Iniciado em abril e maio com Moçambique e Guiné-Bissau, em novembro chega ao final o Ciclo “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado”, coprogramado pela Cinemateca ao longo de 2024 para apresentar a variedade do cinema feito naquelas três ex-colónias portuguesas em estreita colaboração com a investigadora Maria do Carmo Piçarra, que há vários anos se tem debruçado sobre o cinema dos países africanos de expressão portuguesa.
A paragem final é em Angola e voltamos a apresentar ao longo de cerca de uma dezena de sessões um conjunto de obras históricas (como MONANGAMBÉ e SAMBIZANGA, de Sarah Maldoror, ou CARNAVAL DA VITÓRIA e O RITMO DO NGOLA RITMOS, de Antonio Ole, os dois títulos que inauguram o Ciclo no próximo dia 12 às 21h30) a par de outras contemporâneas (de O HERÓI, de Zezé Gamboa, que alcançou notoriedade em festivais internacionais, com Sundance à cabeça, a NOSSA SENHORA DA LOJA DO CHINÊS, de Ery Claver, representante da fundamental produtora Geração 80). Para o dia 16 de novembro, está marcada uma mesa-redonda que contará com a participação de vários dos realizadores com filmes incluídos neste Ciclo, onde se pretende percorrer a História da cinematografia de Angola desde a independência até ao presente.
Esta é uma história que se inicia ainda antes da independência, quando Sarah Maldoror assina MONANGAMBÉ, aquele que é considerado o primeiro filme de ficção angolano, um filme sobre a violência da prisão colonial a partir da obra de Luandino Vieira. Com a independência estabelecida a 11 de novembro de 1975, arranca também a formação de técnicos de cinema através de instituições como a cooperativa Promocine ou a Televisão Popular de Angola e com o apoio de profissionais franceses ligados aos grupos Medvedkine e colaboradores de Jean-Luc Godard, Jean Rouch e Chris Marker.
Os primeiros dez anos do cinema angolano são sobretudo políticos, mas a partir de 1985 surge uma estagnação da produção local que vai durar até ao final da década de 1990, fruto da falta de investimento do Estado e da guerra civil em curso que culminam no encerramento do Instituto Angolano de Cinema e do Laboratório Nacional de Cinema em 1999.
É neste período e nas primeiras décadas do século XXI que começam a surgir trabalhos de cineastas angolanos fora de portas. É o caso de Zezé Gamboa, que começa a filmar ainda nos anos 1990 em Portugal e França, Pocas Pascoal, antiga operadora de câmara da Televisão Popular de Angola formada em montagem em França, de quem iremos apresentar os filmes TIME TO CHANGE e ALDA E MARIA – POR AQUI TUDO BEM, ou Orlando Fortunato, um dos autores agraciados com o primeiro financiamento público para obras de cinema em Angola em 2004. A partir daí, apesar das promessas de continuidade no investimento, serão as produtoras privadas a investir em cinema no país.
Exemplo desse trabalho é a atividade da produtora Geração 80, que ganhou destaque nos últimos anos com a produção de «obras com grande coerência estética, e, através de um realismo que muitos têm considerado “realismo mágico”», destaca Maria do Carmo Piçarra. Alguns desses títulos serão apresentados na Cinemateca, com a presença de Ery Claver, realizador de NOSSA SENHORA DA LOJA DO CHINÊS.
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