rosa, discutindo política e as possibilidades da sua representação pelo cinema. É também um filme marxista, em que surge uma fotografia dos irmãos Marx.

30/09/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema:Cyril Neyrat / Jean-Luc Godard
Puissance de la Parole | Ici et Ailleurs
duração total da projeção: 78 min | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Cyril Neyrat, em inglês

PUISSANCE DE LA PAROLE
de Jean-Luc Godard
com Jean Bouise, Lydia Andrei, Jean-Michel Iribarren
França, 1988 – 25 min / legendado eletronicamente em português
ICI ET AILLEURS
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
com Jean-Pierre Bamberger
França, 1976 – 53 min / legendado eletronicamente em português

Um dos vídeos mais famosos de Godard, PUISSANCE DE LA PAROLE resultou de uma encomenda da France Télécom. A partir de um texto de Poe sobre o poder das palavras, Godard aborda a perpétua reverberação das nossas palavras no Universo, no que é também uma maneira de abordar a questão das relações entre o Humano e o Divino – tema a que voltaria. Em ICI ET AILLEURS, rushes de um filme inacabado sobre a resistência palestiniana, rodado quatro anos antes sob a égide do grupo Dziga Vertov, são mostradas a um casal que, diante do televisor, recorda a sua experiência passada durante os anos de militância. Uma obra raramente exibida, que toca uma questão sensível e que aborda o modo como se organizam aqui (“ici”) imagens que foram registadas algures (“ailleurs”). Filme sobre um conflito, é antes de mais uma reflexão sobre a própria televisão.