Pelos fragmentos e lacunas que apresenta, bem como pelos números inscritos a lápis que não foram apagados, o quadro final com a possível reconstituição do cartaz do filme entra assim no museu como dois objetos (
musealia) num só: o cartaz-objeto, retirado da sua função original mas conferido de outro significado e valor; e o cartaz-objeto composto de fragmentos aos quais também foi retirada a função (já não a original do cartaz inteiro destinado a afixação para promoção do filme, mas a que conhecemos à data do seu “achamento”) mas que também adquire um outro significado, agora como testemunho dessa etapa intermédia da sua existência, e um outro valor.
Não conhecemos nenhum outro caso em que o caráter efémero dos cartazes esteja tão explícita e flagrantemente inscrito: material impresso de informação transitória, produzido sem intenção de ser preservado, mas que – e, neste caso, sobremaneira – adquire valor histórico enquanto marca de um determinado período.
Habituados que estávamos às modalidades ditas “clássicas” de aquisição, onde se inserem a compra e a doação, a incorporação e a transferência, a permuta e mesmo o depósito e, mais recentemente, a captura de recursos da
World Wide Web, tivemos assim de introduzir esta nova forma que, parecendo-se com os “resgates” (que também já praticámos e que são relativamente frequentes no meio arquivístico), são ainda uma outra coisa, mais próxima da arqueologia. E tendo de definir a respetiva designação para esta nova modalidade, necessária à criação do código alfanumérico com que identificamos o processo de aquisição documental, citaremos Pêro Vaz de Caminha chamando-lhe: “achamento”.
Teresa Barreto Borges
Tipologia documental: cartaz
Autor: Pinto de Magalhãis
Impressão: Empresa Gráfica Apolino, Vila Nova de Gaia
Dim. c. 126x226 cm