CICLO
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)


O género explode, que nem dinamite, desde A FISTFUL OF DOLLARS/PER UN PUGNO DI DOLLARI (1964), primeiro tomo da popularíssima “Trilogia dos Dólares” da autoria do realizador mais amado do subgénero em questão, Sergio Leone. O western spaghetti começa quando o velho género entrava num período de hibernação na América, com fogachos importantes entretanto, é certo, mas era inquestionável que já ia longe o período áureo em que algum do melhor cinema clássico era sinónimo de faroeste, índios e cowboys, duelos ao pôr do sol e lutas de homens sós. O herói do spaghetti teve vários nomes, mas não foi Ringo (Giuliano Gemma), “The Stranger” (Tony Anthony), Sartana (Gianni Garko), Sabata (Lee Van Cleef) ou mesmo Django (Franco Nero, entre outros) e Trinità (Terence Hill) a produzirem o impacto mais estrondoso e duradouro na tradição do género. O “Homem Sem Nome”, encarnado por Clint Eastwood, parco em palavras e firme na ação de disparar primeiro e... nem fazer perguntas depois, serviu de molde ao novo herói e representa o segundo rosto nesta História do western depois de John Wayne ter dado corpo ao género durante a primeira metade do século XX.
Se Leone desempenhou um papel preponderante na definição das várias marcas do spaghetti, nomeadamente o seu tom operático (para o qual também contribuiu a música de Ennio Morricone) e as suas várias máscaras irónicas (a primeira das quais advém do “saque” produzido sobre um género tido como “o mais americano de todos”), importa destacar outros dois Sergios que muito contribuíram não só para a popularização como para a credibilização, quer dizer, para uma efetiva recredibilização do género: Sergio Corbucci e Sergio Sollima. Cineastas que se revelaram mestres do cinema de ação e de violência hiperestilizada (“No story, no scenes. Just killing.”, descreveu assim Bert Kennedy os “Spanish or Italian Westerns” a um cético e desinformado John Ford, numa conversa publicada na Films in Review em janeiro de 1969), e portadores de um discurso crescentemente amargo sobre a natureza humana ou a política dos homens (o western político, também conhecido como Zapata Western, reflete alguns problemas candentes na sociedade italiana no pico dos politicamente turbulentos “Anni di piombo”).
Alguns dos filmes mais densos, produzidos neste período em que dezenas de spaghettis eram distribuídos por ano, tiveram a assinatura de Corbucci ou de Sollima. A conclusão da segunda parte deste Ciclo é dedicada aos três Sergios, mas vai muito além deles (com obras de Giulio Petroni, Damiano Damiani, Robert Hossein, Tonino Valerii e Enzo G. Castellari), com o intuito de celebrar o spaghetti como subgénero de excelência ainda por redescobrir em pleno, mas também se afirma para lá dos estúdios da Cinecittà, mais concretamente, no campo do eurowestern e seus derivados, e significativamente no âmbito do cinema de autor internacional: face ao ressurgimento all’italiana, “contra-
-atacam” alguns dos autores cinematográficos mais promissores vindos dos quatro cantos do globo, nomeadamente do Chile, do Brasil, do México, de França ou da República Federal Alemã. Na conclusão desta segunda parte do presente Ciclo, ficaremos a perceber como é que realizadores tão díspares e “glocais” como Alejandro Jodorowsky, Glauber Rocha, Arturo Ripstein, Luc Moullet e Rainer W. Fassbinder continuaram a contar esta grandiosa História já perfeitamente desterritorializada e liberta da tutela e convocatórias do Tio Sam. E se foi fora da América que o sonho-pesadelo do western ganhou asas e verdadeiramente atingiu o topo?
 
01/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)

Django
de Sergio Corbucci
Itália, Espanha, , 1966 - 90 min
 
02/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)

Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo
O Bom, o Mau e o Vilão
de Sergio Leone
Itália, Espanha, República Federal Alemã, Estados , 1966 - 180 min
02/07/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)

Tiempo de Morir
de Arturo Ripstein
México, 1966 - 89 min
03/07/2025, 21h45 | Esplanada
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)

Faccia a Faccia
Cara a Cara
de Sergio Sollima
Itália, Espanha, 1966 - 111 min
04/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)

Da Uomo a Uomo
A Morte Vem a Cavalo
de Giulio Petroni
Itália, Espanha, 1967 - 114 min
01/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)
Django
de Sergio Corbucci
com Franco Nero, José Bódalo, Loredana Nusciak
Itália, Espanha, , 1966 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Depois de Clint Eastwood como “O Homem Sem Nome” e de Giuliano Gemma como Ringo, eis a terceira personagem mítica do western spaghetti: Django, personificado por Franco Nero, que se tornou uma vedeta popular nos anos 60 com este filme. Sergio Corbucci, um veterano que já realizara filmes em diversos géneros (peplums, comédias com Totò), segue astutamente as pegadas de Leone nestas aventuras de um homem solitário, que percorre o Oeste levando nas bagagens o seu caixão. E no final deixará atrás de si um rasto de morte e destruição: diz-se que, ao todo, terão sido 138 as mortes no filme, sendo que desde este filme inaugural mais de 30 títulos ostentaram a marca – e, neles, pontificará a persona – de DJANGO, sendo o mais recente DJANGO UNCHAINED de Quentin Tarantino.

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02/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)
Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo
O Bom, o Mau e o Vilão
de Sergio Leone
com Clint Eastwood, Eli Wallach, Lee Van Cleef, Rada Rassimov
Itália, Espanha, República Federal Alemã, Estados , 1966 - 180 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O último filme da trilogia dos dólares e do “Homem Sem Nome”. Foi realizado com um orçamento mais confortável do que os anteriores e o seu argumento conta uma caça ao tesouro enterrado num remoto cemitério, com rivalidades e traições. A ação tem como pano de fundo a Guerra de Secessão. A magistral sequência final, um duelo a três, é das mais célebres da obra de Leone. Como observou Rafael de España: “A trama é menos importante do que a maneira como está contada, o gosto pelos pormenores, as sarcásticas mudanças de tom, a evolução semelhante a de um road movie e, o que é mais importante, as referências aos dois filmes anteriores”. O filme foi lançado nos Estados Unidos ao mesmo tempo que os dois anteriores, transformando Clint Eastwood em vedeta no seu país e pondo fim à sua colaboração com Sergio Leone.

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02/07/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)
Tiempo de Morir
de Arturo Ripstein
com Marga López, Jorge Martínez de Hoyos, Enrique Rocha
México, 1966 - 89 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Partindo de uma história e argumento assinados por Gabriel García Márquez e Carlos Fuentes, o célebre realizador mexicano Arturo Ripstein rodou o seu filme de estreia com apenas 21 anos de idade e usufruindo de um apoio à produção prestado por seu pai, Alfredo Ripstein. Nota-se nesta primeira obra a influência de Luis Buñuel, com quem Ripstein trabalhou no início da sua carreira como assistente de realização: história de vingança, eminentemente fatalista, em tom elegíaco, próxima dos westerns melodramáticos de Anthony Mann, sobre um homem em busca de sossego após cumprir pena de 18 anos de prisão pela morte de um homem num duelo, mas os filhos deste último não esquecem nem perdoam facilmente. Primeira exibição na Cinemateca, a exibir em cópia digital.

A sessão repete no dia 21 às 21h45, na Esplanada.

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03/07/2025, 21h45 | Esplanada
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)
Faccia a Faccia
Cara a Cara
de Sergio Sollima
com Gian Maria Volontè, Tomas Milian, William Berger
Itália, Espanha, 1966 - 111 min
sem legendagem eletronica | M/12
Devido ao atraso da chegada a Lisboa da cópia do filme FACCIA A FACCIA (Sergio Sollima 1966), a exibir em contexto do Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II), não será possível apresentar nesta sessão o filme com a habitual legendagem eletrónica. O filme será exibido em cópia 35mm na versão internacional, falada em inglês.

A segunda exibição do filme (dia 10 de julho, 19h30) já contará com a legendagem eletrónica, como previsto.

Agradecemos a compreensão.
Um choque de titãs à frente e atrás das câmaras: Gian Maria Volontè cara a cara com Tomas Milian (que voltaria a trabalhar com Sollima em LA RESA DEI CONTI e CORRI UOMO CORRI, filmes que formam com FACCIA A FACCIA uma trilogia sobre a violência, o poder e a revolução), atores com visões políticas diferentes e, neste filme, resolvendo as suas diferenças on screen. Brad Fletcher (Volontè), um professor de História obrigado a reformar-se devido à sua fraca condição de saúde, é sequestrado pelo infame bandido Solomon Bennet (Milian). Só que, neste western político, as personagens extravasam as velhas categorias do bom e do mau, de tal maneira é assim que o “bom professor” não resistirá ao fascínio por uma vida no mundo do crime e, em particular, pela dinâmica do gang liderado por Bennet. Primeira exibição na Cinemateca.

A sessão repete no dia 10 às 19h30, na sala Luís de Pina.
 
04/07/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: Era Uma Vez... O Western (Parte II)
Da Uomo a Uomo
A Morte Vem a Cavalo
de Giulio Petroni
com Lee Van Cleef, John Phillip Law, Mario Brega
Itália, Espanha, 1967 - 114 min
legendado eletronicamente em português | M/12
É um dos filmes mais definidores da persona de Lee Van Cleef no western, antecipando a criação da sua famosa personagem, Sabata. Cleef interpreta um ex-condenado à procura de vingança junto dos bandidos que o atiraram para a cadeia e cujo destino se cruza com o de um jovem (John Philip Law) igualmente sedento de fazer justiça pelas próprias mãos tendo como alvo esse mesmo gang. Como é que ambos se vão concertar nesta história crua e violenta de vingança? Como escreveu o crítico americano J. Hoberman, “Trata-se de um perverso buddy film (...) desenrolado num mundo distintamente primitivo (...)”. A banda sonora de Ennio Morricone (invocada por Tarantino em KILL BILL) confere pathos a este perfeito exemplar do western spaghetti. Primeira exibição na Cinemateca.

A sessão repete no dia 14 às 19h30, na sala Luís de Pina.

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