CICLO
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado


Espaço aberto na programação da Cinemateca em janeiro de 2015, a rubrica “Realizador Convidado”, regressa este mês de julho, com Edgardo Cozarinsky, a quem a Cinemateca prestou uma homenagem, acompanhada pela publicação de uma brochura, no longínquo ano de 1997. O itinerário de Cozarinsky é peculiar. Nascido e criado em Buenos Aires, que era então uma cidade extremamente cinéfila, Cozarinsky começou por exercer a função de crítico, antes de realizar em 1969 … (PUNTOS SUSPENSIVOS), misto de diário e ensaio, em que procurava “ingenuamente, um cinema ‘absoluto’”. A violenta e perigosa situação política na Argentina levou-o ao exílio em Paris, em 1974, por um período que se estendeu por cerca de vinte anos. Depois de realizar um filme de ficção sobre exílios diversos, LES APPRENTIS SORCIERS, Cozarinsky realizou em 1982 um dos seus filmes mais admirados, LA GUERRE D’UN SEUL HOMME, documentário não tradicional sobre o período da ocupação de França pela Alemanha nazi, no qual a banda sonora é formada essencialmente pelo diário de Ernst Jünger. Num texto do mesmo ano, Cozarinsky escreveu que “as investigações mais estimulantes do cinema atual são as que, tornando pouco nítidas as fronteiras entre ficção e documentário (aquilo que é admitido como tal) conquistam para o cinema territórios que pareciam do domínio exclusivo da palavra escrita. Quer se trate de um diário íntimo, de um panfleto ou de cartas, o filme-ensaio é, hoje, a forma mais livre e mais fresca de reencontrar a ficção, sem parecer procurá-la”. Cozarinsky seguiu por este caminho, alternando “ficções” e “documentários”, até que em 1992 reatou com o seu país natal ao realizar BOULEVARDS DU CRÉPUSCULE, sobre franceses que se exilaram na Argentina durante a Segunda Guerra Mundial, o que lhe permitiu abordar o tema do desenraizamento e do exílio, que está no cerne da sua obra. Depois de realizar um filme sobre os cinquenta anos dos Cahiers du Cinéma, LE CINÉMA DES CAHIERS (2001), Cozarinsky passou a dividir o seu tempo entre Paris e Buenos Aires, com permanências cada vez mais longas na sua cidade natal. Reduziu a sua atividade como cineasta, para se concentrar na literatura, que sempre foi uma das suas paixões, tendo conseguido pleno reconhecimento neste domínio, com quase vinte volumes publicados nos últimos quinze anos. Os livros de contos La Novia de Odesa e Tres Fronteras, o volume de ensaios e crónicas Disparos en la Oscuridad e os romances Lejos de Donde (2009), En Ausencia de Quien (2014) e Dark (2016) são alguns exemplos da sua obra literária. Para esta rubrica “Realizador Convidado”, Cozarinsky escolheu, da sua própria obra, um filme documental e uma ficção (LA GUERRE D’UN SEUL HOMME e LE VIOLON DE ROTHSCHILD), além de três “filmes de câmara”, que ilustram a sua produção recente. Para a sua “carta branca”, elegeu o tema da noite, das aventuras urbanas noturnas, num Ciclo que intitulou “Uma Exploração da Noite”, no qual o seu próprio RONDA NOCTURNA é cotejado com clássicos de Jean Renoir, Charles Laughton, Jules Dassin e Louis Malle, ao lado de obras bem menos vistas, do brasileiro Antonio Carlos Fontoura e do iraniano Ebrahim Golestan.
 
 
11/07/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado

Ronda Nocturna
de Edgardo Cozarinsky
Argentina, 2005 - 81 min
 
11/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado

A Rainha Diaba
de Antonio Carlos Fontoura
Brasil, 1974 - 100 min
12/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado

The Night and the City
Foragidos da Noite
de Jules Dassin
Reino Unido, 1950 - 101 min
13/07/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado

Le Violon de Rothschild
de Edgardo Cozarinsky
França, Suíça, Hungria, 1996 - 101 min
13/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado

Ascenseur pour l’Échafaud
Fim-de-semana no Ascensor
de Louis Malle
França, 1958 - 84 min
11/07/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado
Ronda Nocturna
de Edgardo Cozarinsky
com Gonzalo Heredia, Rafael Ferro, Mariana Anghiler
Argentina, 2005 - 81 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma Exploração da Noite

com a presença de Edgardo Cozarinsky
Última longa-metragem de ficção realizada por Cozarinsky à data de hoje, antes dos seus “filmes de câmara”. Em RONDA NOCTURNA acompanhamos o percurso de um prostituto em Buenos Aires durante uma noite: a sua relação com os clientes, os “colegas”, a polícia, os outros habitantes da noite da cidade. À medida que a história avança, a fronteira entre o imaginário e o real torna-se mais ténue e o filme termina ao nascer do dia. Primeira exibição na Cinemateca, a apresentar em cópia digital.
11/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado
A Rainha Diaba
de Antonio Carlos Fontoura
com Milton Gonçalves, Stepan Nercessian, Odete Lara
Brasil, 1974 - 100 min
Uma Exploração da Noite
Segunda longa-metragem do seu autor, depois de COPACABANA ME ENGANA (1968), realizado num momento em que a pressão da censura afrouxava, A RAINHA DIABA é situado nos “bas fonds” do Rio de Janeiro e narra a clássica história de uma luta de poder entre um traficante de drogas e um jovem ambicioso, que procura ocupar o seu lugar. O primeiro é extremamente violento, mas também é um homossexual “flamejante”, cognominado Diaba e que se comporta como uma autêntica rainha no meio de uma corte de criminosos, da qual fazem parte vários travestis. Primeira exibição na Cinemateca.
12/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado
The Night and the City
Foragidos da Noite
de Jules Dassin
com Richard Widmark, Gene Tierney, Googie Withers, Hugh Marlowe
Reino Unido, 1950 - 101 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma Exploração da Noite
Magnífico filme negro, THE NIGHT AND THE CITY foi feito num momento em que Jules Dassin estava ameaçado pela “caça às bruxas” do maccarthysmo. Aconselhado pelo produtor Darryll Zanuck, Dassin tomou a dianteira e filmou esta produção americana em Londres, fixando-se na Europa. Um pequeno oportunista e vigarista, sempre com planos para enriquecer nas apostas, é levado a um beco sem saída quando se envolve no mundo da luta greco-romana e em combates falsificados. Dassin demonstra mais uma vez a sua grande capacidade para filmar em cenários naturais, como já fizera em Nova Iorque (THE NAKED CITY) e São Francisco, (THIEVES’ HIGHWAY). O resultado é uma fascinante mistura de realismo e estilização. Uma das melhores interpretações de Richard Widmark.
13/07/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado
Le Violon de Rothschild
de Edgardo Cozarinsky
com Dainus Kazlauskas, Sergei Makovetksky, Tarno Männard
França, Suíça, Hungria, 1996 - 101 min
legendado eletronicamente em português | M/12
com a presença de Edgardo Cozarinsky
O Violino de Rothschild (nada a ver com a célebre família de banqueiros) é uma ópera, baseada num conto de Tchékov, de um compositor soviético quase desconhecido, Benjamin Fleischmann (1913-41), que foi aluno de Shostakóvich e morreu no cerco de Leninegrado. A ópera, situada num “shtetl” (aldeia judia) conta a história de um fabricante de caixões, violinista amador, que lega o seu instrumento a um músico da orquestra da aldeia. Cozarinsky organizou o filme em três partes: na primeira, vemos a relação entre Shostakóvich e Fleischmann e na terceira os esforços infrutíferos do primeiro para fazer com que a ópera fosse montada, a seguir à guerra. Na parte central, Cozarinsky insere a totalidade da ópera, com cerca de quarenta minutos de música. A “filiação invisível, interminável”, segundo as palavras de Fleischmann, simbolizada pela transmissão do violino, prolonga-se no filme de Cozarinsky. A apresentar em cópia digital.
 
13/07/2016, 22h00 | Sala Luís de Pina
Edgardo Cozarinsky – Realizador Convidado
Ascenseur pour l’Échafaud
Fim-de-semana no Ascensor
de Louis Malle
com Maurice Ronet, Jeanne Moreau, Jean Wall
França, 1958 - 84 min
legendado em português | M/12
Uma Exploração da Noite
Depois de colaborar nos primeiros filmes do Comandante Cousteau, ASCENSEUR POUR L’ÉCHAFAUD foi a estreia de Louis Malle na longa-metragem de ficção. Início coroado de sucesso, a que não faltou a atribuição do Prémio Louis Delluc. Através de uma intriga policial filmada a preto e branco e desenvolvida em ambientes “à americana” (para o que muito contribui a música de Miles Davis), usando com talento a impassibilidade do rosto de Jeanne Moreau, Malle deixava aqui a certeza de que o “novo cinema” estava prestes a chegar.