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Assunto: CINEMATECA
Data: 29/04/2024
FILMar chega a Bom Porto
FILMar chega a Bom Porto
O projeto FILMar, desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema desde 2 Fevereiro 2020, chega ao seu término a 30 de Abril 2024, depois de ter digitalizado 267 títulos de património fílmico relacionado com o mar. Operacionalizado no âmbito do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, o FILMar teve como propósito orientador a identificação, preservação, digitalização e difusão do cinema português, estabelecendo parcerias nacionais e internacionais, nomeadamente com o Norsk Film Institutt e a Cinemateca de Oslo, na Noruega.

Ao longo de mais de três anos, e com um orçamento de 981,324,81€, o FILMar contribuiu para a digitalização de 10511 minutos (números de 30 de Abril, validados), distribuídos da seguinte forma: 119 curtas-metragens (3 804 minutos) e 68 longas-metragens (6 707 minutos), ultrapassando os objetivos iniciais de 10 mil minutos e 70 títulos.

Para além disso, e desde a primeira sessão pública, a 12 de Junho 2021, com MARIA DO MAR, de José Leitão de Barros, o FILMar levou quase 180 filmes a cerca de 40 cidades nacionais, em ciclos temáticos, sessões especiais, extensões e programas de mediação de devolução às comunidades, em colaboração com festivais, cineclubes, exibidores, museus e galerias de arte, universidades, projetos educativos e de mediação cultural, para além de ter criado uma parceria com o programa Cinemax, da RTP.

Com programações regulares em Coimbra, Covilhã, Estremoz, Elvas, Évora, Funchal, Guimarães, Ílhavo, Leiria, Lisboa, Loulé, Mealhada, Porto, Santarém, Seia, Vila do Conde, Vila Franca de Xira, Vila Nova de Famalicão e Vila do Porto (Santa Maria), e sessões especiais em Abrantes, Aldeia da Luz, Bussaco, Campo Gerês, Culatra, Montemor-o-Novo, Ovar, Ponta Delgada, Pombal, Peniche e Vieira de Leiria, a Cinemateca Portuguesa desenvolveu um amplo trabalho de descentralização, difusão e inscrição da memória patrimonial fílmica a partir de um eixo que entendeu o mar como elemento agregador para pensar o modo como, ao longo do século X, o cinema português tratou, fixou e moldou as imagens que temos da industrialização do país, o desenvolvimento turístico, os fluxos migratórios, a economia pesqueira, as práticas sociais, comunitárias e religiosas associadas ao mar ou as mitologias épica, propagandística e de resistência.

Entre os muitos filmes digitalizados, em grande número disponíveis na Cinemateca Digital, encontram-se títulos emblemáticos que, com o FILMar, puderam ser vistos por um público muito diverso. Permitimo-nos destacar a estreia comercial de CATEMBE, de Manuel Faria de Almeida (1965), o mais censurado filme na história do cinema português; a seleção para os festivais internacionais de AS ILHAS ENCANTADAS, de Carlos Vilardebó (1965), no Festival Lumière (França), e APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, de Solveig Nordlund (2002), no Festival Internacional de Cinema de Roterdão (Holanda), as retrospetivas dedicadas a António Campos e Augusto Cabrita, em 2023 e 2024, no ano dos respetivos centenários, ou a atenção dada ao cinema-documento de Raquel Soeiro de Brito, com a digitalização integral dos filmes realizados entre 1958 e 1973, e às encomendas institucionais feitas nas décadas de 1960 e 1970 a realizadores como António de Macedo, José Fonseca e Costa, Alfredo Tropa e Fernando Matos Silva.
 
O arco narrativo dos 267 filmes digitalizados traça-se entre 1912, com A ROMARIA AO SENHOR DA PEDRA (sem autor identificado), e A ESPADA E A ROSA (João Nicolau, 2010), mostrando a ampla relação geracional, temática, estética, ética e social de um cinema atropelado pela ideologia, atravessado por guerras e revoluções, e a mudança do lugar do cinema na sociedade.

O FILMar permitiu, ainda, a organização de exposições em Ílhavo (Museu Marítimo de Ílhavo), Lisboa (Biblioteca Municipal de Marvila), Seia (Casa da Cultura Municipal), Vila do Conde (Solar Galeria de Arte e Teatro Municipal de Vila do Conde).

Se a dimensão pública foi a mais visível, e as quase 450 sessões realizadas são a prova da existência de um público para a reescrita da nossa relação com o cinema português, o maior contributo do projeto FILMar para o futuro da Cinemateca Portuguesa e, através dele, do programa EEAGrants 2020-2024, é a constituição de um laboratório digital que ficará no Arquivo Nacional das Imagens em Movimento, e que permitirá prosseguir autonomamente a digitalização do património fílmico português.

O último dia do FILMar permitirá a apresentação de novos títulos, nomeadamente O CONVENTO (Manoel de Oliveira, 1995), apresentado por Leonor Silveira, AGOSTO (Jorge Silva Melo, 1986), e O ÚLTIMO MERGULHO (João César Monteiro, 1992), apresentado por Rita Blanco, atrizes nos filmes.

As sessões incluem ainda curtas-metragens norueguesas contemporâneas, e haverá uma sessão com curtas de património, comentadas por Tina Anckarmann, da Biblioteca Nacional da Noruega, acompanhadas ao piano por Filipe Raposo. Todas as sessões são de entrada gratuita.

Ainda, ao longo do dia serão apresentadas várias edições da Cinemateca, realizadas no âmbito do projeto: CATEMBE – ESSE OBSCURO DESEJO DE CINEMA, de Maria do Carmo Piçarra, em coedição com a Tinta da China, e que inclui a planificação censurada e um DVD com o filme, os cortes e o trailer inédito; o CADERNO DA CINEMATECA: CARLOS VILARDEBÓ, o primeiro grande estudo completo sobre a obra do realizador de AS ILHAS ENCANTADAS, coordenado por Ricardo Vieira Lisboa; o livro que reúne as folhas da Cinemateca das 55 sessões FILMar ali decorridas; um álbum de fotografias dos bastidores da rodagem de AS ILHAS ENCANTADAS, por Augusto Cabrita; um catálogo com seis ensaios inéditos de Abel Coentrão, Amarante Abramovici, Leonardo Aboim Pires, Pedro Florêncio, Ricardo Vieira Lisboa e Victor Barros, que ampliam o estudo crítico sobre o cinema e o mar; e um DVD com o filme OS FAROLEIROS, de Maurice Mariaud, com a partitura encomendada pelo Batalha Centro de Cinema ao compositor Daniel Moreira e interpretada pelo Quarteto Arditti, acompanhados de duas horas de extras, entre elas cinco curtas-metragens, entre as quais O FADO, com a música original encomendada ao compositor e guitarrista José Manuel Neto.

Depois de 30 de Abril, ainda vai ser possível assistir, até 5 de Maio, no Museu Marítimo de Ílhavo, à exposição IDEOLOGIAS DO MAR. CONFRONTOS E NARRATIVAS, e até 8 de Junho, à exposição ANIMar 19, na Solar Galeria de Arte, em Vila do Conde, que incluem vários filmes digitalizados, bem como, no Museu Nacional Resistência e Liberdade, em Peniche, ao filme A FUGA, de Luís Filipe Rocha, integrado no circuito expositivo do novo museu agora inaugurado. Vários filmes digitalizados pelo FILMar têm já data de estreia marcada, em sessões com a colaboração da Cinemateca, da qual se dará posterior nota.