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Assunto: Exibição
Data: 25/01/2024
Festival Internacional de Roterdão estreia nova cópia digital de Aparelho Voador a Baixa Altitude, de Solveig Nordlund
Festival Internacional de Roterdão estreia nova cópia digital de Aparelho Voador a Baixa Altitude, de Solveig Nordlund
O Festival Internacional de Cinema de Roterdão selecionou, para a secção Cinema Regained, dedicada a filmes de património, a nova cópia digital de APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, filme de Solveig Nordlung, feita pela Cinemateca Portuguesa no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.

A estreia contará com a presença da realizadora, e decorrerá no dia 26 de janeiro, seguido de um encontro com o público e imprensa. Haverá uma segunda sessão a 1 de fevereiro, daquele que é um dos mais singulares filmes portugueses, e um dos raros a aventurar-se no território da ficção científica.

Estreado em 2002, no Festival Internacional de cinema de Gotemburgo, APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE é inspirado no conto Low Flying Aircraft do escritor inglês J.G. Ballard, publicado originalmente em 1975. Solveig Nordlund desenvolve aquilo que o programador Ricardo Vieira Lisboa definiu, no catálogo editado pela Cinemateca, como “um objeto de reflexão sobre os nossos dias”.

Mais do que uma adaptação, APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE é uma reinterpretação do texto original de Ballard. Parece interessar à realizadora a forma como a ficção científica pode refletir sobre a construção da ideia de monstro (o outro, o diferente, eles), sobre a autodeterminação das mulheres, sobre a eugenia genética, entre muitas outras questões.

Seguimos um casal, André e Judite Foster, pela paisagem distópica de um futuro próximo em que a população mundial tem vindo a diminuir drasticamente. Todas as novas gravidezes sofrem de uma influência desconhecida que sujeita os bebés a mutações. Estes seres mutantes – chamados de zotes -, são imediatamente visados e eliminados pelas autoridades. Judite está agora grávida pela sexta vez, embora nenhum dos seus filhos anteriores tenha sobrevivido. Mas, desta vez, Judite não quer seguir o protocolo do Estado para casos como este e, por isso, foge com o marido para se esconder num hotel degradado perto do mar, onde Gould, um médico especialista, talvez os possa ajudar. 

Como explica Nordlund numa entrevista na altura da estreia em 2002 ao jornal Diário de Notícias: "Na história de Ballard, tudo é descrito do ponto de vista do marido (...). Centrei a história na mulher, nos seus medos e desejos", acrescentando que "quando fiz o filme, pensei muito nos pais que querem criar os filhos como cópias de si próprios e não vêem a beleza da diferença".
 
Escritor celebrado no cinema pelas adaptações de IMPÉRIO DO SOL (1987) de Steven Spielberg e CRASH (1996) de David Cronenberg, J.G. Ballard já tinha cruzado o caminho da realizadora em 1987, em que esta adapta o conto VIAGEM A ORION para o cinema. No ano anterior, Solveig entrevista o escritor para a televisão sueca, no contexto do programa Future Now.

Passados mais de 20 anos da sua estreia, APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE é agora apresentado numa nova digitalização 4K realizada pela Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, produzida no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.

O filme regressará às salas nacionais, com o apoio do projeto FILMar, estando a estreia nacional da nova cópia marcada para o dia 7 de fevereiro, no Batalha Centro de Cinema, seguindo-se outras exibições em Portugal e a apresentação na Cinemateca de Oslo a 1 de Março (parceira da Cinemateca Portuguesa no desenvolvimento do programa de digitalização e difusão do património fílmico).

Em 2022, a Cinemateca Portuguesa dedicou uma retrospetiva ao trabalho da realizadora Solveig Nordlund. Radicada em Portugal desde a década de 1970, Solveig Nordlund (Estocolmo, 1943) participou do movimento pioneiro de um novo cinema português, através do trabalho coletivo nas cooperativas Cinequipa e Grupo Zero. Para além de vários documentários, assinou as ficções NEM PÁSSARO NEM PEIXE (1977), DINA E DJANGO (1981), ATÉ AMANHÃ, MÁRIO (1993), COMÉDIA INFANTIL (1997), A FILHA (2003) e A MORTE DE CARLOS GARDEL (2011). O seu último filme, de 2023, é um documentário de curta-duração intitulado MARGARETA PETRÉ ARTISTA EM NORDINGRA. Para além de realizadora, Solveig Nordlund encenou vários espetáculos, produzidos pelo Centro Cultural de Belém, Artistas Unidos, Companhia de Teatro de Almada e Teatro Nacional D. Maria II.

O projeto FILMar é desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa, no âmbito do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, operacionalizado pela Direção-geral do Património Cultural enquanto Operador de Programa. Em articulação com o Norsk Film Institut, em Oslo, tem por objetivo a identificação, digitalização e difusão do património fílmico relacionado com o mar.