CICLO
História Permanente do Cinema Português


A viagem que estamos a fazer nesta rubrica pelo nosso cinema da década de quarenta teria de passar pelo mundo das coproduções com Espanha, e, dentro deste, pelo que sobreviveu das versões portuguesas dos filmes de Ladislao Vajda. Húngaro com vasta obra europeia realizada em Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha entre 1932 e 1965, assinou três longas de produção luso-espanhola entre 1945 e 1947 (depois de ter já contado com Milú no anterior DOCE LUNAS DE MIEL de 1944). Dos três, O DIABO SÃO ELAS foi o primeiro, havendo ainda que recordar TRÊS ESPELHOS e VIELA, RUA SEM SOL/BARRIO, de 1947 (o último apenas conservado na versão espanhola). Aqui estamos portanto em terreno híbrido, para não dizer essencialmente espanhol, uma vez que se trata da adaptação de uma conhecida peça do teatro madrileno (Los Cinco Lobitos, dos irmãos Quintero), rodada em Espanha com exceção dos exteriores captados por Aquilino Mendes na zona de Lisboa e Estoril, e na qual participaram alguns atores portugueses, vários dos quais porém só na versão lusófona (foi este o caso de Barreto Poeira, Humberto Madeira e Regina Montenegro, tendo as irmãs Meireles, Rosário e Milita, entrado nas versões em ambas as línguas). Mas até esse hibridismo, por pouco logrado que fosse, foi uma das marcas das tendências e dos sonhos da época.
 
 
04/11/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

O Diabo São Elas / Cinco Lobitos
de Ladislao Vajda
Portugal, Espanha, 1945 - 86 min
 
04/11/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
O Diabo São Elas / Cinco Lobitos
de Ladislao Vajda
com Barreto Poeira, Ana Maria Campoy, Antonio Casal, Milita Meireles, Rosário Meireles
Portugal, Espanha, 1945 - 86 min
versão portuguesa | M/12
Com longos troços realizados com desenvoltura à maneira da comédia sofisticada centro-europeia e americana, O DIABO SÃO ELAS começa por sofrer muitíssimo, na versão falada em português, pelas próprias deficiências da dobragem. Parece ter sido isso, aliás, que votou o filme ao quase imediato esquecimento entre nós, país sem esse hábito, no qual, como se esperaria, as tentativas feitas no contexto das coproduções acabaram por chocar tanto com a ausência de uma tradição como com a própria falta de uma mínima base industrial competente para ela. Mas se esquecermos estes e outros aspetos do forçado “aportuguesamento” do filme, e pesem embora outras fraquezas e desigualdades dele, veremos porventura o que nos traz de facto, um pouco, a respiração de grandes cinematografias da época: alguma genuína subtileza e ironia na realização, o ritmo, a falta de redundância e o sentido da elipse, assim como uma eficácia técnica que se deverá também ao responsável pela fotografia principal, Enrique Garner. Por baixo dos óbvios problemas que afetam particularmente esta versão, haverá aqui, portanto, um outro filme a descobrir.