24/05/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Filmes de Ernie Gehr
Programa 1
duração total da projeção: 90 min | M/12
com a presença de Ernie Gehr
MORNING
Estados Unidos, 1968 – 4 min / mudo
WAIT
Estados Unidos, 1968 – 7 min / mudo
REVERBERATION
com Andrew Noren, Margaret Lamarre
Estados Unidos, 1969 – 23 min / som
TRANSPARENCY
Estados Unidos, 1969 – 11 min / mudo
FIELD
Estados Unidos, 1970 – 9 min / mudo
HISTORY
Estados Unidos, 1970 – 36 min / mudo
de Ernie Gehr
Uma sessão composta pelos primeiros filmes de Ernie Gehr, que traduz a sua atenção muito particular à matéria das imagens, a luz. Em MORNING, obra inaugural de Gehr, a luz da manhã flui através da grande janela do seu apartamento, que a filtra com a câmara, fazendo-a pulsar entre o brilho extremo e a escuridão, e revelando este espaço doméstico como a camera obscura do cineasta. Os objetos aparecem e desaparecem no negro, numa meditação sobre a perceção e a materialidade do cinema. A luz ocupa ainda o centro de WAIT, o outro filme que, conjuntamente com MORNING, Jonas Mekas descreveu como uma “light narrative”. A luz pulsa em redor de duas figuras sentadas, resultando este efeito de um modo muito particular de expor cada fotograma e de projetar as imagens à cadência do cinema mudo, uma caraterística recorrente na obra de Gehr. REVERBERATION, o único filme com som da sessão, desenvolve-se nas ruas de Nova Iorque. Sobre ele Michael Snow escreveu: “A relação imagem-som é uma das mais intensas que já experimentei: o som tem uma massa, é contínuo, com bordas ásperas. Essa mancha preta e branca é igual a uma rocha. (…) Alguém vê e ouve os átomos rodopiantes sob as imagens de ruas, prédios, pessoas.” A ênfase não está no casal que Gehr retrata nas ruas da cidade, mas na relação dos seus corpos com a luz e o espaço. Filmado com uma câmara sem lente e com um tecido negro à frente da câmara que produz uma imagem necessariamente abstrata assente nas variações do grão fílmico face à luz, TRANSPARENCY revela-nos as puras vibrações da química fotográfica. Já em FIELD, os movimentos de câmara transformam completamente o espaço. ”Gehr deliberadamente transformou a paisagem natural num paradoxo percetivo.” (P. Adams Sitney). Primeiras apresentações na Cinemateca.
25/05/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Filmes de Ernie Gehr
Programa 2
duração total da projeção: 77 min | M/12
com a presença de Ernie Gehr
EUREKA
Estados Unidos, 1974 – 30 minutos / mudo
SERENE VELOCITY
Estados Unidos, 1970 – 23 min / mudo
TABLE
Estados Unidos, 1976 – 15 min / mudo
SHIFT
Estados Unidos, 1972-74 – 9 min / som
de Ernie Gehr
EUREKA assenta num trabalho de refilmagem de um filme mudo que retrata Market Street em São Francisco, em 1906. Gehr apropria-se de um plano-sequência registado a partir de um elétrico, produzindo um travelling extremamente lento que nos assombra mediante a dilatação da sua duração e uma exacerbação dos contrastes da imagem. Um trabalho de arqueólogo que ressuscita as sombras de outra época. SERENE VELOCITY é considerada uma das obras mais marcantes do chamado “cinema estrutural” (P. Adams Sitney), garantindo a Gehr um lugar destacado entre a sua geração. Uma obra que subverte um espaço e a sua perceção ao criar um impressionante movimento frontal pela alteração constante de distâncias focais numa lente zoom, enquanto a câmara se fixa num corredor vazio. Em SERENE VELOCITY Gehr transforma assim a geometria de um corredor modernista numa paisagem pulsante. Como escreveu J. Hoberman, TABLE “é um equivalente em celulóide de uma natureza morta cubista. O tema é uma comum mesa de cozinha, uma desordem caseira de loiças e utensílios. Por 16 minutos, Gehr alterna dois pontos de vista fixos ligeiramente diferentes, acentuando os planos individuais através do uso de filtros azuis ou vermelhos (e às vezes nenhum filtro). Esse procedimento simples transforma a imagem numa confusão hipnótica e gaguejante”. E se Hoberman define ainda TABLE como da ordem da “pura sensação visceral” apresenta SHIFT como mais dramático, sendo que os seus atores são todos mecânicos. SHIFT, na sua espirituosa sobreposição dos elementos urbanos – séries de carros, camiões, uma rua da cidade com três faixas – e de cores, foi já aproximado a Mondrian. Com exceção de EUREKA, todos os filmes são apresentados pela primeira vez na Cinemateca.
26/05/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Filmes de Ernie Gehr
Programa 3
duração total da projeção: 96 min | M/12
com a presença de Ernie Gehr
SIGNAL – GERMANY ON THE AIR
Estados Unidos, 1985 – 35 minutos / som, sem legendas
MIRAGE
Estados Unidos, 1981 – 10 min / mudo
REAR WINDOW
Estados Unidos, 1991 – 10 min / mudo
SIDE/WALK/SHUTTLE
Estados Unidos, 1991 – 41 min / som, sem legendas
de Ernie Gehr
Realizado numa primeira viagem a Berlim, SIGNAL – GERMANY ON THE AIR marca uma mudança significativa na obra de Ernie Gehr. É o filme de um reconhecimento, uma tentativa para perceber a estrutura mental da organização de uma cidade na sua relação com os resquícios do seu passado. Com as suas faixas de cores improváveis resultantes de uma substituição da lente da câmara Bolex por um bocado de plástico encontrado no lixo, MIRAGE já foi descrito como um dos mais belos filmes de Gehr. “O material resultante é certamente a mais desorientante negação da perspetiva renascentista conseguida por um filme desde HISTORY” (J. Hoberman). Como explicou Ernie Gehr em 1993, “as imagens de REAR WINDOW foram filmadas em 1985/86 pela janela traseira do nosso apartamento no Brooklyn. A morte do meu pai e um trabalho anterior, SIGNAL – GERMANY ON THE AIR, ainda estavam na minha mente quando este filme foi iniciado. Coloquei as minhas mãos em concha na frente da lente da câmara e tentei criar luz, cor e imagem táteis. O trabalho evolui de um jogo entre os ‘elementos’ para provocar uma ‘tempestade’ do nada.” SIDE/WALK/SHUTTLE é um vertiginoso estudo das topografias peculiares de São Francisco, revelando-se como uma pura sinfonia urbana inspirada pelo interesse do cineasta pela paisagem citadina e por reflexões em torno de uma vida em constante movimento, com as recorrentes memórias dos lugares habitados. Registado através de um elevador de vidro de exterior, nas suas subidas e descidas, e explorando as suas possibilidades visuais e gravitacionais, Gehr produziu um objeto desorientante. Todos os filmes são apresentados em cópias em película recém-restauradas. Primeiras apresentações na Cinemateca com exceção de SIGNAL.
27/05/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Os Filmes de Ernie Gehr
Programa 4
duração total da projeção: 65 min | M/12
com a presença de Ernie Gehr
ESSEX STREET MARKET
Estados Unidos, 2004 – 27 min / mudo
NOON TIME ACTIVITIES
Estados Unidos, 2004 – 21 min / mudo
WORKERS LEAVING THE FACTORY (AFTER LUMIÈRE)
Estados Unidos, 2004 – 12 min / mudo
GREENE STREET
Estados Unidos, 2004 – 5 min / mudo
de Ernie Gehr
ESSEX STREET QUARTET é composto por quatro partes independentes, mas interrelacionadas. O seu material foi registado em 16mm no início dos anos 1960 em Nova Iorque, mas só foi montado depois de ter sido transferido para vídeo em 2004, assinalando-se assim a transição da película para o vídeo no trabalho de Gehr e constituindo o material de origem o “arquivo de imagens” a que recorre o cineasta. ESSEX STREET MARKET, a primeira parte, regista imagens e momentos num mercado no Lower East Side, assim como algumas cenas na rua à volta desse espaço. NOON TIME ACTIVITIES documenta atividades à hora de almoço nos balcões e nas ruas do distrito financeiro em Lower Manhattan. WORKERS LEAVING THE FACTORY (AFTER LUMIÈRE) revela-nos movimentos nos túneis subterrâneos do metro. GREENE STREET, a última parte do quarteto, documenta a “vista de uma janela nas vibrantes cores da película Kodachrome: destacando telhados, cores de ferrugem industrial e a magia do cinema” (Gehr). ESSEX STREET QUARTET afirma-se simultaneamente como uma homenagem ao cinema dos primórdios e como uma celebração de ritmo e de cor.
28/05/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Filmes de Ernie Gehr
Programa 5 | Conversa com Ernie Gehr
entrada livre, mediante levantamento de ingresso na bilheteira
Conversa antecedida pela projeção do filme STILL (1969-71, 55’)
(em inglês, sem tradução simultânea, moderada por Joana Ascensão)
Uma conversa/conferência em que Ernie Gehr abordará o seu trabalho e respetiva evolução, desde os primeiros trabalhos rodados em película, às curtas-metragens em suporte digital. STILL, filme realizado na transição para a década se setenta, foi a obra escolhida pelo cineasta para introduzir esta conversa. Em STILL Gehr detém-se sobre uma vista de uma rua nova-iorquina, que transforma através de complexas sobreposições para interligar presente e memórias do passado. “Curiosamente, o sublime natural volta ao cinema por associação. A agitação das linhas e as torres de sombras sugerem águas em cascata, montanhas e florestas de pinheiros ", escreveu P. Adams Sitney. Uma descrição que revela bem a profunda coerência da obra do cineasta.