O último filme de Pasolini, estreado três semanas depois do homicídio do realizador, transcreve o romance de Sade,
Os 120 Dias de Sodoma, para o contexto da República de Salò, fundada por irredutíveis do fascismo no período final da guerra. Quatro homens todo-poderosos mandam raptar algumas dezenas de jovens dos dois sexos e levam-nos para uma mansão isolada. Ali, com método, numa série de “círculos”, as vítimas são humilhadas, profanadas, degradadas, obrigadas a relações sexuais, à coprofagia e, finalmente, torturadas até à morte. Mas esta aterradora alegoria sobre o poder não se refere apenas ao fascismo histórico, aos estertores do regime de Mussolini: também é uma metáfora daquilo que Pasolini denominava o “novo fascismo” da sociedade de consumo, a transformação dos corpos em coisas. Pasolini denominou “escritos corsários” os violentos artigos que escreveu nos seus últimos anos. SALÒ é um filme corsário.
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