De regresso a Moscovo, entre 1958 e 1962 Khutsiev trabalhou em ZSTAVA ILLYITCH / “A PORTA DE ILLYCH”, um marco no moderno cinema soviético. Mas o filme (cuja versão inicial de 1962 o próprio repudia) foi violentamente criticado por Nikita Khrouchev e, na sequência disso, alterado pelo autor. Em 1965 foi então apresentada uma nova versão (remontada e com partes refilmadas) com o título MNE DVADSAT LET / “TENHO VINTE ANOS” que foi distribuída na URSS e que veio a obter o Prémio do Júri no Festival de Veneza. Mais tarde, em 1988, Khutsiev voltou ainda a trabalhar no mesmo filme, estabelecendo o que considera hoje a sua versão mais genuína, de novo com o título original ZASTAVA ILLIYCHA / “A PORTA DE ILLYCH” e que incorpora troços das duas versões anteriores. Entretanto, um novo filme importantíssimo de 1967, IYULSKIY DOZHD / “CHUVA DE JULHO” levanta menos polémicas mas é pouco exibido e Khutsiev passa aos estúdios de televisão, para os quais faz uma das suas obras preferidas: BYL MESYATS MAY / “FOI NO MÊS DE MAIO”. Depois de completar com Elem Klimov e German Lavrov o último e inacabado filme de Mikhail Romm I VSYO-TAKI YA VERYU…/ “E AINDA ACREDITO…”, Khutsiev só conseguiu fazer dois filmes em vinte anos, antes de, mais recentemente, voltar à realização. A partir de 1978, Marlen Khutsiev passou a ensinar no VGIK, onde formou vários realizadores. Na primeira metade dos anos sessenta, na União Soviética como em outros “países do Leste” (Polónia, Checoslováquia, Hungria), houve o equivalente de uma nova vaga, um cinema mais leve e mais moderno, feito por cineastas ainda jovens que nada tinham a ver com as convenções académicas e muito menos com a herança do “realismo socialista”. Na União Soviética, realizadores como Otar Iosseliani, Larissa Chepitko, Vassili Chukchin, Kira Muratova, Gueorgui Danelia, são alguns dos nomes mais significativos dessa corrente. É mais do que surpreendente que um cineasta da envergadura de Marlen Khutsiev não tenha tido à época, ou depois, o reconhecimento que merece.
Muito pouco divulgado no mundo ocidental durante grande parte da sua vida, Khutsiev está agora a ser alvo de consagração internacional, tendo sido homenageado já este ano no Festival de Cinema de Locarno.