Jorge Hamilton (Edmund Gwen) é um cientista norte-americano que se isola em Calabuch, onde procura passar por um vagabundo ignorante, pois não quer continuar a construir bombas atómicas. CALABUCH é um dos títulos que encerra o que se pode descrever como a primeira fase da obra de Berlanga, em que, de modo obsessivo, as imagens e referências circulam de filme para filme. Aqui encontramos os traços dos seus mestres: a comédia de René Clair e de Tati, mas também o cinema de Fellini.

Talvez o mais famoso filme da última fase da obra de Akira Kurosawa, RAN retoma os ambientes e as temáticas do precedente KAGEMUSHA para um “fresco” histórico tão intimista como grandioso. Adaptação – ou melhor será dizer “aliteração” – do Rei Lear de Shakespeare, RAN conta o que acontece quando um velho “senhor da guerra” divide as suas posses pelos três filhos. Há já aqui qualquer coisa de testamentário, vertente que Kurosawa desenvolveria mais abertamente no futuro (SONHOS ou MADADAYO).

O regresso de Straub e Huillet a Schoenberg, vinte e dois anos depois de MOSES UND ARON, agora com uma “ópera cómica” sobre a fidelidade conjugal. Filmado a preto e branco, com som direto, foi o primeiro dos seus filmes a ter sido rodado inteiramente em estúdio, porque “o cenário devia ser medido ao milímetro (…). Um espaço nem inteiramente naturalista, nem inteiramente abstrato, nem inteiramente quotidiano, nem inteiramente teatral, algo ‘entre les deux’”. A direção musical é de Michael Gielen.

Dois detetives de Los Angeles são enviados para o Alasca durante a estação estival, em que o sol não se põe, para investigar um assassínio local. A estranheza que o rumo da investigação toma é paralela à estranheza da adaptação ao local, onde os dias e as noites se passam sob a mesma luz. As insónias sucessivas tomam conta da personagem de Al Pacino, em luta com imprevistos trágicos que conduzem à morte do seu colega, com um pesado sentimento de culpa, mas também com as frinchas de luz que o impedem de dormir. O realizador de MEMENTO faz um filme noturno em plena claridade. A sessão é dedicada à memória de Robin Williams (1951-2014), que aqui interpreta o papel de um escritor angustiado numa das suas mais atípicas e memoráveis composições.