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Assunto: Gestos & Fragmentos
Data: 23/04/2020
Histórias do Cinema: Jean Douchet / Eric Rohmer
Histórias do Cinema: Jean Douchet / Eric Rohmer
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sessão-conferência de 14 de março de 2016, sobre os filmes Louis Lumière, Hommage a Eric Rohmer e Place de l’Étoile


sessão-conferência de 15 de março de 2016, sobre o filme La Collectioneuse / A Coleccionadora

sessão-conferência de 16 de março de 2016, sobre o filme Les Nuits de La Pleine Lune / Noites de Lua Cheia

sessão-conferência de 17 de março de 2016, sobre o filme CONTE D’HIVER

sessão-conferência de 18 de março de 2016, sobre o filme L’ANGLAISE ET LE DUC / A INGLESA E O DUQUE

Quatro anos depois de uma memorável série de apresentações à volta de filmes de Jean Renoir, Jean Douchet (1929-1919) regressou à Cinemateca para comentar a obra de Éric Rohmer, com quem teve relações pessoais e profissionais durante mais de meio século, além de muitas afinidades intelectuais. A sua escolha incidiu sobre um filme de cada uma das “séries” de obras realizadas por Rohmer: os “Seis Contos Morais” (LA COLLECTIONNEUSE), as “Comédias e Provérbios” (LES NUITS DE LA PLEINE LUNE) e os “Contos das Quatro Estações” (CONTE D’HIVER), além de um dos filmes “atípicos” da fase final do realizador (L’ANGLAISE ET LE DUC) e de uma sessão inaugural em que, ao lado de um dos mais importantes filmes realizados por Rohmer nos anos sessenta para a televisão educativa (LOUIS LUMIÈRE), poderemos ver o seu episódio de PARIS VU PAR…, que Jean Douchet considera “o único filme-manifesto da Nouvelle Vague e o seu último filme enquanto movimento organizado”, e uma breve curta-metragem de Jean-Luc Godard, em homenagem a Rohmer.
Figura maior do cinema francês, da Nouvelle Vague e, por conseguinte, do cinema moderno, Eric Rohmer é um dos realizadores mais divulgados pela Cinemateca, desde o histórico Ciclo em 1983, acompanhado por um catálogo, a ciclos mais recentes, o último dos quais, “Sob o Signo de Rohmer”, foi organizado por ocasião da sua morte. Os seus filmes também foram programados nos mais variados programas temáticos e os espectadores da Cinemateca tiveram diversas ocasiões de ver as suas obras mais emblemáticas, além de algumas mais raras.
Jean Douchet e Eric Rohmer conheceram-se em 1949, no mítico Festival do Filme Maldito, organizado em Biarritz por Henri Langlois. A amizade pessoal e profissional entre os dois foi fixada pelo cinema, no episódio da série “Cinéma, de Notre Temps” dedicado a Rohmer (ERIC ROHMER – PREUVES À L’APPUI), em que Douchet o entrevista, por escolha pessoal de Rohmer. Depois de estudos em filosofia, Jean Douchet participou da aventura da Nouvelle Vague ao tornar-se crítico dos Cahiers du Cinéma em 1957 e, dois anos mais tarde, de Arts, revista onde também escreveram Jean-Luc Godard e François Truffaut. Em 1967, publicou um livro sobre Alfred Hitchcock, no qual analisa em particular o seu uso do suspense. Douchet também publicou, em colaboração com Gilles Nadeau, Paris Cinéma: une Ville par le Cinéma de 1895 à nos Jours (1987) e Nouvelle Vague, um livro essencial sobre a história e a estética daquele movimento. Uma compilação dos seus artigos foi publicada em 1987 sob o título L’Art d’Aimer e reeditada em 2003. Em 2014, Joel Magny publicou um livro-entrevista, Jean Douchet: l’Homme Cinéma. Reconhecido e consagrado como uma das mais importantes figuras da crítica de cinema de sempre, Jean Douchet teve durante muitos anos, na Cinemateca Francesa, o seu “cineclube”, uma sessão mensal por si apresentada, com público fiel e fervoroso. Avesso aos terrorismos e às modas intelectuais, erudito e ao mesmo tempo cinéfilo à antiga (isto é, autodidata no que se refere à sua formação cinematográfica), mestre de uma prosa elegantíssima, Jean Douchet vem lembrar-nos, pelo seu trabalho, que o cinema faz parte da cultura geral e que a melhor maneira de ver um filme é ter discernimento pessoal e não esquecer a noção de prazer, que para um hedonista como ele é fundamental. Recebê-lo na Cinemateca (onde ainda voltaria uma última vez em novembro de 2016 para apresentar O TÚMULO ÍNDIO de Fritz Lang) foi sempre uma honra e um prazer, pois poucas pessoas sabem transmitir com tanta clareza e inteligência o que é a arte de ver filmes.
Programa das sessões-conferência | apresentadas por Jean Douchet
 
LOUIS LUMIÈRE
de Eric Rohmer
França, 1966 – 66 min
HOMMAGE A ERIC ROHMER
de Jean-Luc Godard
com Jean-Luc Godard
França-Suíça, 2010 – 3 min
PLACE DE L’ÉTOILE
de Eric Rohmer
com Jean-Michel Rouzière, Marcel Gallon
França, 1965 – 15 min
Nos anos sessenta, Rohmer realizou diversos filmes para a televisão escolar. De todos, LOUIS LUMIÈRE é sem dúvida o mais importante. Para falar do cinema dos começos e dos começos do cinema, Rohmer convidou apenas duas pessoas, que dialogam: Jean Renoir, o maior cineasta francês de sempre na opinião de Rohmer, e Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa e do ofício de programador de filmes. Nem um nem outro consideram o cinema dos Lumière primitivo: ”Em Lumière, não há acaso, há saber”, diz Langlois. Apesar das enormes diferenças formais entre os seus filmes e ideológicas entre as suas pessoas, Eric Rohmer e Jean-Luc Godard tinham grandes afinidades pessoais e intelectuais. Na breve HOMMAGE À ERIC ROHMER vemos trechos de artigos de Rohmer, acompanhados por um comentário de Godard. PLACE DE L’ÉTOILE é o episódio de Rohmer para o filme coletivo PARIS VU PAR… e é exemplar das suas escolhas formais, nomeadamente o uso da voz “off” e do espaço, pois toda a trama do filme depende da configuração das doze avenidas que partem do Arco do Triunfo. Jean Douchet faz uma figuração como cliente da loja onde trabalha o protagonista.
 
LA COLLECTIONNEUSE
A COLECIONADORA
de Eric Rohmer
com Patrick Bauchau, Haydée Politoff, Daniel Pommereule
França, 1967 - 86 min
Este é o quarto dos “Seis Contos Morais” de Rohmer, embora tenha sido o terceiro a ser filmado. Em LA COLLECTIONNEUSE, estamos numa casa em Saint-Tropez, no período das férias. Dois amigos, um parasita elegante e um artista, entram num jogo com uma jovem que coleciona amantes de passagem, porém sem critério nem gosto, na opinião dos dois homens. Com a elegância de um romance do século XVIII, Rohmer desenvolve toda uma rede de relações entre as personagens, que passam sempre pelo verbo e pelas construções intelectuais. À diferença do que aconteceria mais tarde no seu cinema, as personagens são adultas e fortes e não quase adolescentes e fracas.
 
LES NUITS DE LA PLEINE LUNE
AS NOITES DA LUA CHEIA
de Eric Rohmer
com Pascale Ogier, Tchéky Karyo, Fabrice Luchini, Virginie Thévenet
França, 1984 - 98 min
LES NUITS DE LA PLEINE LUNE é o quarto filme da série “Comédias e Provérbios” e é posto sob o signo do seguinte provérbio: “Quem tem duas casas, perde a alma; quem tem duas mulheres, perde a razão”. Foi dos maiores êxitos de público da carreira de Rohmer, alargando o seu público. Pascale Ogier tem neste filme, o último que fez, antes de morrer aos 26 anos, uma presença excecional como atriz e também escolheu os adereços, encorajada pelo realizador, que era de opinião que tais escolhas acentuariam a verosimilhança sociológica do filme. É o filme em que as personagens de Rohmer deixam de ser fortes e aquele a partir do qual ele passa a ridicularizá-las, pelo menos em parte.
 
CONTE D’HIVER
de Eric Rohmer
com Charlotte Véry, Frédéric Van Den Driessche, Hervé Furic
França, 1991 - 110 min
Apreciador dos filmes realizados em série, era natural que Rohmer adotasse o tema genérico das quatro estações, que permite a elaboração de uma série coerente, com diversas possibilidades de variações nas situações dramáticas e nos temas visuais. Nasceram assim os “Contos das Quatro Estações”. Neste segundo “episódio”, as personagens não pertencem ao meio social habitual do cinema de Rohmer e os atores são amadores. Há porém no filme a visão da vida como extensão da literatura, típica das personagens rohmerianas: uma representação do Conto de Inverno, de Shakespeare, dá à protagonista a certeza de poder reencontrar o homem que amara e que perdera de vista.
 
 
L’ANGLAISE ET LE DUC
A INGLESA E O DUQUE
de Eric Rohmer
com Jean-Claude Dreyfus, Lucy Russell, Alain Libolt, Charlotte Véry
França, 2001 - 129 min
Num meandro inesperado na sua obra, Rohmer aborda, à sua maneira, o “filme histórico”. Na verdade, nos seus trabalhos para a televisão nos anos sessenta, realizou muitas obras pedagógicas, das quais há certos resíduos neste filme. Situado durante a Revolução Francesa, o filme gira em torno da amizade entre uma inglesa instalada em Paris e o Duque de Orleães, que tenta manobrar no meio da tempestade política e entrou para a história com o cognome de “Philippe Égalité”, por ter votado a morte do seu primo, o rei Luís XVI. Ao invés de reconstituir cenários de época, Rohmer filma em interiores e utiliza, para os exteriores, trucagens em computador que ecoam as técnicas dos primórdios do cinema.


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