CICLO
Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol


Poucos lugares foram tão indissociáveis da sua época com a Factory de Andy Warhol nos anos sessenta nova-iorquinos. Era um estúdio e teve várias moradas em Manhattan (as duas primeiras no nº 231 da East 47th Street, até 1968, e no Decker Building do nº 33 de Union Square, de onde em 73 seguiu para a Broadway). O estúdio era “a fábrica”, foi a fábrica da pop art simultânea à aliança do culto entre a criatividade pop e um modo de estar pop, sob a luz de holofotes intermitentemente coloridos. Como mais tarde disse John Cale “Não era à toa que se chamava The Factory. Era o sítio da linha de montagem dos skilscreens. Enquanto uma pessoa fazia um silkscreen, uma outra filmava um screen test. Todos os dias havia alguma coisa nova”. Também havia as litografias, as festas, os concertos, acontecimentos. Reinventando eletricamente o conceito do “estúdio de artista”, animada por Warhol, a Factory foi o fervilhante ponto de encontro das superestrelas que formavam a sua corte, de artistas, músicos, o palco dos Velvet Underground & Nico, dos musicais e visuais Exploding Plastic Inevitable. E foi cenário e sala de projeção dos filmes de Warhol, primeiro a solo, depois em dupla com Paul Morrissey, trazido em 65 por Gerard Malanga. Impregnado deste mesmo espírito, voltando do avesso todo o tipo de convenções, o experimentalismo underground marcou o seu cinema, também atravessado por um forte sentido de sexualidade, explicitamente em filmes como BLUE MOVIE (1969) ou antes dele COUCH, um dos seus primeiros títulos, aqui proposto ao lado de THE VELVET UNDERGROUND AND NICO: A SYMPHONY OF SOUND, I, A MAN e LONESOMECOWBOYS. Só este último foi já apresentado na Cinemateca, e apenas uma única vez, em 1990.

 
05/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol

THE VELVET UNDERGROUND AND NICO: A SYMPHONY OF SOUND
de Andy Warhol
Estados Unidos, 1966 - 70 min
 
12/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol

I, A MAN
de Andy Warhol, Paul Morrissey
Estados Unidos, 1967 - 97 min
19/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol

LONESOME COWBOYS
de Andy Warhol
Estados Unidos, 1968 - 109 min
26/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol

COUCH
de Andy Warhol
Estados Unidos, 1964 - 46 min
05/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol
THE VELVET UNDERGROUND AND NICO: A SYMPHONY OF SOUND
de Andy Warhol
com Nico, Lou Reed, John Cale, Maureen Tucker
Estados Unidos, 1966 - 70 min
sem legendas | M/12

Esta “sinfonia de som” remete para o lendário álbum dos lendários The Velvet Underground & Nico, o da lendária “capa da banana”, de Warhol. Em 1966, os Velvet tinham-se encontrado com Andy Warhol, que os juntara a Nico e lhes oferecera a Factory como poiso associando-os aos Exploding Plastic Inevitable (a série de espetáculos nova-iorquinos em 66/67 dos Velvet & Nico acompanhados por projeções de filmes de Warhol e performances ao vivo). O álbum é do ano seguinte. Provavelmente destinado a um destes “acontecimentos multimédia” concebidos por Warhol, o filme regista ensaios da banda na Factory. O som é quase exclusivamente musical – os temas dos Velvet –, exceção feita aos parcos diálogos de uma cena final que regista a entrada de agentes da polícia nova-iorquina na Factory trazidos por queixas de excesso de barulho. Fora isso, o filme concentra-se na banda, em Nico, no filho dela que também por ali está. Muitas vezes muito próxima deles, no preto e branco granulado do 16mm, a imagem é compassada e elétrica, com zooms rápidos, planos entrecortados. Primeira exibição na Cinemateca.

12/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol
I, A MAN
de Andy Warhol, Paul Morrissey
com Tom Baker, Cynthia May, Nico, Ingrid Superstar, Stephanie Graves, Valerie Solanas, Bettina Coffin, Ultra Violet
Estados Unidos, 1967 - 97 min
legendado eletronicamente em português | M/18

Warhol concebeu I, A MAN em “reflexo experimental” colorido à popularidade do erótico a preto e branco I, A WOMAN (Mac Ahlberg, 1965) e da onda sexploitation que o filme escandinavo favoreceu. Na versão de Warhol, o protagonista (masculino) mantém uma série de encontros sexuais com mulheres ao longo de um dia em Nova Iorque. Conta-se que Nico aceitou participar em I, A MAN com a condição de contracenar com Jim Morrison, o que só não terá acontecido por interferência do empresário dos The Doors que o demoveu a ele da ideia. Do elenco das “vedetas Warhol” participa também Valerie Solanas (em contracena com Tom Baker num encontro numas escadas célebre como um dos momentos altos do filme), que Norman Mailer apelidaria “a Robespierre do feminismo”, a mulher que anos mais tarde tentou assassinar Warhol numa famosa ação falhada. Primeira exibição na Cinemateca.

19/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol
LONESOME COWBOYS
de Andy Warhol
com Joe Dallesandro, Eric Emerson, Taylor Mead, Viva, Julian Burroughs
Estados Unidos, 1968 - 109 min
legendado eletronicamente em português | M/18

Sátira homoerótica aos westerns de Hollywood, ou “western pornográfico”, filmado no Arizona, com um argumento que originalmente pretenderia evocar Romeu e Julieta (traço mantido no nome das personagens de Ramona e Julian). Ou o filme que desloca o ambiente da Factory para o oeste americano, como já se escreveu. Por altura da estreia, numa não muito elogiosa crítica no The New York Times, Vincent Canby notava a perversidade de Warhol e o facto de este filme ser “mais adolescente do que homossexual” apesar da profusão de nudez, profanidade, contacto corporal. LONESOME COWBOYS chegou a estar sob a atenção do FBI por circulação de material obsceno e foi apreendido pela polícia em Atlanta num episódio que envolveu a prisão dos trabalhadores do cinema onde estava a ser exibido.

26/06/2015, 24h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Sexta à Meia-Noite | Na Factory de Warhol
COUCH
de Andy Warhol
com Ondine, Mary Woronov, Gerard Malanga, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Taylor Mead
Estados Unidos, 1964 - 46 min
mudo, sem diálogos | M/18

É um dos títulos da fase inicial do cinema de Warhol, do mesmo ano de EAT, BLOW JOB ou EMPIRE e costuma ser descrito como o filme que fixa uma série de encontros sexuais no célebre sofá vermelho da Factory, a peça de mobiliário trazida para o estúdio por Billy Name que se tornou um ícone do estúdio na sua “primeira vida” na 47th Street (e também surge em BLOW JOB). “Mas afinal, o que é a pornografia? As ‘revistas de músculos’ são designadas pornografia, mas na verdade não o são. Ensinam-nos a ter bons corpos. São as revistas de moda da rua 42… Penso que os filmes devem apelar a interesses sexuais… Os filmes de Hollywood não passam de esquemas comerciais. COUCH foi real. Mas não foi feito como pornografia – foi feito como um exercício, uma experiência. É no entanto certo que penso que os filmes nos devem excitar, nos devem entusiasmar sobre pessoas, devem ser sexuais” (Andy Warhol). Primeira exibição na Cinemateca.