Apresentou aqui Ernst Lubitsch nas Histórias do Cinema realizadas em março deste ano, e bastou isso para marcar a história desta casa. Introduziu e discutiu cinco filmes (Madame Dubarry, Sumurum, Trouble in paradise, The shop around the corner e Cluny Brown) e, através deles, falou-nos de Lubitsch de outra maneira, cortando a direito sobre os clichés - a habitual conversa do Lubitsch Touch, os mecanismos estilísticos ou narrativos, a habilidade da elipse. Falou-nos de um Lubitsch preocupado com o humano e o social, e do lado cáustico, do infinito rigor, subtileza e profundidade da realização a esses níveis. No fim, era dele próprio que também nos sentíamos muito próximos, e foi dele próprio que nos custou muito despedir.
Antes de partir, no Livro de Honra da Cinemateca, fez suas palavras do realizador alemão: “Estava cansado das duas receitas consagradas e comumente aceites, drama com alívio de comédia e comédia com alívio dramático. Tomei a decisão de fazer um filme em que não houvesse nenhuma tentativa de aliviar ninguém, de nada, em nenhum momento.” Deixou-nos no passado dia 23 de julho. Como conviver com esta morte?
José Manuel Costa
Histórias do Cinema: Hans Hurch / Ernst Lubitsch, a intervenção de abertura de Hans Hurch no dia 20 de março de 2017