CICLO
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza


Ava Gardner (1922-1990), Cyd Charisse (1922-2008) e Judy Garland (1922-1969) definem-se como atrizes especiais do cinema clássico de Hollywood, também esplendorosas presenças (Ava), cantora (Judy) e dançarina (Cyd). Estiveram ligadas à MGM, convivendo na época dita dourada dos estúdios, onde Gardner e Charisse se iniciaram no princípio dos anos 1940, uma década depois de Garland. A firme qualidade de estrelas turvou porventura a mesma, firme, evidência da qualidade de atrizes que detinham, mostrando-se poderosas, trágicas, vulneráveis nos papéis que lhes couberam, muitas vezes com uma muito feliz, ou fatal, justeza. Fora estes pouco displicentes pontos, algumas circunstanciais tangentes, o mesmo ano de nascimento no século XX, os seus casos extraordinários são cursos distintos. A cada uma a sua história, a sua filmografia, a sua singularidade. O programa que as aproxima em 2022, em Lisboa, trissulca o raio de ação dos estúdios nas décadas de 1940 e 50 indo até ao território do film noir, dramático, aventureiro ou fantástico e vagamente FC seguindo Ava Gardner; fixando o melodrama, o feérico, o género musical em que Judy Garland e Cyd Charisse tão intensamente brilharam.
Judy Garland, que em 1939 protagonizou o filme em que seguiu a estrada amarela de sapatos vermelho-rubi que fez dela estrela e da sua voz a de Somewhere over the Rainbow (THE WIZARD OF OZ), percorreu mais de três décadas de filmes, em que foi decisivamente dirigida por Victor Fleming, Busby Berkeley, Vincente Minnelli, George Cukor e muitas vezes emparelhou com Mickey Rooney e Gene Kelly. Nascida Frances Ethel Gumm no Minnesota, numa família de ascendência europeia e sangue vaudeville, começou cedo nos palcos. Nos anos 1930 atuava em números de canto e dança com as irmãs num grupo em que as Gumm se rebatizaram Garland. Chegada à MGM alguns anos antes de Dorothy surgir em Oz, nesse estúdio conheceu Minnelli, com quem viveu uma história de amor, rutura e cinco gloriosos filmes: do espanto começado em MEET ME IN SAINT LOUIS, a que sucederam outros musicais, ao melodrama de THE CLOCK. Foi Cukor quem a filmou noutro dos seus máximos trabalhos, A STAR IS BORN. Os seus últimos filmes são do início dos anos 1960, em que contracena com Burt Lancaster e Dirk Bogarde, quando John Cassavetes a filmou em A CHILD IS WAITING e Ronald Neame fez saber que ela podia continuar a cantar (I COULD GO ON SINGING). A morte aos 47 anos ceifou uma vida luminosa de fundas feridas.
Ava Gardner, marcada condessa descalça no filme de Mankiewicz e imagem da lendária Pandora filmada por Albert Lewin (THE BAREFOOT CONTESSA, PANDORA AND THE FLYING DUTCHMAN, 1954/51), foi olhada como um ideal de beleza de estonteante apelo sexual por mais que fosse plenamente atriz, como o regista a filmografia balizada entre os inícios das décadas de 1940 e 80. Ava Lavinia Gardner nasceu na Carolina do Norte e seguiu para Hollywood, onde em 1941 assinou contrato com a MGM, graças a uma fotografia tirada durante uma viagem em Nova Iorque. Quando Siodmak a filmou como mulher fatal em THE KILLERS, do mesmo ano do também noir WHISTLE STOP (Léonide Moguy, 1946), já participara numa vintena de títulos, em figurações fugidias e pequenos papéis, entre os quais se conta um notável Douglas Sirk, HITLER’S MADMAN (1943). A partir daí somou e seguiu consubstanciando e indo além do ícone, nos melhores momentos em colaboração, além dos cineastas citados, com Henry King, John Ford, George Cukor, Nicholas Ray, John Huston. Pelo menos MOGAMBO de Ford (1953) e THE NIGHT OF THE IGUANA de Huston (1964) são de citação tão obrigatória como THE KILLERS, a CONTESSA, PANDORA.
Cyd Charisse, a party girl do cinema de Nicholas Ray (PARTY GIRL) que Vincente Minnelli filmou em contos de fadas e bailados de cinema (BRIGADOON e THE BAND WAGON), dançou com Gene Kelly e Fred Astaire, sendo, como eles foram no masculino para muitos bons olhos e coreógrafos, a maior bailarina americana do seu tempo. Chamava-se Tulia Ellice Finklea quando nasceu no Texas e dançou desde os quatro anos (Charisse veio de um primeiro casamento aos dezoito). No cinema, começou a bailar em breves aparições em 1943, fazendo-se definitivamente notar em THE UNFINISHED DANCE (Henri Kostner, 1948), com coreografia de David Lichine que precisamente a defendia como bailarina suprema. Arrebatou em SINGIN’ IN THE RAIN (Kelly e Donen, 1952), no turbilhão da sua participação especial no Broadway Melody Ballet. A década de 1950 foi a da sua glória, e o seu último grande filme um Minnelli de 1962 em deriva e perdição melodramática (TWO WEEKS IN ANOTHER TOWN) que agora não se apresenta por fazer parte de uma receita-carta-branca a que Jorge Silva Melo há de voltar este ano.
 
 
07/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza

The Killers
Assassinos
de Robert Siodmak
Estados Unidos, 1946 - 101 min
 
08/02/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza

The Pirate
O Pirata dos Meus Sonhos
de Vincente Minnelli
Estados Unidos, 1948 - 102 min
08/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza

East Side, West Side
Mundos Opostos
de Mervyn LeRoy
Estados Unidos, 1949 - 109 min
09/02/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza

Bhowani Junction
de George Cukor
Estados Unidos, 1956 - 109 min
09/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza

It’s Always Fair Weather
Dançando nas Nuvens
de Gene Kelly, Stanley Donen
Estados Unidos, 1955 - 101 min
07/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza
The Killers
Assassinos
de Robert Siodmak
com Ava Gardner, Burt Lancaster, Edmond O’Brien, Sam Levene
Estados Unidos, 1946 - 101 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Ava Gardner
Obra magistral de Siodmak com o jornalista e produtor Mark Hellinger ao comando para a Universal, composta num estilhaçar narrativo cuja fragmentação em flashbacks tem evocado a estrutura-puzzle de CITIZEN KANE, versão noir. Partindo do conto de Hemingway (um admirador do filme, que considerava a única boa adaptação de um trabalho seu), o argumento conta com a contribuição não creditada de John Huston, marcando o filme a estreia de Burt Lancaster e o estrelato de Ava Gardner, ambos numa fabulosa dupla noir. O ponto de partida é o assassinato dele, um ex-pugilista, e é a sua vida, caída em fatal desgraça, que é reconstituída no curso de uma investigação de vários encontros por um agente de seguros.

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08/02/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza
The Pirate
O Pirata dos Meus Sonhos
de Vincente Minnelli
com Gene Kelly, Judy Garland, Walter Slezak, Gladys Cooper, Reginald Owen
Estados Unidos, 1948 - 102 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Judy Garland
Um dos mais deslumbrantes musicais de Minnelli, paródia aos populares “filmes de piratas” da década de 1940, com música de Cole Porter por fundo e por par de eleição Gene Kelly e Judy Garland. “THE PIRATE é um filme surpreendentemente moderno pela sua permanente espectacularidade, pela sua permanente passagem do ‘sonho’ à ‘realidade’, do ‘mundo imaginário’ ao ‘mundo real’. Só o teatro permite conciliar os dois níveis e não estamos longe, nesta viagem ao século XVIII, de encontrar a mesma moral que Minnelli explicitaria, anos depois, (em) THE BAND WAGON: ‘the world is a stage, the stage is a world of entertainment’” (João Bénard da Costa).

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08/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza
East Side, West Side
Mundos Opostos
de Mervyn LeRoy
com Barbara Stanwyck, James Mason, Van Heflin, Ava Gardner, Cyd Charisse
Estados Unidos, 1949 - 109 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Ava Gardner
O argumento de Isobel Lennart parte do romance de Marcia Davenport (1947) em que um casal nova-iorquino vê a conjugalidade afetada quando o personagem interpretado por James Mason, marido de Barbara Stanwyck, se mostra vulnerável à entrada em cena de uma antiga namorada, a personagem de Ava Gardner. É um dos primeiros papéis de relevo de Ava, a fechar a década em que se iniciou e já depois da explosão de THE KILLERS. A narrativa é posta em marcha pela voz off de Stanwyck como uma história de Nova Iorque, que recorda três dias da sua vida num certo verão: “Sim, esta é a minha cidade. Não é nova para vocês – já leram livros sobre ela... já a viram em filmes. As pessoas estão sempre a falar de Nova Iorque – diz-se que é a cidade mais excitante do mundo... a mais fascinante e, acima de tudo, a mais veloz.” Primeira apresentação na Cinemateca.

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09/02/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza
Bhowani Junction
de George Cukor
com Ava Gardner, Stewart Granger, Bill Travers, Abraham Sofaer, Francis Matthews
Estados Unidos, 1956 - 109 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Ava Gardner
O único filme de Cukor do pós-guerra que não teve estreia comercial em Portugal, apesar de um elenco dominado por duas vedetas então muito populares: Ava Gardner e Stewart Granger. A razão está ligada ao tema (os conflitos pró-independência na Índia britânica), numa altura em que Portugal estava de relações cortadas com a União Indiana graças ao contencioso de Goa. Ampliando o escopo habitual do seu cinema (a história passa-se sobre o fundo da violenta divisão da Índia, quando esta se tornou independente), Cukor explora de forma fabulosa o CinemaScope para contar a história de uma mestiça dividida entre a educação britânica e as raízes indianas e temerosa da sua posição depois da independência do país. É um dos grandes filmes de Ava Gardner.

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09/02/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ava Gardner, Cyd Charisse, Judy Garland - Fatal Justeza
It’s Always Fair Weather
Dançando nas Nuvens
de Gene Kelly, Stanley Donen
com Gene Kelly, Dan Dailey, Cyd Charisse, Dolores Gray, Michael Kidd
Estados Unidos, 1955 - 101 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Cyd Charisse
Três camaradas de armas prometem reencontrar-se no mesmo bar dez anos depois do fim da guerra, período durante o qual os rumos tomados pelas suas vidas os transformam quase em estranhos. Em CinemaScope e Eastmancolor, o último título da trilogia musical de Donen e Kelly (depois de ON THE TOWN e SINGIN’ IN THE RAIN) é o mais melancólico, celebração de uma amizade que acaba por se reencontrar de copo na mão. É um filme ferido, em que Cyd Charisse entra “glacial, sedutora e pessimista” (M.S. Fonseca) para tudo abalar. A apresentar em cópia digital.

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