CICLO
A Cinemateca com o Doclisboa: Želimir Žilnik e Outras Sessões


Esta é a maior retrospetiva dedicada a Želimir Žilnik, cineasta sérvio nascido em 1942, autor de uma obra com mais de cinquenta títulos que atravessam os diferentes géneros e cinquenta anos de história. É assim uma oportunidade única para descobrir a obra de um cineasta muito pouco conhecido no nosso país, através de programa que se pretende o mais completo possível, que decorrerá integralmente na Cinemateca entre dias 22 e 31 de outubro.
Iniciada em meados dos anos sessenta na Jugoslávia Socialista, a obra de Žilnik acompanha a evolução política e social de um território e a sua permanente reconfiguração. Datando a primeira curta-metragem de 1967, Žilnik afirmou-se rapidamente como um dos principais nomes da denominada “Black Wave” ou “Vaga Negra” do cinema jugoslavo, termo que agrupava cineastas que rompiam com as habituais lógicas de produção e que possuíam uma visão crítica da sociedade avessa aos desejos do poder político, entre os quais figuravam também Dusan Makavejev ou Karpo Godina (de que exibiremos um conjunto de curtas-metragens). Respondendo a quente a esta classificação, Želimir Žilnik, com a ironia e o humor que lhe são característicos, realizaria em 1971 CRNI FILM, ou BLACK FILM, o singularíssimo “filme negro” que aborda frontalmente a questão dos sem-abrigo de Novi Sad, e que se revelaria um verdadeiro manifesto do seu cinema. Forçado a abandonar o país face a uma censura crescente e às dificuldades em continuar a filmar, no início da década de setenta realiza um conjunto de “filmes alemães” essencialmente centrados na condição e nos problemas dos trabalhadores migrantes, questões que marcariam toda a sua obra futura, como poderemos testemunhar através do recentíssimo DESTINACIJA SERBISTAN / LOGBOOK SERBISTAN (2015), longa-metragem que aborda a dura realidade dos refugiados que atravessam a Sérvia em direção a outros destinos na Europa.
Nos anos oitenta, de regresso à Jugoslávia, Žilnik realizará vários trabalhos para televisão em que desenvolve um método singular que passará a enformar os seus filmes, uma combinação de documentário e ficção, que parte de situações quotidianas e da biografia de pessoas concretas, não-atores que são convidados a reencenar e ficcionar as suas próprias experiências para a câmara. Método que o realizador tem apurado de filme para filme, como tão bem revela a importante trilogia centrada na figura de Kenedi, que Žilnik acompanha na sua deslocação geográfica ao longo de vários anos.
Se, desde os primeiros filmes, é clara a opção por um cinema documental assente numa proximidade com o real daqueles que são filmados, de onde nasce uma evidente força poética, também começa a ser clara a vontade de uma permanente transfiguração. Denunciando as contradições da antiga Jugoslávia comunista, os problemas da sua transição para o capitalismo, os efeitos das guerras dos anos noventa, ou a violência associada às migrações na Europa, Žilnik trabalha em permanência sobre a história de um país e de uma paisagem mais vasta em constante mutação, sucessivamente recriada pela inventividade estética de uma obra assente em múltiplas histórias singulares.
Želimir Žilnik estará presente em grande parte das sessões, bem como num encontro em que se discutirá a sua obra. Com exceção das suas cinco primeiras curtas-metragens, já mostradas numa sessão de antecipação da retrospetiva, todos os filmes são inéditos na Cinemateca.
Para além da integral Žilnik há ainda lugar para três sessões de outra retrospetiva do Festival, “'I Don't throw Bombs, I Make Films' – Terrorismo, Representação", programa cujo título é uma citação de R. W. Fassbinder a propósito do filme A TERCEIRA GERAÇÃO. Na Cinemateca, o fenómeno do terrorismo e as suas ramificações serão abordados através de filmes míticos que desafiam o próprio cinema e a sua capacidade de representação, como BAMBULE (com argumento de Ulrike Meinhof), UNDERGROUD, correalizado por Emile de Antonio, duas curtas-metragens de Hartmut Bitomsky, e DEUTSCHLAND IM HERBST, longa-metragem constituída por vários episódios, um dos quais assinado por Fassbinder. Todas as primeiras sessões são apresentadas por Zelimir Zilni,
 

 
31/10/2015, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Želimir Žilnik e Outras Sessões

Tvrdjava Evropa / Fortress Europe | Evropa Preko Plota / Europe Next Door
duração total da projeção: 140 min | M/12
 
31/10/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Želimir Žilnik e Outras Sessões

Crni Film / Black Film | Destinacija Serbistan / Logbook Serbistan
duração total da projeção: 108 min | M/12
31/10/2015, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Doclisboa: Želimir Žilnik e Outras Sessões

Em colaboração com o Doclisboa’15 - 13º Festival Internacional de Cinema
Tvrdjava Evropa / Fortress Europe | Evropa Preko Plota / Europe Next Door
duração total da projeção: 140 min | M/12
Retrospetiva Želimir Žilnik

TVRDJAVA EVROPA / FORTRESS EUROPE
com Svetlana Zajceva, Emil Tchouk, Hannah Nortman
Eslovénia, 2000 – 80 minutos
EVROPA PREKO PLOTA / EUROPE NEXT DOOR
com Roko Babičković, Suzana Vuković, Ana Vilov, Slavica Vračarić
Sérvia e Montenegro, 2005 – 60 minutos
de Želimir Žilnik
legendados eletronicamente em inglês e em português

O endurecimento das regras para a circulação de pessoas na Europa e a sua limitação são questões trabalhadas nos filmes desta sessão. TVRDJAVA EVROPA é um "docu-drama" ou "semidocumentário" filmado nas regiões fronteiriças de Itália, Hungria, Eslovénia e Croácia. Usando histórias reais como ponto de partida, Žilnik reconstrói a vida de algumas dessas pessoas, que procuram ultrapassar zonas altamente vigiadas. Em EVROPA PREKO PLOTA percebemos como a recém-estabelecida fronteira travou o comércio e as viagens à Hungria, até aí uma componente essencial da economia de uma pequena localidade na Sérvia. Antiga região de passagem em que tudo se torna mais difícil para todos os que aí vivem.
 

31/10/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
A Cinemateca com o Doclisboa: Želimir Žilnik e Outras Sessões

Em colaboração com o Doclisboa’15 - 13º Festival Internacional de Cinema
Crni Film / Black Film | Destinacija Serbistan / Logbook Serbistan
duração total da projeção: 108 min | M/12
Retrospetiva Želimir Žilnik

CRNI FILM / BLACK FILM
Jugoslávia, 1971 – 14 minutos
DESTINACIJA SERBISTAN / LOGBOOK SERBISTAN
Sérvia, 2015 – 94 minutos
de Želimir Žilnik
legendados eletronicamente em inglês e em português

CRNI FILM ou BLACK FILM é um filme-chave na obra de Želimir Žilnik e um manifesto da chamada “black wave”. Nas ruas de Novi Sad, depois de cair a noite, o realizador e a sua equipa reúnem um conjunto de homens sem-abrigo e levam-nos para a sua casa, onde dorme a mulher e a filha. Gesto radical que culmina em entrevistas a assistentes sociais e a pessoas na rua, numa tentativa de encontrar soluções para um problema oficialmente não reconhecido. LOGBOOK SERBISTAN, o mais recente filme de Žilnik, revela a continuidade de um cinema em plena sintonia com o presente e permanentemente centrado nas mais acesas questões políticas e sociais. LOGBOOK SERBISTAN documenta a realidade de milhares de refugiados em fuga da guerra e de duríssimas condições de vida, que atravessam a Sérvia em direção ao resto da Europa. Os campos de refugiados, as famílias divididas, as intermináveis caminhadas, as dificuldades em ultrapassar fronteiras, mas também as expectativas e a esperança são abordadas por Žilnik através da escolha de um conjunto de homens e mulheres em trânsito, que o realizador acompanha durante algum tempo, revelando a complexidade da sua situação.