CICLO
Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino


A 16 de março de 2023 celebrou-se o centenário de nascimento do fotógrafo Augusto Cabrita (Barreiro, 1923-1993). Ao longo destes últimos doze meses, a obra de Augusto Cabrita tem vindo a ser objeto de várias exposições um pouco por todo o país, com especial enfoque no seu trabalho fotográfico. A fechar o ano de celebrações, a Cinemateca Portuguesa dedica-lhe três sessões onde se apresenta uma parte significativa do seu trabalho como realizador naquela que é, até hoje, a mais extensa mostra do seu trabalho enquanto cineasta.
Mais conhecido, no mundo do cinema como diretor de fotografia das primeiras longas-metragens do Novo Cinema (primeiro, BERLAMINO, 1964, de Fernando Lopes, logo depois, CATEMBE, 1965, de Manuel Faria de Almeida), ou operador de câmara (AS ILHAS ENCANTADAS, 1965, de Carlos Vilardebó), desde cedo Augusto Cabrita desenvolveu igualmente uma carreira enquanto realizador em nome individual. Primeiro na televisão, onde se inicia como operador-realizador no final dos anos 1950, assinando reportagens para o programa de Hélder Mendes sobre as práticas cinegéticas, mas também especiais sobre o sismo em Agadir em 1960 ou sobre a presença militar portuguesa na Ilha de Angediva, em Goa, na antecâmara da anexação do enclave pela Índia. Pouco depois, assume-se também como realizador de cinema, com filmes-encomenda para diversas instituições (Centro Nacional de Formação Artística Hoteleira / HELLO JIM!, Secretaria de Estado da Marinha Mercante / O MAR TRANSPORTA A CIDADE, Turismo dos Açores / AÇORES, ILHAS DO ATLÂNTICO), ou documentários de cariz industrial (de onde se destaca SETENAVE – UM ESTALEIRO PARA O MUNDO, 1979).
Conhecido pelo seu domínio absoluto da câmara de filmar (são famosas as suas panorâmicas com efeito “chicote”), Augusto Cabrita era chamado amiúde pelos vários realizadores do Novo Cinema sempre que se pretendia introduzir mais dinamismo em filmes de pendor institucional. Aliás, foi a partir de um testemunho recente de Fernando Matos Silva (que trabalhou com Augusto Cabrita na rodagem de BELARMINO e que desafiou o fotógrafo para filmar o documentário industrial por si realizado TEJO – NA ROTA DO PROGRESSO) que surgiu o título deste programa: “ele usava a câmara como se fosse um violino”, disse o realizador. 
O Ciclo “Augusto Cabrita: O Homem da Câmara-Violino” é, portanto, uma dupla homenagem: primeiro, a Augusto Cabrita enquanto operador total, depois, à dimensão musical do seu cinema. Isto porque uma parte significativa dos seus filmes enquanto realizador foram construídos em diálogo apertado com músicos. A relação mais conhecida é aquela que se estabeleceu entre Augusto Cabrita e Amália Rodrigues. Foi durante a rodagem de AS ILHAS ENCANTADAS, protagonizado pela fadista, que se estabeleceu uma amizade que se traduziria em várias colaborações: dezenas de fotografias da cantora, um “teledisco” e a participação num documentário sobre Lisboa. Mas além de Amália, Cabrita trabalhou frequentemente sobre ou em diálogo com composições de Carlos Paredes e Fernando Lopes Graça. Além desses, Augusto Cabrita desenvolveu com João de Freitas Branco um programa para a RTP entre 1976 e 1978 intitulado “Melomania” onde, numa primeira parte, o musicólogo tecia as suas considerações sobre determinado compositor e, numa segunda, a câmara de Cabrita respondia a um dado tema com experimentações visuais (extremamente complexas e que demonstram a forte dimensão experimental da televisão pública na segunda metade dos anos 1970).
Este programa é composto por vários títulos cuja exibição se dá pela primeira vez na Cinemateca, e realiza-se na sequência dos Ciclos dedicados a Fernando Matos Silva (janeiro) e Carlos Vilardebó (fevereiro). Apresentar-se-ão ainda vários títulos em novas cópias digitais produzidas no âmbito do projeto FILMar e do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência. O Ciclo dialoga com a exposição “Augusto Cabrita: O Olhar Encantado” (18 de fevereiro a 20 de abril, Biblioteca de Marvila), exposição realizada no âmbito do projeto FILMar a partir das fotografias feitas durante a rodagem de AS ILHAS ENCANTADAS.
 
 
05/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino

Augusto Cabrita: Olhar a Paisagem
duração total da projeção: 81 min | M/12
 
06/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino

Augusto Cabrita: Os Caminhos da Canção
duração total da projeção: 80 min | M/12
07/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino

Augusto Cabrita: Começar pelo Fim
duração total da projeção: 72 min | M/12
05/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino
Augusto Cabrita: Olhar a Paisagem
duração total da projeção: 81 min | M/12
Com a presença de Fernando Matos Silva e Elso Roque
O MAR A PRETO E BRANCO: NA OBJECTIVA DE AUGUSTO CABRITA
de Hélder Mendes
Portugal, 1968 – 21 min

“HIPERPRISMA”
de Augusto Cabrita
Portugal, 1976 – 4 min

O MAR TRANSPORTA A CIDADE
de Augusto Cabrita
Portugal, 1977 – 30 min

AÇORES, ILHAS DO ATLÂNTICO
de Augusto Cabrita e Hélder Mendes
Portugal, 1979 - 26 min

Foi através de Hélder Mendes (realizador e operador de câmara com longa experiência na RTP) que Augusto Cabrita começou a trabalhar regularmente para a televisão (no final dos anos 1950). Uma década depois, e já após várias exposições de fotografia e da sua afirmação enquanto diretor de fotografia nos filmes do Novo Cinema, Hélder Mendes dedica um episódio da sua série “Segredos do Mar” ao trabalho do amigo. O MAR A PRETO E BRANCO é o retrato de um homem e do seu modo de ver o mundo, partindo do trabalho dos pescadores de Sines. “HIPERPRISMA” integra a série “Melomania” que Cabrita manteve durante dois anos na RTP, onde a sua câmara dialogava com as escolhas do musicólogo João de Freitas Branco. Neste caso, trata-se de um ensaio visual em torno de “Hyperprism”, tema do compositor Edgard Varèse, composto em 1922. Já O MAR TRANSPORTA A CIDADE foi feito para a Secretaria de Estado da Marinha Mercante. É um filme-documento onde se registam as práticas de estiva e transformação industrial nos portos nacionais, procurando refletir sobre o processo de acelerada modernização do país. Por fim, AÇORES, ILHAS DO ATLÂNTICO, coassinado por Cabrita e Hélder Mendes que partilham a direção de fotografia com Elso Roque, é um documentário de promoção turística que apresenta algumas da mais belas imagens do arquipélago que o cinema já captou. Os três primeiros filmes são apresentados pela primeira vez na Cinemateca. O MAR A PRETO E BRANCO e “HIPERPRISMA” serão exibidos em cópias da RTP Arquivos e O MAR TRANSPORTA A CIDADE e AÇORES, ILHAS DO ATLÂNTICO serão exibidos em novas cópias digitais produzidas no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA aqui 
 
06/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino
Augusto Cabrita: Os Caminhos da Canção
duração total da projeção: 80 min | M/12
AMÁLIA CANTA ‘OIÇA LÁ Ó SENHOR VINHO’
de Augusto Cabrita
Portugal, 1971 – 4 min

OS CAMINHOS DO SOL
de Augusto Cabrita, Carlos Vilardebó
Portugal, 1965 – 18 min

“PERGUNTA SEM RESPOSTA”
de Augusto Cabrita
Portugal, 1978 – 5 min

LISBOA: AS GRANDES CIDADES DO MUNDO
de Augusto Cabrita, Fernando Lopes
Portugal, França, 1979 – 54 min

Filmado nas deslumbrantes cores da Eastmancolor, AMÁLIA CANTA ‘OIÇA LÁ Ó SENHOR VINHO’ é, como o nome indica, um “teledisco” do famoso fado da cantora, onde a câmara de Augusto Cabrita acompanha a letra e a interpretação da canção através de um efeito mimético da embriaguez. OS CAMINHOS DO SOL (corealizado com Carlos Vilardebó e produzido por Cunha Telles) é um ensaio cinegráfico que percorre o alfabeto e encontra para cada letra uma imagem – produzido em parte a partir da remontagem do material que Cabrita filmou como segundo operador durante a rodagem de AS ILHAS ENCANTADAS. Já “PERGUNTA SEM RESPOSTA” é mais um dos títulos da série “Melomania”, deste feita um trabalho visual de Augusto Cabrita a partir da famosa peça musical homónima de Charles Ives, “The Unanswered Question” (1908). Por fim, LISBOA: AS GRANDES CIDADES DO MUNDO é uma corealização de Augusto Cabrita com Fernando Lopes (com o qual havia já colaborado várias vezes como diretor de fotografia). Produzido pela Animatógrafo, a RTP e a Pathé Cinema para a série “As Grandes Cidades do Mundo”, o filme conta com argumento de Alexandre O’Neill e música de Carlos Paredes, Alain Oulman e Tó Pinheiro, e integrando a presença de Pierre Kast, filmado nas ruínas do Carmo a ler Voltaire, mas também as de José Augusto França, Nuno Portas e Amália Rodrigues. “PERGUNTAS SEM RESPOSTA” é apresentado pela primeira vez na Cinemateca (em cópia do Arquivo RTP). LISBOA é apresentado pela primeira vez na Cinemateca no seu formato original (16mm double band). AMÁLIA CANTA ‘OIÇA LÁ Ó SENHOR VINHO’ e CAMINHOS DO SOL serão exibidos em novas cópias digitais, a primeira produzida no âmbito do PRR, a segunda no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.

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07/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Augusto Cabrita, o Homem da Câmara-Violino
Augusto Cabrita: Começar pelo Fim
duração total da projeção: 72 min | M/12
CAÇA À RAPOSA
de Augusto Cabrita
Portugal, 1959 – 8 min (s/ som)

HELLO JIM!
de Augusto Cabrita
Portugal, 1970 – 13 min

“FÁBRICA DE VIDRO”
de Augusto Cabrita
Portugal, 1978 – 11 min

METAMORFOSE
de Augusto Cabrita
Portugal, 1969 – 8 min

ERA UMA VEZ UM COMBOIO… UMA VIAGEM DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN
de Augusto Cabrita
Portugal, 1978 – 32 min

A terceira sessão deste programa em torno da obra de Augusto Cabrita enquanto realizador começa por apresentar aquele que é considerado o seu primeiro filme, CAÇA À RAPOSA, filmado na zona da Lagoa de Albufeira. Esta é uma reportagem para o programa que Hélder Mendes dirigia na RTP sobre as tradições venatórias, exibida no Telejornal em 1959 (é desconhecido o paradeiro da banda de som, pelo que se exibirá como filme mudo). Já HELLO JIM! É o seu primeiro filme para cinema (realizado a solo). Surgiu de um patrocínio do Centro Nacional de Formação Artística Hoteleira com o intuito de promover a indústria turística; encomenda que realizador ironicamente desmonta. A música é de Carlos Paredes. “FÁBRICA DE VIDRO” e METAMORFOSE são mais dois títulos da série “Melomania”, sendo que o primeiro retrata o trabalho do artista plástico Manuel Casimiro (filho de Manoel de Oliveira), no seu período de reapropriação escultórica de elementos de mecânica automóvel. A sessão termina com um dos últimos filmes de Cabrita: ERA UMA VEZ UM COMBOIO… UMA VIAGEM DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN, produzido pela RTP, com música de Fernando Lopes Graça. É um filme onde o documentário e a ficção se misturam segundo o seu livro [de Andersen] Uma Viagem a Portugal, de 1866. Existem duas versões deste filme, uma para cinema, a cores e com 32 minutos (que será a versão exibida nesta sessão em cópia de 16mm), e outra, para televisão, mais longa (46 minutos) a preto e branco. CAÇA À RAPOSA, “FÁBRICA DE VIDRO” e METAMORFOSE são apresentados pela primeira vez na Cinemateca (em cópias do Arquivo RTP). HELLO JIM! será exibido em nova cópia digital produzida no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.

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