Na última quinzena de abril, a Cinemateca volta à revolução, com um conjunto de sessões especiais em que o país da revolução é visto pelos realizadores estrangeiros que quiseram testemunhar a singular mudança protagonizada em Portugal.
Robert Kramer, um desses cineastas, disse-o melhor, numa expressão tomada para título do ciclo de abril de 2025: “Portugal 1974 - Um sítio que não existe, um tempo que verdadeiramente existiu”. Partimos à descoberta de um país novo, com um conjunto de filmes que devolvem imagens de vários pontos do país, assinados por realizadores estrangeiros que passaram por Portugal nessa altura, reveladoras do impacto da revolução nas comunidades. As diferentes sessões recebem vários convidados e cruzam-se com outros ciclos, projetos e homenagens. Como sempre em Abril, imagens mil.
Alguns dos destaques da programação:
23 abril
A Cinemateca presta homenagem a Maria Teresa Horta (1937-2025), com filmes sobre o caso da censura às autoras de Novas Cartas Portuguesas, a repercussão do caso em França e a luta pela condição da mulher em Portugal. No final da sessão, haverá uma conversa com as investigadoras Anabela Galhardo Couto e Teresa Joaquim, profundas conhecedoras da escritora.
24 abril
Sessão de apresentação dos filmes O SOL, A CHUVA E O DINHEIRO, de Philippe Costantini, e TERRA DE ABRIL, de Costantini e Anna Glogowski, na presença dos realizadores de dois títulos que retratam a região de Trás-os-Montes no pós-25 de Abril, que conversam com o público no final da sessão. Antes da projeção é apresentada a nova edição DVD da Cinemateca dedicada à “trilogia” de filmes realizados por Philippe Costantini em Portugal: TERRA DE ABRIL, LES COUSINS D’AMÉRIQUE e L’HORLOGE DU VILLAGE, recentemente restaurados e digitalizados.
26 abril
Duas sessões especiais, dirigidas a todos os públicos, num dia de festa.
Às 15h, na Cinemateca Júnior, apresenta-se LÚCIA E CONCEIÇÃO, de Fernando Matos Silva, realizado para a RTP, em 1975 na ilha de São Miguel, revelador dos contrastes entre a revolução vista em Lisboa, e a consciência social, as referências culturais e as condições de vida e expetativas económicas e sociais da população, em particular as raparigas e mulheres açorianas. A sessão integra o projeto de promoção de literacia fílmica FILMSCHOOL, desenvolvido nos últimos meses com o apoio do programa EEAGrants, e inclui o filme ESTÁTUAS DE PORTUGAL, do escritor Ferreira de Castro (1931), acompanhado pela estreia da banda-sonora encomendada à Metropolitana Big Band, da Escola Profissional da Metropolitana.
Às 19h, Sérgio Tréfaut regressa à sua primeira longa-metragem OUTRO PAÍS (1999), que resultou de uma investigação nos arquivos internacionais e em que entrevista alguns dos fotógrafos, jornalistas e realizadores que contaram os anos de 1974-75 em Portugal através de textos e imagens. A sessão, comentada pelo realizador, inclui ENTREVISTA COM ROBERT KRAMER, extraída dos brutos de OUTRO PAÍS, e que constitui a última entrevista dada pelo cineasta norte-americano.
Antes, às 18h, no espaço da Livraria Linha de Sombra, Sérgio Tréfaut apresenta o projeto da exposição fotográfica “Venham Mais Cinco [o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa] 1974 – 1975”, que comissaria em homenagem a Margarida Medeiros. A exposição terá lugar no Parque da antiga Lisnave, em Almada, este ano, em data a anunciar, e será ocasião de um catálogo a editar pela Tinta da China. O conjunto de fotografias é inédito em Portugal, “permite viajar num país em estado de exceção, Outro País, segundo o título do documentário que Sérgio Tréfaut realizou em 1999”.
29 abril
Antecipando a retrospetiva “Binka Jeliaskova: a luta é um murmúrio”, coorganizada com o Indielisboa, e que se inicia a 2 de maio, apresenta-se TARSETE MA BUKYA P (“PROCUREM EM P”), de Hristo Ganev, realizador búlgaro que esteve em Portugal com a sua companheira, a realizadora Binka Jeliaskova em 1974. A sessão é apresentada por Svetlana Ganeva, diretora de fotografia e filha dos autores.
No total, o ciclo inclui 17 filmes apresentados em 11 sessões reveladoras dos esforços em torno de cooperativas de produção cinematográfica, inúmeros fotógrafos e realizadores de todo o mundo, que ajudaram a descobrir o significado da palavra liberdade 48 anos depois de ditadura. As sessões especiais de abril têm início no dia 22: às 19h, a abertura do ciclo “Portugal 1974 - Um sítio que não existe, um tempo que verdadeiramente existiu” propõe EL MILAGRO DE LA TIERRA MORENA de Santiago Álvarez e COMMENT ÇA VA? de Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville; às 21h30, Luciana Fina apresenta o seu filme-montagem SEMPRE, que teve origem na instalação comissariada pela Cinemateca que criou para celebrar os 50 anos do 25 de Abril em 2024.
Todas as informações sobre o ciclo “Portugal 1974 - Um sítio que não existe, um tempo que verdadeiramente existiu” podem ser consultadas
aqui.