No Lower East Side de Manhattan, na 2nd. Ave com a 1st. St., existiu até ao início deste milénio um lugar que combinava o espirito beatnik com a efervescência independente da avant-garde Americana, regida por um Lituano espirituoso e cheio de spirits, proporcionando com gusto uma miríade de tiradas fantásticas sobre a vida, as artes e o labirinto da política cultural. Era o Mars Bar, a "biblioteca" onde nos reuníamos para um break das árduas funções que exercíamos no templo da 2nd. Ave. com 2nd. St. - o Anthology Film Archives.
Jonas Mekas (1922/2019) era o mais informado dos defensores de um cinema orientado para a poesia e a idiossincrasia, com o seu olhar afiado para documentar os diversos ports of entry que a conturbada e traumática experiência que o Século XX proporcionou aos mais audazes desbravadores do planeta.
Pensador, poeta e crítico mas, antes de tudo, cineasta, Jonas "comandava a banda".
O eterno entusiasmo de Jonas deu-nos o Anthology Film Archives que, há várias décadas, permanece um espaço que abriga um cinema pessoal e intransferível que é essencial, como os filmes que são projetados naquele templo em que a instituição se tornou, dedicada aos seus seguidores e neófitos, compartilhando a jovialidade anárquica do Mestre.
Tive o privilégio de conviver com Jonas Mekas nos anos cruciais da transição do cinema analógico para o cinema digital, permitindo aos novos cineastas, técnicos, atores e pensadores de cinema tornarem palpável a clássica expressão de Jean Cocteau de que o Cinema será uma Arte somente a partir do momento em que o seu custo for o mesmo que o de um lápis e uma folha de papel.
Em tempos recentes, o maior feito de Mekas foi o de unir o analógico ao digital, e propor esta animada discussão que continua pela estrada à frente e pelo olhar retrovisor.
Viva o Anthology, que continua a cumprir a sua missão. O "templo" e as suas atividades são o legado de Jonas à cinefilia e à invenção cinematográfica.
Fabiano Canosa, 29 janeiro 2019