Durante os meses de abril, maio e junho, o projeto Imagens em Movimento – Cinema Português em Diálogo, organizado pela Cinemateca Portuguesa em colaboração com diversos cineclubes e associações pelo país, irá percorrer décadas importantes de transformação do país e do cinema português.
Entre documentário, ficção, atualidades e filmes amadores, serão mais de 20 títulos, apresentados em novas cópias digitais produzidas no âmbito do Plano de Digitalização do Cinema Português da Cinemateca Portuguesa.
Das paredes de Lisboa, onde se multiplicam cartazes, murais e palavras de ordem, retratadas em filmes como Revolução (1975) da artista e realizadora Ana Hatherly ou Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa (1976) de António Campos, até aos campos alentejanos em plena reforma agrária filmados por José Nascimento em Terra de Pão, Terra de Luta (1977), este é um programa que retrata o estado de alma de um país antes da revolução e durante o processo revolucionário, com o trabalho de vários realizadores que experimentaram no cinema diferentes modos de resistência.
Destacamos também gestos anteriores ao 25 de Abril, como O Recado (1971), primeira ficção de José Fonseca e Costa e um dos filmes essenciais do Cinema Novo Português, que filma uma inesquecível Maria Cabral nos espaços públicos e secretos da ditadura do Estado Novo e de uma classe burguesa lisboeta desejosa de independência, mas corrompida pela moral do regime.
E ensaios de reflexão, como Cravos de Abril (Ricardo Costa, 1976) que propõe uma síntese dos sete primeiros dias de liberdade, na cronologia que vai de 25 de abril a 1 de maio de 1974, construindo também uma cartografia da revolução. Ou Scenes from the Class Struggle in Portugal (1976), pelo norte-americano Robert Kramer, que viu na revolução portuguesa ecos de um movimento mundial contra o capitalismo e o colonialismo.