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Assunto: Rui Eduardo Santana Brito
Data: 25/01/2017
Rui Eduardo Santana Brito (1944 - 2017)
Rui Eduardo Santana Brito (1944 - 2017)
A ele lhe devemos, logo em 1981 (data em que entra para o quadro da Cinemateca), a tradução para a língua portuguesa do thesaurus da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes, ferramenta maior da recuperação da informação pelos utilizadores (até essa data, os descritores eram usados em língua francesa…), bem como o enorme impulso dado às operações de indexação, tanto de publicações periódicas como de livros, programas, cartazes, folhetos, etc., em todos os anos em que trabalhou na Cinemateca (primeiro como técnico superior de documentação, até 1988, depois como Chefe de Divisão, de 1989 a 1997, e também nos anos em que ocupou o cargo de Vice-Presidente, de 1997 a 2005).
Sintetizava e simplificava com mestria: o que importava era criar índices (entradas por filmes, personalidades, temas), permitindo um fácil e rápido acesso à informação, e não a descrição formal completíssima que, no seu entender e bem, é própria das bibliotecas nacionais mas não das especializadas.
A ele lhe devemos, entre tantas, e tantas outras coisas, a primeira fase da informatização do catálogo do Centro de Documentação, em 1993 (e uma grande porção dos mais de 900.000 registos que esse catálogo atualmente contém), e a atenção e efetiva criação de coleções de novas tipologias entretanto surgidas e que considerava relevantes para documentar a história do cinema em Portugal, como é o caso dos videogramas e das bandas sonoras de filmes.
Ao longo dos anos, colaborou empolgadamente em tantos e tantos catálogos – na tradução de textos (entre outros, são suas as excelentes traduções editadas pela Cinemateca de “O Nome Acima do Título”, de Frank Capra, e de “Preston Sturges por Preston Sturges : uma autobiografia”), na pesquisa bibliográfica, na seleção de fotografias e outras imagens – e em exposições (em 2005, concebeu a exposição “Vedetas com Tinta”, em parte baseada na sua própria e muito rica coleção privada de fotografias autografadas de atores e atrizes de todas as épocas, que foi reunindo ao longo de décadas de cinefilia militante).
Rui Santana Brito foi membro da Comissão de Documentação da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes no final dos anos 80 e início dos anos 90, e autor do volume correspondente a Portugal e Espanha da série Cinematographers - Set and Costume Designers da mesma Federação.
Anos depois da sua reforma antecipada por motivos de saúde, Rui regressou à Cinemateca para, como voluntário, prosseguir as tarefas de indexação que tanto gozo lhe davam – produzia incansavelmente fichas de descrição de conteúdos dos artigos de revistas, catalogava e indexava vídeos, sempre numa ânsia de produzir mais e mais informação para a sua posterior recuperação por todos os utilizadores, internos e externos, da Biblioteca. Continuou assim a folhear e a descrever as páginas das “suas” revistas: Estúdio, Films Selectos, Photoplay (a cinefilia estava-lhe no sangue) mas também periódicos sobre filmografias estrangeiras de pouca projeção em Portugal, sabendo que poderiam conter dados que dificilmente se encontrariam noutras publicações.
Simultaneamente, identificava fotografias de filmes e irritava-se tremendamente quando o “lote” que tinha em mãos não prestava porque não mostrava caras por onde pudesse começar a seguir pistas para essa identificação… Porque as caras, conhecia-as a todas, principais ou secundários os atores e atrizes eram a sua paixão, e por isso “despachava” como ninguém as fotografias à espera de informação para serem devidamente trabalhadas e arquivadas.
Em janeiro de 2004, para o Ciclo “A Casa Programa Para Fora de Casa”, escolheu e apresentou apenas e unicamente uma seleção de filmes com a muito “sua” beautiful, beautiful lady Eleanor Parker. E vai ser com ela mas por causa do Rui e para o Rui que a Biblioteca da Cinemateca ganhará uma nova estrela na sala de leitura.
 
Uma última nota, pessoalíssima:
a mim, o Rui não me deu um peixe, ensinou-me a pescar.

Teresa Borges
26.01.2017