CICLO
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema


Em julho regressa a rubrica Histórias do Cinema com P. Adams Sitney, o reconhecido historiador do cinema de vanguarda norte-americano, que apresentará um conjunto de sessões-conferência com filmes por si escolhidos, organizadas segundo uma proposta temática reunida sob o título “Sexo e Espiritualidade na História do Cinema”. Como escreveu Sitney, “as cinco sessões concentrar-se-ão nos modos como alguns dos maiores filmes do século XX produziram os seus efeitos e simultaneamente celebraram o que os seus criadores acreditavam ser a essência do cinema. Uma combinação eclética de estratégias interpretativas retóricas e psicanalíticas explorará a história do cinema de vanguarda e as narrativas modernistas.”
Cofundador (com Jonas Mekas, Peter Kubelka e Jerome Hill) dos Anthology Film Archives, “museu dedicado à arte do cinema guiado por uma sensibilidade de vanguarda”, ao longo dos anos P. Adams Sitney tem escrito extensamente sobre as vanguardas e o chamado cinema experimental, mas também sobre cinema moderno europeu e a sua “poesia”, sendo autor de obras célebres como Visionary Film: The American Avant Garde, cuja primeira edição data de 1974, Modernist Montage (1992); Vital Crises in Italian Cinema (1995);  Eyes Upside Down: Visionary Filmmakers and the Heritage of Emerson (2008) e The Cinema of Poetry (2014). No seu regresso à Cinemateca – depois de em 2018 ter apresentado duas conferências sobre Stan Brakhage, uma das quais centrada no livro Metaphors on Vision, de que foi o editor –, P. Adams Sitney revelar-nos-á a vastidão do pensamento que desenvolveu enquanto historiador, crítico, professor e investigador, que ultrapassa em muito a sua íntima relação com o cinema de vanguarda norte-americano. Entre os filmes a exibir e discutir nestes dias estão obras de Maya Deren, Stan Brakhage, Man Ray, Hollis Frampton ou Kenneth Anger, que faleceu muito recentemente, mas também ORDET, de Carl Th. Dreyer, ou ZERKALO/O ESPELHO, de Andrei Tarkovski.

INFORMAÇÃO SOBRE AS SESSÕES-CONFERÊNCIA E VENDA DE BILHETES
Iniciada em setembro de 2011 como rubrica regular de programação da Cinemateca Portuguesa assente na ideia de um binómio, Histórias do Cinema é uma proposta para cinco dias de programação em torno de cinco filmes (ou em cinco sessões, com número variável de obras projetadas) em que um convidado discorre sobre um autor ou um tema histórico, numa sequência de encontros que são antes de mais pensados como experiência cumulativa. As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea. Para todas as sessões do Ciclo mantem-se o normal sistema de venda avulso de acordo com o preço habitual.
 
 
03/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Anémic Cinéma | L’Étoile de Mer | Ménilmontant | Sincerity (Reel One) | Gloria!
duração total da projeção: 102 min | M/12
 
04/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
Dinamarca, 1955 - 125 min
05/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Programa de curtas-metragens
duração total da projeção: 102 min | M/12
06/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Zorns Lemma | The Riddle of Lumen | Nostalgia (Hapax Legomena I: Nostalgia)
duração total da projeção: 115 min | M/12
07/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Zerkalo
“O Espelho”
de Andrei Tarkovski
URSS, 1975 - 102 min
03/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento
Anémic Cinéma | L’Étoile de Mer | Ménilmontant | Sincerity (Reel One) | Gloria!
duração total da projeção: 102 min | M/12
As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea
ANÉMIC CINÉMA
de Marcel Duchamp
França, 1925 – 7 min / mudo

L’ÉTOILE DE MER 
de Man Ray
com Robert Desnos, Kiki de Montparnasse
França, 1927 – 15 min / mudo, intertítulos em francês, legendados eletronicamente em português

MÉNILMONTANT
de Dimitri Kirsanoff
com Nadia Sibirskaia, Yolande Beaulieu, Guy Belmoré
França, 1929 – 43 min / mudo, sem intertítulos

SINCERITY (REEL ONE)
de Stan Brakhage
Estados Unidos, 1973 – 27 min / mudo

GLORIA!
de Hollis Frampton
Estados Unidos, 1979 – 10 min / legendado eletronicamente em português

Um programa que reúne grandes clássicos das vanguardas, do surrealismo e dadaísmo francês dos anos vinte, à vanguarda norte-americana dos anos sessenta e setenta. ANÉMIC CINÉMA foi realizado por Marcel Duchamp em meados dos anos vinte com a colaboração de Man Ray e, num gesto de clara provocação, põe em causa as regras admitidas e aplicadas pelo cinema. Caracterizado por muitos como um “cine-poema” ou um “film-flou” de imagens difusas, L’ÉTOILE DE MER é um dos mais célebres filmes de Man Ray e um dos grandes exemplos do surrealismo no cinema. MÉNILMONTANT tem de pleno direito um lugar de destaque no cinema francês de autor dos anos vinte, inserindo-se nas margens da vanguarda parisiense ao conjugar uma intriga de fundo melodramático e uma sintaxe moderna. Em SINCERITY (REEL ONE) Stan Brakhage realiza um trabalho de fundo autobiográfico, que reflete os seus primeiros vinte anos de vida. Já em GLORIA!, Hollis Frampton, um dos mais importantes cineastas da vanguarda nova-iorquina da década de 1960, trabalha imagens dos primeiros anos do cinema e textos contemporâneos compondo “uma meditação cómica, por vezes comovente, sobre a morte, a memória e o poder da imagem, da música e do texto para ressuscitar o passado” (Bruce Jenkins). SINCERITY (REEL ONE) é uma primeira exibição na Cinemateca.

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04/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento
Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
com Henrik Malberg, Emil Hass, Preben Lendorff Rye
Dinamarca, 1955 - 125 min
legendado eletronicamente em português | M/12
As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea
ORDET é, talvez, a obra cinematográfica que melhor põe em cena a questão da fé, construída inteiramente à volta da interrogação: a palavra (Ordet) pode chegar até Deus e Este responder-lhe? O crente, como Dreyer, diz que sim e ORDET (o filme) é a sua expressão. Sobre este filme, José Régio escreveu que era “uma apologia da fé levada ao extremo limite.” A apresentar em cópia digital.

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05/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento
Programa de curtas-metragens
duração total da projeção: 102 min | M/12
As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea
MESHES OF THE AFTERNOON
de Maya Deren
com Maya Deren, Alexander Hammid
Estados Unidos, 1943 – 14 min / sem diálogos

AT LAND
de Maya Deren
com Maya Deren, Alexander Hammid, John Cage, Parker Tyler
Estados Unidos, 1943 – 15 min / sem diálogos

RITUAL IN TRANSFIGURED TIME
de Maya Deren, Alexander Hammid
com Anaïs Nin, Rita Christiani, Maya Deren
Estados Unidos, 1946 – 15 min / sem diálogos

EAUX D’ARTIFICE
de Kenneth Anger
com Carmilla Salvatorelli
Estados Unidos, 1953 – 12 min / sem diálogos

ARABESQUE FOR KENNETH ANGER
de Marie Menken
Estados Unidos, 1961 – 6 min / sem diálogos

BELLS OF ATLANTIS
de Ian Hugo
com Anaïs Nin
Estados Unidos, 1953 – 10 min / legendado eletronicamente em português

MELODIC INVERSION
de Ian Hugo
com Anaïs Nin, Robert de Vries
Estados Unidos, 1958 – 8 min / sem diálogos

BLUE MOSES
de Stan Brakhage
Estados Unidos, 1962 – 11 min/legendado eletronicamente em português

THE DEAD
de Stan Brakhage
Estados Unidos, 1960 – 11 min / mudo

Pioneira do cinema de vanguarda norte-americano, nos anos quarenta Maya Deren realizou um conjunto de filmes marcados pela indefinição entre o sonho e realidade, inaugurando uma tendência fundamental do domínio do cinema experimental, os chamados “trance films”. MESHES OF THE AFTERNOON “está ligado às experiências interiores de um indivíduo. Não regista um acontecimento que possa ser testemunhado por outras pessoas”, escreveu Deren, que da mesma forma descreveu AT LAND, como uma “luta para manter a identidade de cada um”. No caso de RITUAL IN TRANSFIGURED TIME, o filme desenvolve-se por formas e gestos ritualísticos, desafiando o tempo e o espaço dos corpos filmados em diferentes cenários, em que a presença de Deren à frente da câmara tem mais uma vez um papel essencial. EAUX D’ARTIFICE, de Kenneth Anger, dá a ver uma mulher vestida com uma indumentária do século XVII, que se passeia entre as fontes de uma vila italiana até desaparecer entre as águas de uma delas. ARABESQUE FOR KENNETH ANGER, de Marie Menken, afirma-se como uma justa homenagem ao cineasta e ao seu modo livre de fazer cinema. No primeiro filme de Ian Hugo (BELLS OF ATLANTIS), a voz de Anaïs Nin, então sua mulher, desloca-nos para uma fantasia aquática e para a profundeza dos seres. Prosseguindo a tradição lírica que preside a esta sessão, MELODIC INVERSION coloca mais uma vez em cena Anaïs Nin afirmando a sua grande beleza plástica que muito influenciará THE DEAD. Nesse seu filme mudo, que evoca explicitamente a questão da morte, Brakhage sobrepõe imagens da arquitetura do cemitério parisiense Père Lachaise, um breve retrato de Kenneth Anger e imagens das margens do Sena registadas a bordo de um barco. Recorrendo a sobreposições, inversões negativas ou a uma montagem fragmentada que caracteriza vários filmes de Brakhage deste período, THE DEAD convoca uma assumida espiritualidade que reencontramos em BLUE MOSES, um dos seus raros filmes sonoros, cujo texto dito por uma personagem para a câmara nos transporta para uma outra dimensão.

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06/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento
Zorns Lemma | The Riddle of Lumen | Nostalgia (Hapax Legomena I: Nostalgia)
duração total da projeção: 115 min | M/12
As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea
ZORNS LEMMA
de Hollis Frampton
Estados Unidos, 1970 – 60 min /legendado eletronicamente em português

THE RIDDLE OF LUMEN
de Stan Brakhage
Estados Unidos, 1972 – 17 min / mudo

NOSTALGIA (HAPAX LEGOMENA I: NOSTALGIA)
de Hollis Frampton
Estados Unidos, 1971 – 38 min / legendado eletronicamente em português

ZORNS LEMMA, intitulado a partir de um conceito matemático, é um dos mais importantes e conhecidos filmes de Hollis Frampton, permanecendo a par de WAVELENGHT (Michael Snow) como um dos grandes exemplos do cinema estrutural, segundo um termo forjado por P. Adams Sitney. ZORNS LEMMA organiza-se em torno das letras do alfabeto, sendo as letras progressivamente substituídas por imagens. NOSTALGIA faz parte do ciclo mais vasto HAPAX LEGOMENA, obra em que Frampton se propõe fazer uma “autobiografia oblíqua” e uma “filogenia” da História do cinema, que concentra os temas principais do pensamento do autor sobre os paradoxos da imagem em movimento e a sua historicidade, ou sobre a passagem do tempo e a memória. NOSTALGIA centra-se nas relações que as palavras podem estabelecer com as imagens fotográficas, conduzindo-nos a uma dimensão invulgar. A rejeição do som é uma das características que atravessa a maior parte dos filmes de Brakhage, THE RIDDLE OF LUMEN, obra em que a luz tem também um papel essencial, foi realizado na esperança de um filme-resposta de alguém “que dialogasse com o [seu] enigma visual, à maneira dos poetas de outrora.” Esse alguém seria Hollis Frampton pois, como escreveu Sitney, “THE RIDDLE OF LUMEN foi já uma resposta ao modernismo sistémico de ZORNS LEMMA, especialmente à sua secção central (…). Era particularmente importante para Brakhage e para Frampton envolverem-se num diálogo sobre o lugar do cinema no modernismo.”

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07/07/2023, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Histórias do Cinema – P. Adams Sitney: Sexo e Espiritualidade na História do Cinema

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento
Zerkalo
“O Espelho”
de Andrei Tarkovski
com Margarita Terekhova, Ignat Danilcev, Larissa Tarkovskaia
URSS, 1975 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/12
As intervenções de P. Adams Sitney serão feitas em inglês, sem tradução simultânea
A quarta longa-metragem de Tarkovski é um dos pontos culminantes de toda a sua obra. Trata-se de um filme sobre a memória e sobre a palavra, em que um homem prestes a morrer lembra-se da sua infância, que surge diante da sua memória, como um espelho. Tarkovski assim resumiu o filme: “Os destinos de duas gerações sobrepõem-se no encontro entre a realidade e as lembranças: o do meu pai, do qual se ouvem poemas, e o meu. As imagens de atualidades do tempo de guerra, as cartas de amor do meu pai para a minha mãe, são documentos que moldaram a história da minha vida”. O filme mais pessoal e íntimo de Andrei Tarkovski. A apresentar em cópia digital.

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