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Assunto: Programação
Data: 18/06/2025
Regresso às sessões na esplanada, à luz de Eduardo Serra e ao oceano Bulle Ogier
Regresso às sessões na esplanada, à luz de Eduardo Serra e ao oceano Bulle Ogier
Entrados finalmente no verão nada melhor do que regressar às noites de cinema ao ar livre na esplanada da Cinemateca. Além do cinema na esplanada, com sessões que integram títulos dos vários ciclos do mês, em julho as propostas passam por homenagear dois nomes maiores do cinema europeu (o diretor de fotografia português Eduardo Serra e a atriz francesa Bulle Ogier), dar por encerrada a retrospetiva dedicada a Michael Curtiz, iniciada no início do ano, oferecer uma carta branca a David Stenn e conhecer o Velho Oeste através do olhar estrangeiro, em grande parte revisitando o western spaghetti, um subgénero do western tradicional altamente explosivo, marcado a ferro, fogo…e muito sangue e dinamite. Eis os destaques de julho na Cinemateca.
 
A luz de Eduardo Serra, o mais internacional dos diretores de fotografia portugueses, nomeado duas vezes para os Oscares de Hollywood (em 1997, por THE WINGS OF THE DOVE, de Iain Softley, e em 2003, por GIRL WITH A PEARL EARRING, de Peter Webber), volta aos ecrãs da Cinemateca depois de uma mostra do seu trabalho em 2005 (em contexto da série “Grandes Diretores de Fotografia do Cinema Português”) e da homenagem de 2014, quando foi agraciado com o Prémio Carreira da Academia Portuguesa de Cinema. Em julho regressamos ao trabalho de Serra, que iniciou a sua carreira nos anos 1970 como operador de câmara e assistente de imagem em filmes de realizadores como Alain Cavalier, Francis Girod ou Patrice Leconte, lançando as bases de uma carreira que o levaria a ser diretor de fotografia de referência a nível mundial, trabalhando em filmes de cinema popular, obras de cinema de autor ou em grandes blockbusters (é dele, por exemplo, a direção de fotografia dos dois últimos filmes da saga Harry Potter). Esta mostra engloba exemplos dos vários meios onde trabalhou, do cinema português ao cinema de Hollywood, passando pelo seu trabalho em França e Inglaterra. O início da retrospetiva Eduardo Serra, “Interpretar um texto com Luz” arranca com uma sessão que reúne três documentários pouco vistos assinados pelo próprio Eduardo Serra.
 
“Oceânica”. Assim foi definida Bulle Ogier por Marguerite Duras quando se referiu ao trabalho da atriz em LE PONT DU NORD, de Jacques Rivette. Esta definição da escritora-realizadora, que trabalhou com Ogier em vários filmes e peças que dirigiu e encenou, é o mote para um ciclo dedicado àquela que é considerada por muitos como uma das maiores atrizes de teatro e cinema franceses de todos os tempos. Depois de um percurso de formação pouco convencional, fortemente influenciado pela sua ligação a Marc’O, vulto maior do universo intelectual e artístico francês da sua geração (foi, em simultâneo, um dos escritores ligados ao lettrisme, encenador de teatro e cineasta), Bulle Ogier estreia-se no cinema no final da década de 1960 com L’AMOUR FOU, de Jacques Rivette, com quem iria colaborar em alguns dos títulos mais radicais da carreira do cineasta. Desde então, trabalha em filmes de realizadores como André Téchiné, Daniel Schmid, Barbet Schroeder, Philippe Garrel, Luis Buñuel e Manoel de Oliveira, entre muitos outros, das mais variadas gerações, até aos dias de hoje. Em julho iremos constatar como esta atriz foi alguém capaz de ter uma presença ao mesmo tempo etérea e de uma força avassaladora nos vários filmes em que participou.
 
No segundo tomo da segunda parte da revisitação a um dos géneros mais clássicos do cinema americano, o western, fazemos um violento desvio pelos olhares estrangeiros sobre o Velho Oeste. A fatia de leão, como não poderia deixar de ser, caberá aos filmes saídos da lente italiana do western spaghetti, que transformou as paisagens do deserto de Almería e outras localidades espanholas em cenários de cidades sem lei sujas e inóspitas, onde o sangue jorrava a rodos, com pronúncia latina e o som característico das bandas sonoras de Ennio Morricone. Este capítulo está assim praticamente reservado para os principais heróis do género, de Django a Ringo, de Sabata a Sartana, sem esquecer o “Homem Sem Nome” de Eastwood e Leone, a quem juntamos um punhado de fitas assinadas por Alejandro Jodorowsky, Glauber Rocha, Arturo Ripstein, Luc Moullet e Rainer W. Fassbinder.
 
Em julho, propomos ainda uma carta branca a David Stenn. Amigo próximo da Cinemateca, a quem ofereceu recentemente um scanner de alta resolução, equipamento essencial para o trabalho de digitalização de filmes portugueses diariamente desenvolvido no ANIM, Stenn tem uma longa carreira no cinema e televisão norte-americanos, onde desempenhou funções de realizador, argumentista e produtor, além de ter escrito seminais biografias de Clara Bow e Jean Harlow. Um programa composto por uma dezena de filmes, todos bastante ecléticos e com “algum significado para mim, muitas vezes uma história que tenho sobre eles e que as pessoas não conhecem”, descreve o autor desta carta branca, que estará em Lisboa para apresentar algumas das sessões.
 
Por fim, dá-se por encerrada a retrospetiva dedicada a Michael Curtiz, com filmes realizados pelo autor de CASABLANCA nas décadas de 30, 40 e 50, e destacam-se duas sessões a marcar na agenda. A primeira é no dia 5, a propósito do lançamento do catálogo Eduardo Geada – O Olhar do Desejo, em que será exibido PAPER MOON, de Peter Bogdanovich, a propósito do qual Eduardo Geada escreveu o ensaio “Quem É Peter Bogdanovich?”, incluído no catálogo. No dia anterior, tem lugar na esplanada a sessão de antecipação da retrospetiva conjunta da Cinemateca com a edição deste ano do Doclisboa, este ano dedicada a William Greaves.