Onze filmes digitalizados pela Cinemateca levam a Madeira e os Açores à ilha de Groix, em França
Entre 21 e 24 de Agosto, a convite do Festival International du Film Insulaire, na ilha de Groix, em França, um conjunto de 11 filmes rodados nos arquipélagos dos Açores e Madeira entre 1926 e 1993, serão apresentados em novas cópias digitalizadas pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.
A seleção de filmes em novas cópias digitais compreende, no que respeita ao arquipélago da Madeira, as longas-metragens A CANÇÃO DA TERRA, de Jorge Brum do Canto (1938), AS ILHAS ENCANTADAS, de Carlos Villardebó (1965, num regresso a França depois da seleção no Festival Lumière, em Lyon, em 2023), e ATÉ AMANHÃ, MÁRIO, de Solveig Nordlund (1993), rodadas na Madeira, às quais se juntam as curtas-metragens A EXTRAORDINÁRIA AVENTURA DO ZECA (Adolfo Coelho, 1938), MADEIRA, PÉROLA DO ATLÂNTICO (Heinrich Gartner e Mota da Costa, 1937) e A ILHA QUE NASCE DO MAR (Fernando Garcia, 1956).
A seleção do cinema rodado nos Açores compreende OS AÇORES E A ALMA DO SEU POVO, de João Mendes (1956) e o primeiro filme assinado pelo diretor de fotografia Acácio de Almeida, AÇORES, OUTONO, nos 50 anos da sua estreia.
O programa inclui ainda dois cine-concertos com os filmes O FAUNO DAS MONTANHAS (1926) e TOSQUIA DAS OVELHAS NO PAÚL DA SERRA (1937), ambos de Manuel Luís Vieira rodados na Madeira, acompanhados por Sylvain Barou (flauta) e Laura Perrudin (harpa cromática). ERUPÇÃO VULCÂNICA DOS CAPELINHOS, FAIAL, AÇORES, assinado pela geógrafa Raquel Soeiro de Brito (1958) é acompanhado por uma nova banda-sonora encomendada pela Cinemateca Portuguesa, em 2023, a Margarida Magalhães/Raw Forest.
Do conjunto de títulos sublinham-se vontades de leituras sobre a relação entre a paisagem e a presença humana que, realizados, na maioria, durante o Estado Novo, apontam bolsas de resistência, tanto quanto denunciam a máquina de propaganda do regime ditatorial. A força de algumas das personagens, sobretudo no diálogo temporal entre Bastiana (Elsa Romina, em A CANÇÃO DA TERRA) e Hunila (Amália Rodrigues, em AS ILHAS ENCANTADAS), o pioneirismo dos realizadores Manuel Luís Vieira e Raquel Soeiro de Brito, e o trabalho inovador e pertinente de Acácio de Almeida, Carlos Vilardebó e Solveig Nordlund, são demonstrativos de uma história do cinema português que pede, permanentemente, reescritas.
Com exceção de TOSQUIA DAS OVELHAS NO PAÚL DA SERRA, digitalizado no âmbito do projeto PRR – Imagens em Movimento, todos os restantes títulos foram digitalizados ao abrigo do projeto FILMar – Digitalização do Património Fílmico, que a Cinemateca desenvolveu entre 2020 e 2024, com o apoio do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, operacionalizado por Património Cultura, I.P.
A apresentação em Groix dos filmes digitalizados pela Cinemateca conta, ainda, com o apoio do Camões Centre Culturel à Paris, e será acompanhada por Tiago Bartolomeu Costa, programador convidado e que coordenou o projeto FILMar. Esta presença em Groix prolonga o extenso programa que, em conjunto com diferentes parceiros franceses, tem permitido à Cinemateca Portuguesa mostrar o cinema português a públicos de festivais, cineclubes e cinematecas, celebrando ainda os 50 anos da revolução de 25 de Abril de 1974.
Com uma programação inteiramente dedicada ao cinema insular, o 23º Festival International du Film Insulaire de Groix, apresentará os 11 filmes digitalizados pela Cinemateca Portuguesa integrados numa programação mais vasta e multidisciplinar, onde o património fílmico nacional estará em diálogo com o cinema contemporâneo de Amaya Sumpsi, André Laranjinho, Catarina Gonçalves, Cláudia Varejão, Catarina Mourão, Diogo Lima, Gabriela Oliveira, Gonçalo Tocha, Jorge Jácome, Jorge Monjardino, Joaquim Pinto e Nuno Leonel, Luís Bicudo, Paulo Abreu, Rodrigo Areias e Vítor Bruno Pereira.