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Assunto: Cinema português
Data: 02/03/2018
Até sempre Artur Correia e Servais Tiago
Até sempre Artur Correia e Servais Tiago
A Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema soube com consternação do desaparecimento nos últimos dias de dois grandes vultos do cinema de animação em Portugal e dois grandes amigos da Cinemateca, Artur Correia (1932-2018) e Servais Tiago (1925-2018). Ambos passaram recentemente pelas nossas salas, o primeiro com a exibição da sua hoje lendária série de animação, “O Romance da Raposa”, ambos em sessões destinadas a homenagear os pioneiros da publicidade em Portugal.

Artur Correia iniciou-se na animação nos anos 70, quando era praticamente a publicidade, para a televisão e para os cinemas, o único meio possível de se trabalhar nesse género no nosso país. Desenhador notável, de traço simples e gentil, os seus filmes fazem parte do imaginário de uma geração, como “A Família Prudêncio”, tendo vencido com “Schweppes – O Melhor da Rua” o Prémio de Melhor Filme Publicitário em Annecy. Autor ainda para a Telecine-Moro de “Eu Quero a Lua”, em 1970, com estreia nos cinemas, funda com Ricardo Neto a Topefilme, o primeiro estúdio de animação em Portugal, onde adapta alguns contos tradicionais portugueses, como “O Caldo de Pedra” ou “Os Dez Anõezinhos da Tia Verde-Água”. Em 1988 dirige para a RTP a série “O Romance da Raposa”, baseado na obra de Aquilino Ribeiro. Ilustrador e desenhador, homem de grande cultura e sensibilidade, desenhou vários álbuns, como “História Alegre de Portugal” ou “Super-Heróis da História de Portugal”. Mais recentemente voltou a animar, com os filmes “História a Passo de Cágado” e “A Nau Catrineta”. Há dias, a Academia Portuguesa de Cinema anunciara que lhe seria entregue no final de março o Prémio Sophia de Carreira.
Velho amigo de Artur Correia, Servais Tiago é autor de um dos primeiros filmes de animação portugueses, “Auto-Mania” (1943), que começou a produzir quando tinha apenas 14 anos. Pouco antes, tinha descoberto em casa de um amigo um aparelho de 9,5mm, da Pathé-Baby e começou desde logo a fazer experiências em papel e em película velha que comprava nos cinemas. Álvaro Antunes, um dos pioneiros do cinema amador em Portugal, deu-lhe então as condições para realizar esse primeiro filme, de que a Cinemateca Portuguesa detém duas cópias nesse formato. Em 1946, Servais Tiago começa a trabalhar nos estúdios Kapa, onde desenvolve os seus conhecimentos sobre a animação, que aplica a filmes publicitários, que se destacariam desde logo dos demais pela sua qualidade (são disso exemplos “Perfumes Kimono” ou “Malhas Locitay”, produzidos ainda nos anos de 1940). Já nos estúdios Cineca, realiza os primeiros filmes de animação coloridos no nosso país, como “Tricocida” ou “Grandella”. Além de uma longuíssima obra no filme publicitário, ensaia ainda a ficção lúdica, em títulos a descobrir, como “Tó e Tina” e “O Tóto, a Tita e o Tico”.

Notas

Na imagem: Artur Correia