Câmara de filmar de 35mm
Arriflex 32 IIA
Arri – Arnold & Richter KG
Munique (Alemanha), 1953-1978
CP-MC|GF717/000
Câmara de filmar de 35mm portátil (perfurações Edison); tração intermitente por garra única (tração contínua no interior do magasin); obturador de abertura variável; torre com 3 objetivas: 1 objetiva Carl Zeiss “Planar” f/2 de 32mm, nº1520718, 1 objetiva Schneider-Kreuznach “Xenon” f/2 de 28mm, nº4220627 e 1 objetiva Schneider-Kreuznach “Xenon” f/2 de 50mm, nº4077633; visor reflex (obturador espelhado); 1 magasin externo de 60m; motor Arri 50 de 12V (nº de fabrico 2209); número de fabrico: B 5536; Blimp nº 434.
A firma alemã Arri (contração dos primeiros nomes dos fabricantes alemães Arnold e Richter) foi fundada em 1917 como laboratório cinematográfico e fábrica de acessórios. Em 1937, a Arri lançou a Arriflex, a primeira câmara de filmar com um visor reflex: graças a um sistema de espelhos, o operador podia ver no visor exatamente a mesma imagem que seria impressa na película negativa. Leve e compacta, a Arriflex foi muito apreciada pela sua robustez, tendo sido largamente usada pelos operadores alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Algumas Arriflexes capturadas pelo Exército norte-americano foram usadas em Hollywood logo após o conflito – na sua versão original ou numa cópia americana, a Cineflex PH-330. Uma das primeiras utilizações da Arriflex no cinema americano teve lugar nas sequências iniciais em “câmara subjetiva” de DARK PASSAGE (1947), realizado por Delmer Daves. No final da Segunda Guerra Mundial surgiu uma nova versão – a Arriflex II –, fabricada a partir de 1946 nas novas instalações da empresa (as originais tinham sido destruídas pelos bombardeamentos aliados durante a guerra). A Arriflex II possuía um sistema de tração contínua muito estável, integrado no magasin, o que permitia uma troca do mesmo especialmente simples e rápida. Para filmagens com som direto era necessário revestir a Arriflex com uma caixa insonorizadora (“blimp”) vendida pelo fabricante. Nas suas versões sucessivas, a Arriflex venderia mais de 17.000 exemplares até ao final dos anos setenta, tendo o fabricante alemão continuado a lançar novos modelos até 1999.
Tal como a Cameflex, a Arriflex foi uma das câmaras preferidas dos realizadores dos novos cinemas europeus como foi o caso, em Portugal, de Manoel de Oliveira.
Este exemplar foi adquirido por Manoel de Oliveira diretamente à fábrica Arnold & Richter, em Munique, na primeira metade da década de 1950. Segundo afirmou o realizador, “era a época em que a cor se expandia, e pensei que para retomar o meu trabalho me eram necessárias duas coisas: conhecer a cor e recomeçar como para o Douro, faina fluvial, quer dizer comprar uma câmara. (…) Tinha como amigo, João Hitzmann, o representante da Agfa em Portugal. Propôs-me fazer um estágio de um mês, perto de Colónia, em Leverkusen, onde está a firma Bayer, que fabrica a película Agfa. (…) Depois fiz um outro pequeno estágio, desta vez, de cinema, e fui a Munique, à fábrica Arnold Richter, que fabricava as câmaras Arriflex. Encontrei aí um alemão que falava bem português e que muito me auxiliou. Havia reduções na compra de material para os alemães, e ele permitiu-me beneficiar dessa vantagem. Escolheram-me boas objetivas, a câmara mais acessível, e parti com este material no meu carro. Foi assim que realizei O PINTOR E A CIDADE, onde fui, simultaneamente, realizador e diretor de fotografia. Fiz a mesma coisa para O PÃO, ACTO DA PRIMAVERA (1962), A CAÇA (1963) e AS PINTURAS DO MEU IRMÃO JÚLIO.” (Antoine de Baecque e Jacques Parsi, Conversas com Manoel de Oliveira, Porto: Campo das Letras, 1999, pp.143-144). Segundo um outro testemunho de Manoel de Oliveira (maio de 1990), esta mesma câmara foi usada ainda nos filmes O PASSADO E O PRESENTE (1971) e BENILDE OU A VIRGEM MÃE (1974) e também em O ESTADO DAS COISAS, de Wim Wenders, rodado em Portugal e aqui estreado em 1983.